Baixou um temporal
e as cachorras do
prédio ao lado
dançam na sacada,
bêbadas.
A namo está distante,
e não sei expressar
direito
o amor que sinto por
ela.
Sujeitinho bipolar,
minha energia louca
fica mais corrompida
a cada taça de vinho.
A inocência ridícula
contempla o umbigo
e faz planos,
vai baixar a barriga,
turbinar a
musculatura
e atrair olhares e
corpos
de algumas princesas.
Planos não levam a
nada,
Buk já dizia, QUERO
AÇÃO,
MENOS BEBEDEIRA
E MAIS INSPIRAÇÃO!
Pouco leio, pouco
escrevo,
quando saem algumas
linhas tortas
amasso a folha e
acerto a lixeira.
Há também a vergonha
matutina
de bater de frente
com o que escrevi
na noite anterior,
depois de duelar com
algumas garrafas
de vinho
barato.
Paira no ar uma louca
intuição:
sentir a presença do
velho poeta
em meio a folhas e
guardanapos rabiscados,
porres e amores
frustrados.
Escolhi O Notas de um velho safado
pra me fazer
companhia.
O cômico me observa,
compenetrado,
sobre a mesa.
Hoje percebi que boa
parte de suas folhas
estão molhadas pelo
vinho
que entornei ontem de noite.
Não tem outro jeito:
abro-o pelo meio
e o penduro atrás
da geladeira.
Se ele secar direitinho,
prometo parar de beber.
Sei que estou blefando,
sei que sou tão desvairado
quanto ele.
Minha vida anda bagunçada
Igualzinha ao meu cafofo,
entupido de latas
e garrafas vazias.
Minha alma bêbada
está presa às redes do subsolo,
rasteja por aí,
é ao mesmo tempo
crente e cética.
O Velho Safado
desencantou minha vida
com armadilhas
etílicas
e poéticas.
(Américo Piovesan)