Dia desses bebia uma cerveja redondinha,
acompanhado pelo Beiço, e eis que um conhecido estacionou ali por perto seu
carrão importado. Fez de conta que não nos viu. Fingimos que não o vimos.
O cara sempre foi competente em
fazer carreira no magistério e sindicatos. Pessoa bem comportada, bom pai e
amigo, figura esclarecida, na concepção dos filósofos modernos.
Acima de tudo, um "socialista
dinheirista", expressão que o Beiço sempre repete.
- Cadelão, os caras juntam a
maior quantidade possível de grana, e muitos acabam gastando com filhos
paranóicos ou drogados, que foram criados debaixo de suas asas. Não consigo
compreender essa obsessão por acumular, imagine o tempo dedicado a isso.
- Quem sabe esteja certo. Pra
ele, é melhor investir em imóveis do que em lazer, arte, literatura e outros
prazeres.
- Que nada, está faltando alma,
meu amigo, o declínio do planeta está acelerado.
- Eu gostaria de ter grana, só
pelo prazer em gastar. Se fosse rico, se estivesse rodeado de luxo, pegaria as
putas mais lindas da parada e escreveria porra nenhuma.
- Hehehe... Você desocupado e
duro já anda escrevendo nada.
O cretino ergueu o copo, num
brinde.
- Aos dinheiristas!
- Diz aí, meu brother, se não existissem
as mulheres, dinheiro serviria pra quê?
- Sabe o que eu ouvi de uma
garota esses dias? "Nunca tive dinheiro, até que baixei as
calcinhas".
- Hehehe... Lembrei de uma frase
da atriz Mae West: "Um centavo
economizado é uma garota perdida".
- Dinheiro, dinheiro... E
tempos difíceis. Confesso que estou com medo, tenho me preocupado com meus
irmãos de passagem por esse planetinha.
- Fala sério, Cadelão.
- Até pensei ser voluntário num
projeto que apoie os velhinhos aposentados nos abrigos. Ou contar histórias num
hospital de câncer infantil.
- Puta que pariu. Toma um porre
que amanhã você não se lembra dessa loucura.
- Você tem razão. Meus planos
para o futuro não duram uma semana.
- Hehehe... Que eu saiba, persistência
você teve foi nunca.
- Mas amanhã poderá nascer um
cara novo.
- Jesus, desconfio que você
está lendo auto-ajuda! Volta, maluco, seja o que tu és!
- Atitude, meu caro, um dia eu
mudo de atitude.
- To sabendo.
(B. B. Palermo)