sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Esaú e Jacó – Machado de Assis
“O tempo
é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma
dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de
invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro”.
“Aires
vira nascer e morrer muito boato falso. Uma de suas máximas é que o homem vive
para espalhar a primeira invenção de rua, e que tudo se fará crer a cem pessoas
juntas ou separadas”. (Livro publicado em 1904).
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
Um é insuportável, dois é de mais
Caminhava
em direção à praça e ensaiava pensamentos
pra
cima, tipo Hoje serei o cara, um privilegiado,
coisas
bizarras marcarão encontro comigo!
Garotas
e garotinhas entravam nos mercados com as roupas de banho,
vinham
direto da praia e sua fome e sede, aposto,
eram
do meu tamanho.
No
centro da praça o DJ testava o som num volume
que
até espantava os pobres peixinhos, os papa-terras
que
senhores disciplinados e cheios de fé pescavam
desde
a madrugada na praia, logo ali.
O
cretino meteu uns sons bem pancada.
Lembrei-me
dos ancestrais batucando e dançando ao redor da fogueira
em
noites de terror, numa época infantil da humanidade.
Aliás, que época vivemos hoje?
Então
o DJ botou pra rodar a “Eguinha Pocotó”.
Não
teve jeito, caí do cavalo!
Verão,
praia, sábado de noite, óbvio que a multidão avançava
e
a praça engrossava.
Bebi
algumas caipirinhas e a música melhorou.
Eis
que ela apareceu, pegou na minha mão e eu em sua cintura
e
dançamos uma porrada de sambas.
Patrocinei
umas caipirinhas de vodca, que ela bebeu num canudinho
e
não dividiu comigo.
–
Meu bem, você pode ter dois caras, eu não tenho ciúmes,
tenho
lido sobre o poliamor!
Botou
as mãos em volta do meu pescoço e fomos com tudo
num
samba do Adoniran.
Outra
caipirinha – que eu paguei e ela bebeu sozinha –,
e
então murmurou no meu ouvido:
– Querido, se um traste já é insuportável,
tu
imagina eu com dois!
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Vai ter guerra!
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
3 colheres de chá de tédio
Henry
Miller disse mais ou menos assim:
“Ande
por aí de olho no fluxo e, de vez em quando,
ensaie
algum êxtase”.
É
isso.
Solte-se
das amarras que é ser aceito pelos pares como bonzinho,
ovelha
doméstica subindo e descendo montanhas,
cabeça
entre as pernas, mais um peão
no
xadrez cotidiano.
Às
vezes você deve se aventurar, olhar bem no fundo
daqueles
olhões escorregadios, e perguntar:
–
Você é mesmo casada?
Arrisque-se
– havendo uma abertura –, e prometa pílulas generosas
de
alegria e algumas lágrimas, pouca melancolia
e muita euforia e cerveja e 3 colheres de chá
de tédio.
Faça como eu e não seja comum,
dê nome aos corvos, aos cães e às árvores,
converse com eles e, de vez em quando,
descole um papo legal com os gatos, até seus pelos
soltarem faíscas.
(B.
B. Palermo)
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Menina Veneno
–
Cara, o que é isso? Menina Veneno?
Tu
ouvindo essas músicas loucas e velhas, tenho certeza,
tens
tudo pra ser ruim de cama!
–
Ah, sim, baby, tenho certeza que as sofrências que tu ouve
te
transformam numa fêmea perfeita
deitada
nas camas que tu encontrar pela vida!
Ela
devolveu, furiosa:
–
Aiaiai... Tu não é nada romântico, hein, Cadelãozinho?
Eu
curto porque curto, curto por curtir!
Acordei
com tais diálogos na cabeça.
3
horas da manhã, abro a porta dos fundos
e
me deparo com os CDs que pendurei em meio às hortaliças,
para
espantar os pássaros.
Eles
emitem luzes meio sobrenaturais, ou eu é que estou sensível
a
ponto de transcender e pegar carona num ônibus espacial
e
farejar brilhos cósmicos e isso é tão bonito e misterioso,
mas
também assustador.
Penso
nas couves e alfaces e medito: fêmeas ou machos?
Qual
será o seu papel na cadeia alimentar e sua importância
para
sermos lembrados como heróis
pelas
gerações futuras?
Agora,
tenho certeza, estou acordado
e
vejo o mundo por metáforas,
e
não ligo muito para cálculos,
tabela
periódica, calculadora e tals,
até
gosto dessas coisas, como se estivesse resolvendo
palavras
cruzadas.
Até
que enfim, livre.
Livre
e na companhia da Menina Veneno,
a
princesa mais talentosa e misteriosa
e
que sempre repete que vale a pena viver.
Ela, sempre ela: minha imaginação e todo o harém venenoso
com que ela me faz enlouquecer!
(B.
B. Palermo)
sábado, 1 de fevereiro de 2025
Seu Castanha, tu não existe!
Serei
sincero, se algum maluco aparecer e quiser dividir a mesa comigo.
Direi:
–
Velho, senta aí, mas ficaremos em silêncio contemplando este único e eterno
entardecer!
Dos
caras que conheço, sei que não ficaremos calados nem 2 minutos,
e
o primeiro comentário será sobre o clima-tempo.
Em
seguida – no solavanco – falaremos sobre a má vontade
desses
veranistas em abrirem o bolso.
–
É um bando de mão de vaca, e a maioria é da Serra!
Eis
que dobra a esquina, sempre ele, o seu Castanha, e já me farejou.
–
Posso sentar?
Faço
aquele gesto, meio resignado, e que pode significar “fazer o que, né?”.
(Meus
queridos, desenvolvi um método infalível
pra
botar o velhinho pra correr: é só pedir pra ele pagar
uma
cerveja e uma pizza que, em menos de 2 minutos,
ele
pega o rumo de casa).
Mas
se der corda, desanda a falar e, como é meio surdo,
não
ouve ou não liga pras minhas considerações.
Chato,
muito chato.
Hoje,
quase morri de vergonha.
Eis
que surgem um rapaz e mais algumas crianças e adolescentes,
acho
que seus familiares. O cara perguntou:
–
Escuta, o que aconteceu com aquele bar que havia por aqui?
Falei
pra ele:
–
Olha, rolou umas coisas muito estranhas, tipo mulher
meter
guampa no marido e engravidar de outro
e
mais briga feia da bonitinha com o sogro
e
aí não sei quem bateu em quem
e
mais polícia no meio...
Nessa
hora, o seu Castanha não se conteve:
–
Palermo, tu é muito bobo, todo mundo sabia, menos tu,
que
o cara não gostava de mulher, não estava nem aí pra ela,
só
corria atrás dos garotos...
E
relatou cenas de encontros furtivos e outras loucuras
narradas
pela comunidade. Vocês sabem como é:
quem
conta um conto aumenta um ponto.
Fiquei
assombrado com as doses de machismo
e
homofobia e tals do bom velhinho...
Aiaiai...
Seu Castanha, tu não existe!
(B.
B. Palermo)
domingo, 26 de janeiro de 2025
Sonhe alto
Apressado,
entrei num banheiro químico
junto
à praça e aos bares e levei um susto:
quem
me encarava, de lá debaixo, era o abismo,
e
nele não havia estrelas, nem cadentes nem supernovas,
ou
luas cheias, crescentes ou minguantes.
Uma
onda impregnou as narinas,
tons
azedos de mijo e vômito,
corvos
sobrevoando e espiando meu sexo.
O
amor, dessa vez, não teve a chance de se manifestar,
ele
evaporou junto a tais cenas.
Vi
o meu amor atendendo ali naquele pub
e
os pensamentos, dessa vez, não foram sublimes,
apesar
do início promissor: foi simpática, não me fechou o rosto
e
também não me fechou seus olhos negros cheios de vida,
mas
fechou seu coração – ele deve estar abarrotado de outros amores.
Os
pensamentos, nessas horas decepcionadas, escorregam
pros
lados do escatológico, e ter ido àquele banheiro
foi
a gota d’água. E as cenas que se apresentam aos olhos
nos
bares próximos não ajudam em nada.
Bocas
devorando lanches, filés, fritas, a la minuta e olhos fixos
nas
telonas de TVs e etecétera e tals.
Conclusão
a que cheguei:
isso
não traz nenhuma garantia
de
que nosso futuro será libertador.
–
O futuro – dirão vocês – é tudo o que temos.
Sossega,
Palermo, livre-se desses pensamentos banguelas
e
sonhe alto!
(B.
B. Palermo)
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Chutando a porta de casa
Quando me chamam "Palermo!" levo um susto,
tenho a impressão de que meu sabor é de pano encardido,
pendurado num varal e crivado de balas grosso calibre
pelos olhares da comunidade.
Quando me chamam "Cadelão!", sinto-me na mesma condição
do servente de pedreiro ou do encanador ou do catador de lixo.
Uma e pouco da manhã, liguei a TV e sintonizei
um programa de entrevistas.
Três convidados debatem sobre a importância medicinal
e a liberação da Cannabis, e então meus olhos brilham
e eu me lembro das toneladas de baseado,
as bobagens que pronunciei, chapado,
as milhares de canções que ouvi
e o êxtase que experimentei,
muito mais do que um cidadão bem situado
consiga idealizar.
Fico arrepiado só de pensar nos perigos a que esses heróis –
selados como de classe média – estão submetidos.
As drogas e o álcool, os juros dos cartões de crédito,
todas e nenhuma ideologia, o formato da terra e as mudanças ambientais,
a pressão das furiosas bolhas direitistas e esquerdistas,
o sertanejo universitário e tals e tals.
Nem me falem dos conflitos familiares ou do bullying nas escolas.
Pressionado por tantas informações que se digladiam –
asnos versus raposas, porcos versus bois e vacas etcétera e tal –
sou surpreendido por crises de ansiedade e de suor
e de choro e uma vontade louca de encher a cara,
e o motivo, ó lindos e queridos escrotinhos,
o motivo é o de estar boiando na água fétida desse mundinho que
desfrutais.
Os babacas colocam em risco minha condição social,
a de poder comprar uma TV de 50 polegadas em quinze prestações,
e isso vale pro carrinho popular,
que lavo e deixo brilhando e suas rodas tinindo
todo o sábado de tarde.
Sonho de consumo.
Ainda vou ter uma gorda conta bancária e uma pança enorme,
só pra me estressar e correr pra academia 5 vezes por semana,
a cada verão,
e postar selfies caprichadas para impressionar as garotas.
Sonho de consumo.
Queimar fatias do meu salário nas farmácias,
ter um prazer sádico ao ouvir os vendedores gargantearem lançamentos
de complementos e vitaminas para isso e para aquilo.
Ainda vou ter uma dúzia de notas de 200 na carteira
e sentir uma alegria incomum ao ouvir a balconista dizer
que os produtos tais são bons porque vendem bem.
Ao cair a noite deixo o celular no silencioso,
pois grupos de conhecidos do WhatsApp,
a que fui encarecidamente convidado a participar,
desfilam mensagens de fé, de oração, Deus e Jesus e Virgem Maria
e mais isso e aquilo.
Imagens e caricaturas como se fossem uma parelha de cavalos
e sua carruagem me conduzindo pela escuridão da Idade Média
em direção à prometida luz que vem do alto.
E de novo estou fulo e com desejo de botar meu exército de um homem só nas
ruas,
chutando e cuspindo e dividindo olhares raivosos com as donas de casa
fazendo compras em dias de preços estourando.
Que m**da, eu não precisava sofrer ao dar de cara
com os clichês de sempre.
Devo me acostumar com essa gente
que vive agarrada em muletas
e bengalas e andadores.
Sou cara de pau.
Sei que os outros estão compartilhando lixo,
também faço isso e finjo que considero tais dejetos
edificantes para a vida desses boçais.
Cinismo e cara de pau.
Não me afasto desses grupos.
Tenho esperança.
Quem sabe amanhã alguém se inspire pra além da superfície
e compartilhe algo que me entorte o queixo.
Ó meus irmãos, companheiros de longos ensaios de imbecilidade,
tudo o que espero é que algum de vocês me surpreenda
com novidade e intensidade,
como se me visitasse chutando a porta.
Eu podia estar transando sem camisinha,
pegando e espalhando por aí o HIV,
ou bamboleando pelas calçadas podre de bêbado.
Porém, aqui estou com minhas pantufas e lareira em brasa e TV moderninha,
vendo programas de quinta e bebericando cerveja.
Sou cara útil, um pateta que todo dia se esforça
para ser promovido e classificado pelo IBGE
como de classe média.
Um sujeito que sabe, como todos vocês, que tem prazer bovino
e visão mediana das coisas.
(B. B. Palermo)
domingo, 19 de janeiro de 2025
Ela é moderninha
sábado, 18 de janeiro de 2025
Faça meditação, mas sem música de fundo!
Toda Lorena
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