terça-feira, 1 de outubro de 2024
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
Eu sou zen
Perguntaram-me:
– Você é colorado ou gremista?
Fiz um gesto largo e demorado e calmo,
apontando vales e montanhas imaginários,
e sussurrei:
– Sou budista!
Pessoas entram e saem dos campeonatos diários
meio mortos, meio putos:
sobreviver, sobressair, competir,
ser visto ou lembrado,
ser amado ou odiado.
A natureza é espontânea e sábia:
a lua cheia dá lugar pra minguante
que por sua vez dá lugar...
ela quer muito nos ensinar...
porém mas todavia nós humanos, bestas,
dizemos que sabemos o que queremos,
e subimos e descemos de balanças
das farmácias
e apostamos todas as fichas nos centros
espíritas e igrejas e ofertamos as pobres
reservas econômicas nos jogos de azar.
Amanhã – eu prometo – dou entrada
num mosteiro!
(B. B. Palermo)
domingo, 29 de setembro de 2024
Cadê o café?
Caminhava pela calçada
e bati de frente com um velho solitário, jeito de transtornado. Falava alto e –
mesmo que estivesse a poucos metros de distância – não deu por mim.
O final do dia,
além de abafado, anda estranho – pensei.
Quando era criança,
cenas como essa impressionavam:
– Nossa! Um louco!
Cuidado, gurizada!
Mas quem liga pra
isso hoje em dia?
Algumas vezes, ao
retornar pra casa do bar – meio que levitando – também falo sozinho. Porém,
tomo o cuidado de o fazer um pouco tarde da noite, quando a comunidade assiste
TV ou está num sono profundo.
Se é noite de luar
ou o céu está estrelado, converso animadamente com as estrelas e a via láctea –
representantes de Deus aos nossos olhos, dizem.
Aos 18 anos, quando
servi o exército – numa cidade que ficava a uns 700 quilômetros de onde morava
–, trocava cartas com uma garota adolescente. Depois de despachados pelo
correio, os suspiros amorosos demoravam mais de uma semana pra tocarem seu
coração. Recebia a resposta da garota –
contida, racional, se comparada aos meus delírios poéticos – mais de 2 semanas
depois.
Podia ter escapado
de servir o exército, mas disse ao comandante, na entrevista derradeira, que
queria ficar. O que fiz aos dezoito anos eu faço até hoje: gosto de sofrer,
gosto de sentir saudade – morando longe das pessoas mais próximas. Quanto a
isso, psicanalistas e psiquiatras têm o conceito na ponta da língua para
"classificar" meu tipo de neurose. Fodam-se!
Ou esses experts
diriam que foi uma atitude louvável de minha parte: a busca pelo novo; não me
acomodar ou me prender à aldeia em que nasci e cresci.
Se eu não sabia o
que queria, parece que já sabia o que NÃO queria. Insistiram para que fizesse
carreira no exército – mas, realmente, não nasci pra isso.
E tu nasceu pra
que, então, seu bucéfalo? – perguntariam vocês...
Pelo menos durante
década e meia, escrevia muitas cartas. Não sei como as garotas suportavam
páginas e páginas daquelas "viagens" – será que elas guardaram as
cartas ou as rasgaram ou queimaram ou as depositaram numa lixeira?
Acho que esse é o
ponto: talvez o exercício da escrita salve, liberte ou evite que o ridículo reboleie
pelas ruas falando sozinho.
Ao recordar minha juventude
– mais do que fominha ou patético – até acho engraçado. Tinha aspirações
literárias. Sonhava me imortalizar como poeta hehehe. Não fazia ideia de que
todo esse sonho cairia por terra, bastava me apaixonar por alguma garota. Foram
várias paixões. O malukinho amou e a arte evaporou.
Juvenil, não tinha
qualquer maturidade e noção de que poderia "reencarnar" almas
criativas de outros tempos, que me presenteariam incríveis histórias – e o
caminho para isso eram as leituras de muitos (e bons) livros.
Quando a inspiração
surgia, o espírito (líquido) se desviava dos caminhos criativos ou insights. Com
certeza, não tive um mínimo de "café" para compreender e decifrar
essas histórias e desenvolvê-las no papel.
E hoje?
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
Ele é visível, finalmente
Nadava de braçada e tinha a sensação
de que não saía do lugar,
aí conheci uns caras da política
e aconteceu:
as eleições abrem as portas
e o Palermo ficou visível.
Quem sabe ele consegue lançar seu livro
na feira daqui?
Duvidas, ou estás em dúvida?
O poeta – mais doido que seus amigos andarilhos –
anda com um pé atrás do outro
nessas praias infinitas
e até acredita em tudo,
inclusive nos saltos da baleias
neste final de setembro.
(B. B. Palermo)
sábado, 21 de setembro de 2024
A maluquinha do 303
Ela se mostra e se esconde
e não sabe (ainda?) que eu topo uma historinha a
3,
desde que não dure mais do que 1 ano e meio,
no máximo 2.
Depois disso, os capetinhas das garotas, e também
os meus,
entram em campo e bagunçam o jogo.
Ela é mãe e pai do namorido,
mas eu também sou, e até os meus melhores amigos
e outros mais, fantasiam a sua mamãe.
Faz parte – soube depois de ler nuns romances
que tratam da psicologia dos humanos –
preste atenção no Nelson Rodrigues,
inspirado em Dostoievski.
A maluquinha do 303 se esconde e logo me ataca,
e suas investidas, claro, ficam no “quase”,
e é por isso que eu me frustro e sou possuído
por uns sonhos eróticos e masturbações
às 4 horas da manhã.
(B. B. Palermo)
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Rua Jardim da Paz, 3030, apto 303
Conheci uma garota num site de
relacionamentos que se anunciava Pimentinha. Na frase de apresentação, ela
mandou ver na poesia. “Ela é cafeína pura. Talvez mistura de rotina com fortes
doses de adrenalina e fofura”.
Vocês sabem, a pimenta vermelha é um vasodilatador,
isso mesmo, funciona como estimulante sexual. Cultivo meus pezinhos, em vasos.
Acho que foi por isso que tive um interesse (gastronômico?) pela “Pimentinha”.
Mesmo que mostrassem apenas o rosto, algumas
fotos eram provocativas – desconfiei que era garota de programa. Fui à caça.
Curti seu perfil. No dia seguinte ela visitou meu perfil e curtiu também.
Trocamos algumas frases, compartilhamos o telefone e nos adicionamos no Whats.
Dois dias depois, pilotava meu Monza 1995 como um
Fórmula Um na última volta – em primeiro lugar, é claro. No rádio, tocava a
música do Camisa de Vênus, “Sílvia”. Logo depois, uma do TNT, “Cachorro louco”.
As melodias do rádio do carro emitiam sinais de que minha aventura com a garota
seria inesquecível.
Alguns quilômetros adiante, num trevo, avistei
uma senhora e uma criança – de uns 2 ou 3 anos – pedindo carona. Num impulso,
parei o carro. Os dois vestiam preto, ela parecia não ter mais do que 30
anos, umas olheiras evidentes e a pele hiper branca. O menino seguia imóvel,
olhar fixo no horizonte, como se a paisagem que via pelo vidro fosse sempre a
mesma.
Minhas tentativas para engatar uma conversa foram
em vão. Ela se limitou a informar que ficaria no mesmo lugar que eu visitava.
Meu compromisso – comentei – era uma reunião com um amigo, um possível sócio
para meus novos empreendimentos.
Nada de conversas animadas – então me limitei a
ouvir músicas pelo radio do carro e imaginar como seria inesquecível o encontro
com Pimentinha.
Quanto mais me aproximava de sua cidade, mais me
sentia como se estivesse indo à feira. Não para comprar uma fruta qualquer. Criei
tamanha expectativa, era como se buscasse especiarias para um maravilhoso
prato.
Houve um pequeno porém. A garota era mais velha e
mais fofa do que aparentava nas fotos – fico me perguntando sobre sua timidez,
a não aceitação de si por inteira, como se sua essência se resumisse num rosto,
numa boca bem torneada e realçada pelo batom, ou numa xoxota de enlouquecer o
cara quando mandava brasa no sexo.
Quando a encontrei no site não desconfiei que as
fotos – ao privilegiarem partes do corpo – funcionavam como estratégia de
marketing. Aliás, não é algo parecido com o que a maioria faz hoje em dia, ao
mostrar alguns aspectos de sua personalidade, escamoteando manias e defeitos?
Sei... Vocês querem saber se o calor e o sabor
dela correspondia a uma pimentinha das malaguetas. Vejam bem, além de sua
beleza não confirmar as promessas das fotos no seu perfil do site, Pimentinha
não disfarçou suas intenções estritamente comerciais. De cara estabeleceu suas
condições para nossas libações. Deixou-me a par de seus preços. Anal estava
fora de cogitação, oral aumentaria o valor do programa em 20% e eu disporia de
meia hora, senão a cada quinze minutos aumentaria em 15% o valor do programa.
Pensei dizer: Guria, mire na venda de sentimentos, é disto que provém a tua
sobrevivência. Mas apenas perguntei: Você tem alguma fantasia com calculadora,
do tipo enquanto o cara entra e sai você faz o cálculo das probabilidades de
obter um orgasmo? A diaba não sacou a ironia. Ela incorporou por inteiro a
ideologia mercadológica que procura espremer o máximo de lucro do seu solicitado
corpo – será que ela tem alguma utopia de um mundo melhor, ou será que pra ela
o que vale é o aqui e agora, sua “presença” imediata de garota de programa?
Ah, estava me esquecendo, ela disse que não
beijaria porque tinha um dente meio podre e só em dez dias seria atendida pelo
dentista, mas que pelo fato de nossa trepada ficar comprometida pelo mau hálito
ela me daria 15% de desconto na soma total do programa.
Foi isso. Inventei que não curtia transar no
primeiro encontro e que estava à procura de um grande amor e a convidei para
beber algo num barzinho. Ela disse Ok, mas só tenho 15 minutos.
No caminho de volta eu estava em último na última
volta com meu Monza 1995 Fórmula Um. O motor do carro queimava óleo de maneira
preocupante e as rodas puxavam um pouco pra esquerda. Eu me sentia daquele
jeito, como em 85% dos casos: um fodido!
Num trevo, logo adiante, avisto a senhora de
preto e sua criança. De maneira brusca, estaciono. Bastou embarcarem, pra
senhora se soltar:
– Você ficou chateado com a Pimenta, não foi?
– Como?
– Vocês dois são muito parecidos: não sabem o que
fazer com a solidão... Lembra do teu avô? Ele era bem assim: quanto mais zoneiro,
mais se sentia sozinho e deprimido.
– De onde você conheceu meu avô?
– Isso não interessa...
Eu suava e tremia e não me vinha qualquer assunto
pra botar na roda – e sentia uma louca necessidade de conhecer aquela mulher.
Ao nos aproximarmos da entrada da cidade, ela
pediu pra que parasse. Abriu a porta do carro, olhou-me com profundidade, passando
uma estranha sensação. Colocou a mão no meu peito, massageou, massageou,
desencadeando uma energia – uma suave e agradável corrente elétrica. Me senti
mais leve, e as batidas do coração mais compassadas.
– Você não quer ser um homem de verdade? Então
pare de ouvir a opinião dos outros, e siga a voz do teu coração!
Fora do carro, disse:
– Venha nos visitar. Anota o endereço: rua Jardim
da Paz, número 3030, apto 303.
Alguns dias depois, procurei tal endereço. Ficava
na periferia da cidade, zona oeste.
Avistei o número 3030. Havia um portão e, acima, a inscrição:
CEMITÉRIO JARDIM DA PAZ.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 17 de setembro de 2024
Se você quer se exibir, não se preocupe com a morte
Um maluco empinou a motocicleta importada de mil cilindradas na avenida,
a uns trinta metros do bar onde eu conversava com dois amigos. A máquina
rodopiou e voou, acompanhada de faíscas por causa do atrito com o asfalto, e o
sujeito rolou uma dúzia de metros e se chocou num carro que vinha no sentido
contrário. O voo da motocicleta seguiu na contramão, beijando o pneu traseiro
de um carro estacionado e se bandeou pro outro lado da rua, uns cinquenta metros
adiante.
Apanhei o copo e senti a tremedeira:
- Ca-ca-ralho, e-se-o-fo-fo-guete ve-vem em nossa di-direção? Já-já-era,
ba-baby!
Um sujeito que estava numa mesa ao lado correu pra organizar o trânsito.
Depois foi ajudar o cara da moto. O retardado permanecia consciente e sem ossos
quebrados.
- O FILHO DA PUTA NASCEU DE NOVO!
- Já pensou se aquela coisa atinge as crianças que circulavam de
bicicleta pela calçada?
Enchi o copo e observei a bolha se formar no bico da garrafa. Rechacei o
pensamento palerma, que ganhava forma: "Que pena não estar morto nessa
hora". Vivos! Um beijo ao doce paladar de cada gole desta ceva!
Um dos amigos achou que era momento de dizer "viva bem cada minuto,
como se fosse a frase ideal para iniciar um romance". Olhei pra ele, mas não
disse nada, apenas pensei – tá querendo impressionar, seu pa-patético?
Smartphones em punho, pessoas tiram fotos, gravam vídeos, antes da
motocicleta ser recolhida e o maluco ser conduzido ao hospital, e antes que
cheguem os caras da Brigada.
Como um balão que estoura sem ter alcançado o seu máximo, desanimo ao
ver toda essa cambada manuseando seus aparelhos. Precisam se ocupar, e eu
necessito inventar algo que as distraia dessas merdas.
– Se a cabeça dos caras não está no celular, está no pau – disse outro
dos meus amigos.
O cretino dedicou muito suor pra cavalgar numa motocicleta de dar inveja
à plateia. Mas pra se exibir nas ruas não pode exagerar na bebida nem na cocaína
e nem se preocupar com a morte. De que adianta tudo isso?
Penso que ele deveria fazer parte do meu “público”, e não o contrário.
Mas não levo jeito pra coisa. Não consigo escrever textos curtinhos e engraçados
pra chamar a atenção da galera. Jamais serei coach ou estrela do TikTok.
Cadelão, o fodido – nem pra levar uma cadeirada nos cornos diante das câmeras,
num programa de TV, ele se presta.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
O mundo fede e cheira
Matutei sobre a forma dum poema
que atraísse olhares e decidi:
menino, seja bem comportado,
redondinho
feito uma ovelha
criada em confinamento.
Faça um poema que ajude a melhorar o mundo –
já que és incapaz de lutar nas trincheiras –
conduzindo os irmãos na superação
do reino da necessidade
e alcançando o reino da liberdade.
Poema e o poeta saíram dos trilhos
quando seus olhos focaram o real,
num banheiro público:
toneladas de urina e a descarga com defeito
desmoronaram seus planos.
O mundo **** e cheira e – desse mato –
só saem poemas
f*didos.
(B. B. Palermo)
sábado, 7 de setembro de 2024
A grama do vizinho
Entre a grama verde
e bem aparada
dos quintais,
e a rapaziada
o tempo todo
ciscando no celular,
vislumbrei 2 milagres
no A. Texas:
uma garota lendo um livro
dentro de um ônibus
e uma mãe e seu filhinho
contemplando
o nascer do sol.
(B. B. Palermo)
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
Viagem a Palermo
O cara falou de
seus contrabandos de armas e munições do Paraguai, anos atrás. As pessoas que
estavam em volta babaram, principalmente nas suas descrições do poder de fogo e
destrutivo dos calibres – eram fuzis, metralhadoras e por aí vai. Para cada
viagem que fazia, as encomendas já estavam pagas. Era muita adrenalina: o risco
de ser pego nas alfândegas, as propinas dadas aos policiais e tals.
Lá pelas tantas,
não me contive:
- Você já matou
alguém?
Ele pensou e pensou
e disse, olhar fixo nos meus olhos:
- Meia dúzia!
Foi então que eu
saquei: Tô rodeado de gente muito foda!
- E você, o que faz
da vida?
Disse pros caras que
tinha uma fazenda arrendada em Tupã, de pouco mais de 6 mil hectares. Cansei de
criar gado, então o meu contador, um Pitbull nas finanças, fez diversas
aplicações e investimentos, me garantido dinheiro pra uma dúzia de reencarnações,
se acaso tiver o privilégio de ser um dos escolhidos pelo grandão, de lá de
cima... Hoje em dia, faço algumas viagens por ano, América latina, Estados Unidos
e Europa. A viagem mais incrível, e que me rendeu diversas idas e voltas, foi
até Palermo, na ilha da Sicília. Não fui até lá assim no mais: conheci, pelo
Facebook, uma senhora, divorciada.
- Tá... e como vocês se
entenderam na língua?
- Rapaziada, eu domino
o dialeto italiano, mas, claro, é muito diferente dos sotaques deles. Aí, usava
o tradutor. Conversávamos através de chamadas de vídeo, no Messenger, isso a
qualquer hora do dia: antes de dormir, ao levantar de manhã, nos passeios, ela nos
restaurantes e eu nos botecos. Foi incrível, rapidinho nos entendemos na
linguagem do amor. Era o instinto, algo “animal”, vocês sabem, que nos
proporcionava várias “trepadas” virtuais.
Não deu outra, logo peguei
um avião e me fui. Rapazes, os beijos de língua da siciliana eram ferozes,
afiados! Pra fazer amor, pelo menos, eu me libertei do tradutor do Google. A
italiana era um tesão, puro fogo! E preparava aqueles pratos deliciosos da
culinária local, tipo Canolli, Torrone, Arancini e o que eu delirava todos os
dias: Pasta a La Norma. Sentia todo o amor por ela dedicado ao cozinhar, era
como se me servisse a alma, por isso meu apetite era insano – e só não engordei,
com certeza, porque queimávamos calorias de montão fazendo amor! Foi então que
passei a ter muita sonolência, bem estranho, e não era só de noite, era nas
sesteadas à tarde, que duravam horas.
- E aí? – perguntou um
dos malucos que me ouvia.
- Vocês não vão
acreditar: acho que durou um mês assim, dormindo pra caralho - por qualquer
coisa, eu ia pra cama e apagava. Depois desse período, voltei ao normal. Gente,
agora eu ouvia e falava a língua deles como se tivesse morado a vida toda na
Itália! Tenho certeza que foi meu subconsciente que fez todo o trabalho pra
mim!
- Maravilha! Diz aí... tu
vai morar com a ragazza em Palermo, ou vai trazer ela para o Brasil?
- Fazíamos planos...
Até que entrou em cena a Sophia, filha dela. Gurizada, o dia em que nos vimos,
no aeroporto - quando a ninfa chegou de viagem de Nova York, onde mora parte do
ano com o pai -, esse dia marcou e mudou a minha vida. A maneira como me olhou
fez cada milímetro do meu corpo soltar faíscas. Logo me veio a imagem da atriz,
a Sophia Loren, quando ainda era novinha. Lembram dos filmes dela no cinema? Foi
inesquecível!
- Tá... e aí? –
perguntou outro sujeito, que se aproximara no meio da conversa.
- Vocês não vão
acreditar... Outra hora, outra hora eu conto em detalhes o que rolou.
Senti que era hora de
dar uma pausa na minha história. Até eu comecei a acreditar naquilo.
(B. B. Palermo)
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Normal
Tudo seria normal
não fosse a neblina
vinda do mar às 3 da tarde,
e quando acordei da sesta,
pouco antes das 3, não havia nem café nem açúcar
e as paredes descascavam como lagartas
prenhando borboletas.
Seria normal, não fosse a notícia
declamada por um vizinho,
professora desaparecida foi encontrada
dias depois dentro de um freezer -
e aí o cheiro de morte tomou conta
dos lugares mais sinistros deste apê.
Normal.
Garota cortou os pulsos
e quando o SAMU chegou
ela estava desmaiada
e na rua uns malucos me apontaram
o dedo.
Decidi então mudar para uma praia do nordeste
no próximo inverno...
Mas para hoje,
para hoje só me resta ir à barbearia
cortar o cabelo.
(B. B. Palermo)
O psiquiatra conhece!
No Instagram, me deparo com uma entrevista de um psiquiatra falando a respeito de uma droga ministrada a pacientes terminais, desenganad...

-
Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
-
Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...