A última verdade,
mentira, dissimulação,
sinceridade, verbo ser,
metáfora aleatória,
adjetivo qualquer,
grito, silêncio.
Alguma
coisa
será
pela última vez.
Resta a esperança
de outra
e outra
e mais outra
saideira.
(B. B. Palermo)
A última verdade,
mentira, dissimulação,
sinceridade, verbo ser,
metáfora aleatória,
adjetivo qualquer,
grito, silêncio.
Alguma
coisa
será
pela última vez.
Resta a esperança
de outra
e outra
e mais outra
saideira.
(B. B. Palermo)
Em Texas Beach,
por onde quer que vá
há um cão
abandonado
pedindo carinho.
Ainda não aprendi
a retribuir
todo esse
amor.
(B. B. Palermo)
- Cadelão, tá sabendo do tubarão
que apareceu em Texas Beach?
- Claro, Beiço, eu tava lá.
- Han??
- Tinha uma garotada metida a surfista.
Embriagado de poesia e cerveja, resolvi
dar-lhes umas aulas.
Assim que peguei a primeira onda, ela quebrou,
fiquei meio zonzo, engoli água e aí levei uma rabanada, assim, de lado.
Beiço, o bicho nadou em círculos ao meu redor,
me olhou de lado e falou:
ESTA NÃO É A TUA PRAIA, CADELÃO!
(B. B. Palermo)
Os ovos tinham aparência estranha, sei lá,
me esforçava pra raciocinar,
Eram de granja?
Galados?
O que significa, porra, essa cor rosada?
Secava as mãos num pano de prato
que fedia pra caralho,
Barbaridade, como pode esse cheiro,
se o estou usando não faz uma semana?
Veio à mente a possibilidade de uma faxina geral.
Fogão encardido, frituras e molhos derramados,
a pia entupida, copos, talheres, pratos.
A senhoria deixou um tapete comprido junto ao balcão da pia,
não tive coragem de verificar
a aparência dos monstrinhos que ali se escondiam.
Ao chegar no nono latão,
me dou conta de que o James está na área, e o ratinho me fita com admiração.
Óbvio, está aguardando o que lhe pertence.
Desisti da faxina ao lembrar o que o Buk me disse certo dia:
CADELÃO, SE O SUJEITO MORA SOZINHO E ESTÁ COM A COZINHA SEMPRE SUJA, EU TE PROVAREI, EM 5 ENTRE 9 CASOS, QUE O SUJEITO É FORA DE SÉRIE.
(Inspirado no conto "Sensível demais", de Bukowski. Livro "Fabulário geral do delírio cotidiano ").
(B. B. Palermo)
Você está morto e de nada importam
as cenas das novelas,
os jogos nos pay-per-views,
o noticiário nacional e internacional.
A lua segue seu caminho,
algumas vezes é lembrada e contemplada por apaixonados,
enquanto você despenca
no esquecimento.
Ator, empresário,
pai, filho,
neto, padre, pastor,
você já teve palcos,
vacilou, sacudiu a poeira
e se regozijou.
A vida cansa,
há a fadiga dos metais,
de cérebros,
corações, rins,
fígados, etc. etc. etc.
Papéis representados,
provisórios, ilusórios,
não acreditarmos que somos coadjuvantes
e por tempo limitadíssimo,
ridículo ou sublime.
Fique ligado,
você ainda está vivo
e a vida se alimenta do
movimento,
somos uns palermas emigrantes,
mutantes,
agarre a vida enquanto ela te acena.
Você pode ter bons momentos.
Não embarque no pessimismo semeado por aí,
dizendo:
DOS HUMANOS EU NADA ESPERO.
Tudo certo.
Não espere dos outros.
Espere de você.
(B. B. Palermo)
Quis encarar o mar
com a cerveja na mão,
quis fazer um duelo
mas saquei o surreal da coisa,
uma multidão sapecava na areia
enquanto me observava
e se besuntava com uns protetores
do Paraguai.
Apalpei minha pança
sapecada pelo sol
e decidi avançar contra as ondas
até onde a água acariciasse
meu umbigo.
Não sou bobo,
não brinco com o garoto
gingando e
roncando e
chicoteando
este corpitcho
que tem assumido 1001 tons
de camarão.
(B. B. Palermo)
Meia tarde, esperava
algo grandioso
que espantasse o meu tédio.
Poderiam desembarcar por aqui
centenas de alienígenas
ou baixar o fim do mundo,
que fosse.
Precisava de ação para conter o inevitável:
correr pro bar encher a cara
e o saco de uns bêbados
ingênuos.
Foi aí que percebi:
os cães que circulam
nessas ruas
têm mais alma
do que os ricaços
desfilando em seus
carrões.
(B. B. Palermo)
Você pode virar evangélico ou batista,
ou seja lá o que for,
pode jogar a vida toda na loteria
sem nunca ter sonhado com as 6 dezenas,
você pode chamar de retardado o garoto que solta fogos
na virada do ano,
e imediatamente foge pra não levar um tiro
e até acredita que foi o anjo da guarda que te afastou do perigo,
porque pais, tios, parentes do garoto são traficantes,
você se deixou convencer que uma entidade comanda o universo e, diante dela, não pode fazer nada,
senão aceitar o destino,
enquanto bebe todas e
todas e todos e etcétera e tals.
Você pode acreditar que a democracia está salva,
independente do contexto histórico e da vontade dos humanos,
ou acreditar em milagres,
dizendo que nossa liberdade está nas mãos de um deus.
Desconfio que o todo-poderoso
anda pouco sensível aos apelos de bilhões de formiguinhas.
Academias produzem músculos em série,
homens se adaptam
e o simples movimentar-se torna-se desfile de soldados com cabeça de papel.
Penso em tantas coisas que imaginamos e fazemos,
enquanto as ondas do mar
vão e vêm, vêm e vão,
beijando esses pés
tostados
pelo sol.
(B. B. Palermo)
Uma garota cruzou de bicicleta
com sua filhinha na garupa.
Pedalava em direção ao sol
do entardecer.
Ia serena e esperançosa,
e a menina segurava
uma flor.
(B. B. Palermo)
Cambaleantes, latões numa mão,
a outra segurando a caixa térmica
das bebidas,
os caras retornam da praia à tardinha.
Suas esposas enormes e sérias
e narizes empinados
debulham ladainhas
e seguem na frente,
indicando o caminho.
As crianças, bem nutridas
e com algum tédio,
caminham lentamente.
Diante dos sujeitos embriagados,
empurrando seus porres
e casamentos e férias,
é impossível não me perguntar:
Será que um dia eu chego lá?
(B. B. Palermo)
Seja leve, 2023,
como um garoto
zen budista
que ensina
a esperar
o que era pra ter sido
e quase foi.
Seja bom garoto, 2023,
continuo
a esperar.
(B. B. Palermo)
As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...