– Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém!
Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”.
Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ninguém repara.
Lá na Serra, não. Se tu se vestir de um jeito simples,
nem te olham!
Agora o papo é sobre os bichinhos, os cachorros,
quase sempre vira-latas, “graças a Deus!”.
– É horrível, naqueles dias chuvosos, é terrível.
Eles só fazem xixi na rua. Se não andarem por aí,
gemem, uivam, choram, pedindo pra sair.
Gatos? Não, não! Eu não quero mais saber!
Tinha um macho e uma fêmea.
Tu acredita? Ela só queria fugir.
Até que me abandonou, aquela mal-agradecida!
Nunca mais quero ter gatos!
Sentado a seu lado, a cabeça lateja,
deve ser por causa do timbre de sua voz
e também o seu desembestado matraquear.
Da janela do ônibus observo – acima de sua cabeça –
o sol meio que evaporando por entre nuvens escuras.
Ônibus lotado... para e segue e segue e para, gemendo...
– A Defesa Civil disse que serão 250 milímetros de chuva
em 4 dias! Todo o cuidado será pouco!
Enchentes, estiagens, a água e a poeira por todo lugar.
Sua conversa me liga à tomada e desvenda a realidade:
a primavera com suas cores vibrantes
não está a fim de ceder espaço
para o verão.
Fico louco pra chegar em casa, calçar os tênis
e partir pra caminhada: até a praia e depois a praça
e o clube e alguns bares.
Sim, fiquei viciado e entorpecido
e seduzido pelos enredos desse povo.
Acho que não vivo mais sem as pílulas
diárias
de fofoca.
(B. B. Palermo)