sábado, 14 de dezembro de 2019

Nada, nada, nada


A folha em branco, copo d'água e uma cerveja, e nada, nada, nada.
Um velho ansioso pra contar as cagadas que fez na semana, a folha em branco esperando, e nada, nada, nada.
A cerveja pouco gelada, o tímido colarinho, o velhinho que insiste em bater papo, a folha em branco, e nada, nada, nada.
A ressaca que grita mais alto, planos outra vez adiados, o comportamento esquisito do trânsito na noite de sexta, a folha em branco, e nada, nada, nada.
O silêncio dos coerentes, a gritaria dos idiotas, jovens e velhos só falam em negócios e grana, a folha em branco, e nada, nada, nada.
Greves no topo, greves quase estourando, governantes são cocô de cachorro que pisei na calçada, meu coração reclamando, a folha em branco, e nada, nada, nada.
Alarmes disparam, guardas berram salários atrasados, câmeras de segurança estão me vigiando, a folha em branco, e nada, nada, nada.
Mapas estão sobre a mesa, mapas estão nas paredes, mapas estão olhando e rindo de minhas  escolhas, a folha em branco, a caneta fiel e impotente, e nada, nada, nada.
Gostaria de conhecer todas as putas da cidade, gostaria de casar com uma virgem e viver bodas de ouro de fidelidade... hoje estou delirando... a folha em branco, e nada, nada, nada.

(B. B. Palermo)

3 comentários:

  1. Puxa! Obrigado meu amigo! Legal essa de sermos uns solitários tateando na literatura. Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Estou sempre por aqui,vendo seus textos,Sucesso amigo!

    ResponderExcluir

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...