Observe a bolsa de quatro mil reais nas mãos daquela
senhora.
Observe a placa de "Vende-se" colada na
parede do apartamento do quinto andar daquele edifício.
Observe a presença barulhenta dos crimes virtuais,
muitas vezes envolvendo crianças e adolescentes.
Observe a caturrita que caiu da árvore, a qual foi
retalhada pela motosserra. O pássaro teve uma asa estraçalhada e foi colocado
numa gaiola e agora se esforça para aprender a linguagem dos homens.
Observe a garotinha paralisada diante do espelho por causa das espinhas no rosto.
Observe teus amigos e vizinhos obcecados com as
séries de TV e tagarelando isso pela "falta de assunto" nas rodas de
conversa.
Observe o vira-lata pirado recolhendo e escondendo
dúzias de ossos.
Observe que muitos dos teus conterrâneos não têm capacidade
ou interesse para cuidar de negócios.
Observe que as pessoas têm outros interesses, para
além dos negócios e de acumular riqueza.
Observe que, assim como você, há mais sujeitos
desprovidos de coragem, intuição e perseverança.
Observe que o conflito de gerações e a ruptura da
juventude com valores estabelecidos ocorreu também em outras épocas.
Observe que sujeitos de gerações mais antigas
compreendem as atitudes dos jovens e até se esforçam para se adaptarem ao "novo".
Observe a presença constante do ronco de betoneiras
e retro-escavadeiras e motosserras e o canto dos galos ao amanhecer nos espaços
urbanos.
Observe quantos velhos são cuidados por seus filhos.
Observe quantos velhos são abandonados como trecos
inúteis em depósitos, esperando a morte.
Observe o desespero com que tentamos ser algo ou
alguém, o esforço que fazemos para aparentar ser uma estrela ou astro aos olhos
dos outros, sem poder disfarçar o sofrimento que nossos olhos irradiam.
Observe que as músicas que você cantarola em
silêncio dizem muito sobre você. Mesmo que digam respeito ao teu mundo, o que
alegra é que alguns outros também curtem isso.
Observe que todo mundo grita a sua verdade. Ah, e
também observe que cada um carrega sua maçã do amor para ser leiloada.
Observe como o mundo é frio, cruel, calculista,
enfim, estranho. Mas se você o percebe e não se acomoda diante disso, você não
perdeu o que tem de melhor: a sensibilidade.
Você pode observar e relatar os fatos sem tirar
conclusões precipitadas. Você pode ficar admirado ou chocado, alegre ou triste.
Se você abrir mão de latir a todo momento, você vai alcançar o paraíso.
(B. B. Palermo)
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