bêbados gostam de tocar
abraçar
acariciar
uns carentinhos
que adoram cães abandonados
circulando próximos
aos bares
animaizinhos
bem alimentados
com olhar mais leve
e alegre
do que os pobres
que estão vigiando
pátios
(B. B. Palermo)
bêbados gostam de tocar
abraçar
acariciar
uns carentinhos
que adoram cães abandonados
circulando próximos
aos bares
animaizinhos
bem alimentados
com olhar mais leve
e alegre
do que os pobres
que estão vigiando
pátios
(B. B. Palermo)
Parece patético, eu sei,
mas estou sem papel
para aprisionar alguma
assombração
que rondar a mente.
Papel higiênico tem,
papel de parede
no cafofo também tem,
inclusive guardanapos.
Papelões de conhecidos doidos fazendo cócegas
em meus poemas,
nem se fala.
Restou o calendário
de 2022 que a senhoria
pendurou
na parede da sala.
Como o ano está findando,
reservei suas folhas
para rabiscar eventos hilariantes
que vivi
e os papelões que colecionei,
e que um dia saberei se foram
fundamentais
em minha história.
Vontade de rir ou chorar
eu tenho de montão,
muito mais do que os estoques
de folhas em branco que possa
comprar.
(B. B. Palermo)
Pessoas enlouquecidas,
vespas foram expulsas por tochas de fogo,
criaturas gritam exageradas
e até desesperadas
uns bullyings sofridos na infância.
Fãs de inteligências "superiores",
lembram e idolatram Hitler,
e odeiam os que leem livros.
Dizem que Machado de Assis, ao escrever Dom Casmurro, sabia Com certeza! que Bentinho
foi chifrado por Capitu.
Quando cheguei no bar
e o maluco veio em minha direção,
o garçom falou:
Não entre na paranoia dele,
é um louco!
Mas se você quer criar boas histórias,
tipo as do Nelson Rodrigues,
então preste muita atenção.
(B. B. Palermo)
Numa
das artérias principais da cidade,
um
Ford T 1929 (primeiro carro do meu finado pai),
passou
exibindo um Papai Noel magrinho,
constrangido,
vestindo
roupa vermelha.
Foi
sorte haver pouca gente na rua.
Seria
terrível ver o pobre
ser
bombardeado
por
pedras arremessadas
por
patriotas
enlouquecidos.
(B. B. Palermo)
Última
semana por aqui,
estou
me despedindo das coisas.
Olho
pra geladeira e lembro dos latões de cerveja
que
"explodiram" no seu congelador, nas madrugadas,
deixando
um rastro de manchas nas partes internas
de
suas portas.
São
várias as tatuagens do fogão,
manchas
de gordura, panelas quase queimando,
enquanto
o ridículo cochilava embriagado no sofá.
Há
centenas de marcas também na mesa de madeira,
afinal
ela está comigo faz umas 3 décadas.
Nela
eu estudo, eu como e bebo.
A
cama, idem. É incrível como ela sobrevive,
basta
bater uns pregos e apertar os parafusos
da
cabeceira.
O
guarda-roupa é o soberano do quarto,
tem
uma parede só para si,
e
reclama que foi pouco lustrado, teve pouco brilho,
embora
nunca tenha sido atacado pelos cupins.
A lareira me acompanha há umas 2 décadas e meia.
Sem
ela, as noites de inverno seriam terríveis
para
o poeta.
4
estantes guardaram os livros, uns bons,
outros
ruins e outros mais ou menos.
Fiz
questão de colocar os meus, "publicados",
junto
aos livros do Dostoievski, do Hemingway
e
do Bukowski.
O
maluco que agora se despede
nunca
foi internado em clínicas psiquiátricas,
não
lembra se um dia usou drogas,
tem
visão e audição em razoável estado de conservação,
tamanha a sua idade.
Acelera, Cadelão!
(B.
B. Palermo)
Pena que Alice não sabe
que
nos conhecemos
no
País das maravilhas.
Perdeu
a memória
e
diz que em toda a sua vida
foi
uma diarista.
Chora
o aluguel atrasado,
os
crediários e mais um fim de ano
que
se aproxima.
Suas
paixões adolescentes já faz um bom tempo
que
foram esquecidas.
Alice
é plena,
em
seus olhos pulsam oceanos
de
vida.
Alice
não sabe, e isso é uma pena,
que
tem o poder de desatar os nós
em
que me enredei
durante
toda a minha
vida.
(B.
B. Palermo)
Talvez
não devesse dizer,
mas
estou apaixonado por você.
Isso
é meio bobo,
eu
sou totalmente bobo,
mas
eu preciso dizer,
até
porque hoje estou aqui
e
amanhã
estarei
noutro lugar.
Estou
poetizando, eu sei,
é
que sou um seguidor do
Fernando
Pessoa,
que
nunca soube que eu existo.
Podes
rir, ainda acredito
que
um dia vou encontrar
o
meu lugar.
Eu
não devia dizer,
mas
é que sou meio bobo.
(B.
B. Palermo)
Beiço,
ontem de tardinha eu e o K. Marx
fomos
até a casa do Carleone.
O
maluco passou alguns dias no hospital
restaurando
tubos e conexões
que
distribuem o sangue do seu coração
para
o resto do corpinho.
Meu,
tive que dar conta de todos os latões de cerveja
que
estavam na geladeira,
já
que ele está proibido de beber.
Véio,
é sério, morri de inveja
do
desgraçado.
No
hospital, esteve rodeado e paparicado
por
uma legião de lindas garotinhas - as médicas
e
enfermeiras.
Cara,
se eu pedir pra ser internado
será
que vão me chamar de
hipocondríaco?
(B.
B. Palermo)
-
Como tu está, meu gatinho?
-
Tirando a preguiça, a velhice e o alcoolismo,
me
sinto ótimo, baby. Traga a tua lanterna,
que
o dia clareou observando sabiás acasalarem
e
gatas no cio
nos
vigiam.
As
noites de novembro são um saco
e
os bares andam sem graça.
Acenda
a tua luz
antes
que o cérebro exploda
e
o coração vire pedra.
Baby,
dessa vez pinte nossa casa
com
as cores certas,
e
pare de jurar que a tua rotina
é insuficiente para nos
derrubar.
(B.
B. Palermo)
A
banda Ira consegue acalmar
um
lúcido bebum.
Talvez
signifique alguma coisa.
Não
tem como fugir das tragédias,
vejo
no Face, nos sites ou de amigos que me ligam.
Suicídios,
o câncer, os negócios estranhos,
listas
de inimigos fantasmas.
Não
compreendo o fato de ainda ser
um
otimista
estranho.
A
música desses caras ajuda
a
suportar.
(B.
B. Palermo)
Sombras
clandestinas
cheiram
a urina,
mentiras
maravilhosas
alegram
ratões
idiotas.
A
merda desce faceira
e
a todos comove
pelas
tubulações do Whats.
Torço
para que a bateria do celular volte a ser virgem
e
perca sua luz.
Me
recolho no quarto escuro
e
sozinho me sinto bem.
Uma
frase explode na cabeça,
agora
de manhã,
segundo
tempo do meu sono:
"Alegre-se,
talvez alguém se lembre de você
quando
morrer".
(B.
B. Palermo)
As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...