quarta-feira, 2 de julho de 2025

O buraco é mais embaixo


Recebi umas visitas e a tarde ia pelo meio.

Vocês sabem, descendente de italianos gosta de agradar,

inclusive servindo aos caras uma mesa farta.
Fiz o mais prático: fui à padaria e comprei coxinhas, pasteizinhos, risoles, croquetes, etc., etc.
Duas garotas, a caixa e a empacotadora, sorriram e então saquei que o momento merecia um brinde.
Apanhei 3 balas de uma enorme taça de plástico próxima à caixa registradora e ofereci às garotas.
Assim que me vi na rua, levei uma bala à boca.
Delícia, tinha sabor de torta de limão com uma ponta de frescor artificial,
daquele tipo que lembra infância ou chiclete vencido.
Não era muito dura, mas grudaria nos dentes se mordesse em vez de chupar.
É por isso que eu sempre digo: desfrute o doce, sinta o seu sabor... (E isso não tem qualquer conotação sexual... hehehe).
Se mastiga sem pensar, já era.
O doce se vai e nem deixa bilhete.
Ainda bem que não mordi a bala com voracidade, porque daí a pouco
notei algo estranho, metálico, roçando e tilintando em meus dentes.
Apanhei aquela massa contendo em seu interior um objeto duro...
Puta que pariu! Era um dente!
Dei uma cusparada contra o muro, enrolei aquele dente na casca da bala e verifiquei a marca: Delícia Super Lemon - o sabor que morde de volta.
Estava a uns 50 metros da padaria. Retornei.
As atendentes, a senhora da fila com bobes na cabeça, um motoboy segurando um Danone e até o padeiro lá do fundo pararam para ouvir o meu relato.
Como um dente foi parar no meio de uma simples bala?
Uma garota que estava na fila ficou admirada.
- Nossa, parece que ele é de ouro!
Pedi outra bala de brinde, cogitei processar o fabricante.
Nessa hora, lembrei do Silveirinha, meu amigo advogado.
Especialista em arrancar indenizações como se estivesse extraindo dentes podres de empresas distraídas.
Para deixar o ambiente mais relaxado, disse à empacotadora, jovem e bonita e simpática, que aquilo era nojento.
A garota sorriu, nuns tons amarelados.
- Sim, isso é muito nojento!
Tomei o rumo de casa chupando cuidadosamente a bala
que agora tomava o céu de minha boca.
Deixei o seu sabor em segundo plano, pra não ter vontade de vomitar.
Dobrei a esquina, ainda com gosto de torta de limão.
Passei a língua no canto da boca.
O buraco era meu.

(B. B. Palermo)

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