quinta-feira, 17 de julho de 2025

Oficina literária I. Profe: pai do Cadelão. Aluno: Eliézer Milani


 

Cadelão dá as caras no bar.
Pede uma gelada e senta-se próximo do balcão.
Seu Bigode, o gringo dono do bar, pergunta como anda "sua literatura" e, com cara de troça, pede ao maluco se ele acredita mesmo que vai ganhar algum dinheiro um dia com suas obras. Afinal de contas,
há toneladas de gênios escrevendo por aí.
De canto, outro cliente, o Foca... escutando a conversa dos dois
enquanto bebe uma dose de bitter com cachaça.
Cadelão, inspirado pela cultura oriental e escritores chineses, pacientemente responde ao seu Bigode.
- Quando sobrarem teus ossos, vai restar esse teu bigode.
O gringo riu.
- Pouco importa se há muita ou pouca literatura.
Tal qual o calvo que não tem cabelos, ele vai sobreviver.
Mas o importante é o legado escrito que fica pra sociedade.
Já dizia o Mo Yan: quando morremos, nossa carne vai para a terra
e sobram nossos cabelos, tal qual a literatura e a arte -
essa vai continuar intacta, vai ser imortal.
E o Cadelãozinho ergueu o copo, num brinde.
Todos ficaram aturdidos e perplexos no bar,
só o Bigode riu e seguiu sem sacar porra nenhuma.
Mas aí o Foca se manifestou:
- Não sei se repararam, mas estou deixando meus cabelos cresceram
para a posteridade, quando sobrarem meus ossos.
Também serei imortal!
Cadelão riu, e disse:
- Eu sei que sim, maluco! Como da última vez que tu vendeu
teu cabelo pra peruca, pra comprar um kilo de erva!
Foca riu, naquela gargalhada que lhe rendeu o apelido:
- Naquela época eu era skatista. Hoje só quero
curtir a vida e meu gole, Cadelão!

(Américo Piovesan & Eliézer Milani)


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