Hoje vi o amor.
Não nos livros,
nem nos filmes,
caminhando manco e sem pressa.
Era o Sergião,
andarilho de passos gastos,
desenhando pensamentos no ar
com cada pisada torta.
Atrás vinha seu cão, o Preto,
com os olhos de quem já sentiu demais
e agora só observa.
Havia uma beleza ali,
um acordo mudo.
Sergião mancava com a perna direita,
o Preto, com a esquerda
e os dois iam
juntos,
como se cada tropeço fosse combinado,
como se o tempo também mancasse ao seu lado.
Talvez o amor seja isso:
não um beijo de novela,
mas um silêncio partilhado entre dois seres
que sabem das suas dores,
e seguem mesmo assim.
Um passo.
Outro.
E o mundo inteiro se faz menor
quando eles passam.
Mais suave,
mais humano.
(B. B. Palermo)
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