Outro dia prometendo afastar-se do
álcool,
perguntando das chances com a baixinha
parruda
devoradora de histórias
frustradas
e postagens e fotos pra cima,
no Facebook.
Lembro duma balconista que esbarrei num site de namoro e
que se queixou do casamento.
Quase todas e todos
queixam-se de seus relacionamentos.
Muita gente investe dezenas de milhares de reais
numa festa de
casamento.
Trajes e decoração e comes e bebes e fotos e
filmagens.
São tempos românticos, e
o amor é engarrafado e
rotulado e é um belo sonho.
O que você tem com isso?
Você faz contatos imediatos e
busca uma janela
casual.
O Tinder é ótimo.
Fisga uma em que o marido trabalha no pesado e
ao chegar em casa exausto
não dá atenção pra mulher e pras
crianças.
Você insiste, está disponível, mas ela ainda está agarrada às cortinas do
matrimônio,
ou possuída pelo orgulho.
Quando estava a fim, você deu a
mínima.
Algumas cervejas e você não quer saber de reflexões
éticas
ou estéticas ou políticas.
Você se diz do bem,
mesmo sendo vazio como caixa de papelão
que aguarda o lixeiro diante da
loja.
Numa pontinha de discernimento, reconhece o esforço
dessas
guerreiras
em se manterem íntegras diante do observatório
social.
A hora escapa, já passa da meia noite e não é justo
você abduzir do
lar
uma diva que está numa boa com sua rua e
seu bairro
e que labutou das sete às sete, mais a creche das
crianças e
padaria e mercado.
Não é justo, apenas você bebeu e transcendeu e
brinca de
roleta russa e
quase acredita que todos - menos você - se levam a
sério demais.
Podes ser meio vazio, quase uma
caixa abandonada
diante da loja,
mas bota fé no currículo,
além das lembranças
que vais carregar até o juízo final.
Lembranças singelas,
como contemplar a chuva
pela janela de casa,
na infância.
Uma imagem anterior aos boletins escolares e
à Primeira Comunhão e às punhetas fodásticas,
entrando em cena a professora de literatura,
ela,
sempre ela,
conduzindo a carruagem do imaginário
e libertando os primeiros jatos de
porra.
Uma chuva enlouquecida
verte goteiras nesse bar
onde me escondo e
deixa os cabelos da garota muito
brilhosos.
Vivemos outros tempos,
muita química,
muita luz e irradiações e compartilhamentos
virtuais e
a religiosidade em torno de nossa
imagem.
Mas não posso (e nem quero) abandonar as lembranças
infantis.
Não desejo engolir potes e frascos da indústria
química
nesses institutos de beleza.
Desejo apenas o transcender divino
que me vem com a lembrança
infantil...
Porém, Freud, sempre o filho da puta
do Freud,
teorizando como quem
sempre soube
que tudo acaba
no eterno retorno
das maluquices da infância...
Muita, muita
punheta e...
punheta.
(B. B. Palermo)