Recebi umas visitas e a tarde ia pelo meio.
Vocês sabem, descendente de italianos gosta de agradar,
Recebi umas visitas e a tarde ia pelo meio.
Vocês sabem, descendente de italianos gosta de agradar,
Ele tava
lá, de novo,
com cara de fim de feira e alma de segunda-feira chuvosa.
Sentado num restaurante de beira de estrada,
encostado no balcão como quem espera um milagre
num pão de queijo murcho.
Pediu uma
cerveja - cansado do café com leite.
Bravo! Evoluiu, pensei.
A TV vomitava aqueles clipes de amor-fitness:
bundas saradas em câmera lenta,
gritos de amor eterno embalados por batidas ensurdecedoras.
Ele
pirando.
Pensamento aos pulos,
feito palhaço bêbado dentro da própria cabeça.
Olhou pro lado e resmungou:
- Se isso é amor, o resto deve ser o apocalipse com glitter.
Achei
bonito. Trágico.
Mas bonito.
No
balcão, um jornal.
Guerra daqui, ameaça dali,
líderes brincando de roleta-russa com o planeta.
Ele ficou puto.
Queria explodir tudo com palavras,
mas só conseguiu amaldiçoar o mundo em voz baixa:
- Que cloaca é esse lugar ao qual pertenço!
Foi aí
que entrei.
Sim, eu. Lau.
A deusa. A musa. A miragem com GPS embriagado.
Apareci
no meio do surto,
acionei o pisca-alerta da alma dele.
Mas rapidinho tudo apagou.
Ficou só uma tela branca,
o vazio depois da última notícia,
o silêncio entre um gole e outro.
Então,
soprei cor no vazio.
Pintei um portal com batom e coragem.
Agarrei a mão dele.
- Vem, Cadelão. Vamos fugir dessas guerras ridículas.
Ele veio.
Meio bambo, meio cético.
Mas veio.
E foi ali, enquanto o mundo ruía atrás de nós,
que ele sorriu e entendeu:
o amor
não precisa ser um cão dos diabos,
como
disse Bukowski!
(B. B. Palermo)
Estava deitado no banco da praça,
meio down, sem propósito.
Um pombo ciscava ao lado.
Um casal discutia a relação ali, a poucos metros.
Uma criança gritava "olhem!" no escorregador.
E eu? Seguia firme, encarando o céu
como quem busca um sentido pra vida.
Um senhor importante do Texas passou, de terno e suor
e ansioso pra chegar no clube e jogar sua bocha.
- E aí, Palermo, outra vez sem fazer nada?
- Não... Estou tri-ocupado, olhando as nuvens.
- Isso não serve pra nada!
- Nem eu. Por isso nos damos tão bem.
O desalmado resmungou e foi embora, carregando nenhuma culpa
por sempre ter razão.
Olhei para o céu e vi umas nuvens de algodão
cochichando-me, com suas cândidas imagens:
- Vai, Palermo, chegou a hora de cuidar do teu jardim!
Esfreguei os olhos, espantado.
- Vamos, levanta-te! A velhice bate à tua porta
e, mesmo assim, nada tens feito para ser
alcançado pelo amor!
(B. B. Palermo)
Nenhum drama existencial ou moral.
Nessa madrugada você encarou
algumas garrafas e alguns poemas duvidosos
que você jura que são bons.
Você não copiou,
não imitou,
teve coragem e sentou no vaso
e dê-lhe descarga na originalidade.
Sabe que não vai encontrar
estilo nem classe
nesses poetas engomados,
muitos empilhando prêmios literários
e performando em dezenas de palestras
nas universidades,
onde poucos ouvem, poucos se divertem.
Fique down,
não negocie com Dona Morte,
não dê chances ao suicídio.
Você nunca será homenageado
com uma estátua
ou como nome de rua.
Pra dar vida à sua arte,
faça como eu:
me encanto ao contemplar, de longe,
jovens garotas policiais
com suas algemas,
pistolas,
cassetetes e lábios
levemente
lambuzados
por batons discretos.
A intuição me diz
que suas fardas
bem passadas
aprisionam feras
que desejam muito mais
do que manter a ordem nas ruas
– e gritam, sem dó, “pra parede!”
pra uns pobres de periferia.
Sei outras coisas cabeludas,
sei muito do que rola e que não imaginais
– seus ingênuos malditos –
e por isso as persigo camuflado
pelos troncos das árvores
ou por sombras diabólicas
depois da meia noite.
Quando não estou desvairado
não arrisco nenhum verso imortal.
Eu me recolho cedo,
faço minha oração
e me calo.
(B. B. Palermo)
Ele andava pela vida com um mantra desajeitado: - Quem eu quero não me quer. Quem me quer mandei embora. E as colegas, todas muito boazi...