Tesão não faltava,
nossos corpos eram robustos,
vivos, ágeis,
como se tivéssemos a linhagem
dos leões,
havia mesmo a tentação
de comer até se empanturrar
com filmes pornôs.
Nossas jogadas eram ensaiadas,
quase nenhum improviso,
éramos peixinhos copulando num aquário
sob o olhar vigilante dos gatos.
havia mais músculos do que banha,
nossos corpos, porcos,
tinham a verve da procriação.
E então pintava uma dor,
pudera, pouco uso de camisinha
ou anticoncepcional,
era inevitável algum aborto,
era inevitável o sofrimento,
afinal, crescemos sob o olhar atento
da Igreja Católica Apostólica Romana.
Hoje acordamos cansados dessas trepadas fáceis,
queremos agora folhear uma boa revista,
porém, não há boas revistas,
como não há bons telejornais,
e chega o momento da gente se perguntar
se isso tudo não é pura mentira,
o sexo,
o câncer,
o infarto,
o suicídio,
a vida eterna,
o amor platônico,
o casamento,
a virgindade...
...
comprimidos pra dor de cabeça,
pra dormir,
pra eterna juventude,
pra eutanásia,
pra trepar na terceira idade.
Chegou o momento de desconfiarmos de tudo,
inclusive quando os amigos insinuam que,
apesar de nossos fiascos,
somos uns caras legais.
(B. B. Palermo)