"O prédio está torto".
"Não, a rua é que está torta".
Um vizinho diz ao outro
que o prédio invadiu sua propriedade.
Já que não há consenso entre as partes,
o melhor a fazer é implodir o prédio.
É assim que descemos e subimos a ladeira,
dançando no ritmo de ridículos conflitos.
Sugiro implodir tudo o que é concreto.
Pensamentos concretos,
olhares e desejos práticos,
sugiro reprogramar nosso cérebro,
até restar a capacidade cognitiva
de uma barata.
Seres especiais, baratas resistem bem às tragédias,
brotam dos esgotos para nos desafiarem
e rirem de nossa cara de sonsos.
Porém, não percebemos porque temos
sensibilidade de ratos,
deprimidos, ansiosos, insones,
ratos que até se envergonham da arte juvenil de se masturbar,
ratos que fazem dietas e engordam
na velocidade com que seus iguais procriam
e se adaptam a ambientes hostis,
ratos que fazem academia
e fortalecem a musculatura
e monitoram com impaciência
as variações anatômicas do órgão sexual,
ratos que são solitários até quando perdidos
na multidão e na barulheira...
E ratos tomam ansiolíticos
e leem uns bestas que trazem fórmulas
com breves itens ensinando
a arte de ser feliz...
Pena que ratos nunca ficam felizes
com o que contemplam
diante do espelho.
(B. B. Palermo)
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