Dia desses, de madrugada,
o mar veio até uns 50 metros do meu AP.
Poucos ligaram mas, dessa vez,
Havia ali uma linguagem própria,
embora eu não faça ideia
do que se passa na cabeça dum oceano,
se é o aquecimento global
ou só mais um capricho mar-oto.
Tentei conversar com os texanos.
- Tu vem falar de mar e poesia, Cadelão?
Desce do pedestal!
Te liga nas histórias dessa gente,
larga de ser imbecil!
O senhor, vestido bem demais pra um bebedor
de uísque vagabundo num boteco meia boca,
abriu o celular e mostrou:
feridas nos pés, barriga e rosto,
o corpo ocupado por chagas
como um território inimigo.
Sim, superou tal fase, que poderia chamar de terminal
ou estado de putrefação, quando a alma,
meio podre, envia sinais para o corpo.
Suguei meio copo de ceva,
mas a náusea veio como tsunami.
Corri pro banheiro.
E lá, entre azulejos rachados e meu vômito amargo,
ouvi ao fundo um eco zombeteiro:
- Esse Cadelão é um fiadaputa.
Ainda não sacou o que acontece de verdade
por aqui!
(B. B. Palermo)