Eu poderia estar contemplando a paisagem
pela janela de um avião
a caminho da ilha de Fernando de Noronha,
mas aqui estou me digladiando com a senhoria do cafofo.
Tento vários disfarces pra entrar e sair
com os latões de ceva.
Ela sabe tudo,
é uma caninana cheia de truques.
Me distraio mirando sua filha,
uma baixinha com pernas bem torneadas.
Ah, que pena, pouco tem ido à praia, poxa, o sol precisa retocar o seu bronzeado!
Tento manter relações amistosas com a senhoria.
Elogio as plantas "milagrosas" que ela cultiva junto ao prédio,
próximas das janelas do cafofo.
À tardinha ela embriaga as pobrezinhas com uma mangueira,
e aí está um bom motivo pra correr pro boteco.
Falando em plantas, o que me vem
é o chá de Boldo,
o garotinho dá uns golpes abaixo da linha de cintura
quase que diários
na minha ressaca.
Tentei ser um bom homem,
nada de brigas com a dona,
instrui as minhocas que cavoucam na cabeça
a focarem nas pernas tentadoras de sua filha.
Hoje o clima está ameno,
a senhoria prometeu me ensinar a apanhar mariscos na praia
e preparar deliciosos pastéis,
que ela jura serem tudo de bom.
Rapaziada, se me permitem um conselho,
nunca batam de frente com essas poderosas.
Negociem, negociem...
Avancem 2 passos e recuem pelo menos 1.
Acredito que não é preciso
tacar fogo na casa
pra se livrar do cupim.
(B. B. Palermo)