Não recue, Cadelão, não receie,
ricocheteie nos paralelepípedos,
mamãezinha te observa do seu lugar,
sem julgar,
agora ela é puro amor
e corre pra te salvar
e lamber tuas feridas.
Ela não dá bola
pro teu depósito
de dores simuladas,
ela é exclusiva,
esteio imaginário,
ela vai benzer teus sonhos
abandonados,
um entulho de cinzas,
que se resume na tese,
antítese e síntese
dos teus fantasmas
adormecidos.
Muito colo em algum lugar,
muito sim, muito não,
mamãezinha é o sereno amor
de tua vida.
O que rolou nas repetidas jornadas,
pra que esse amor sem conta
descambasse numa infinita falta de amor?
O que rolou, criatura infeliz,
que te impediu ser
o amante ideal?
Agora mamãe não liga
pro inferno e o pecado,
agora todos são bons,
e estão livres de culpas,
embora tu esperneie
e pense e repense,
e não chegue a nenhum lugar.
De nada serve qualquer filosofia,
de nada serve qualquer religião,
apenas somos autênticos
quando o medo do fim vier,
de nada serve julgar todo mundo
com a bíblia de teus fantasmas,
não causará qualquer ruído
gritar teu verbo na escuridão.
Tu acredita num segundo nascimento,
razão desse que agora finda,
tu acredita que vai manusear
tua linguagem
inclusive
no silêncio eterno.
Agora descemos do sótão,
agora subimos do porão,
ninguém é bonito ou feio,
somos apenas entulhos,
coisas inúteis
pra jogar fora.
Tu não precisa se preocupar
se não aprendeu latim ou grego,
inglês, francês ou alemão,
a presença de mamãezinha
petrifica e silencia
todas as línguas.
Não sei, Cadelão, como será tua eternidade silenciosa,
mas dizem que estás fora de rota,
excluído da universal rotação.
Estamos todos no mesmo barco,
resta-nos navegar e agarrar
o momento.
Até a eternidade.
Até o esquecimento.
(B. B. Palermo)