quarta-feira, 12 de agosto de 2009
DIÁLOGO - Mario Quintana
- Que fazia Deus antes da criação?
- Dormia.
- E depois?
- Continuou a dormir.
- Mas Ele não tem de cuidar do mundo?
- Ele está é sonhando o mundo: está sonhando até nós dois aqui conversando...
- Cruzes! Cala-te!
- Fala mais baixo...
domingo, 9 de agosto de 2009
sábado, 8 de agosto de 2009
MEU PAI
Meu pai tem que usar óculos para colocar a isca no anzol. Mas gosta cada vez mais de pescar.
Meu pai não lê as bulas de remédio, mas sabe de cor a maneira mais saudável de se alimentar.
Meu pai tem olhos perfeitos para enxergar longe, mas às vezes tropeça e se confunde com o que está debaixo do seu nariz.
Meu pai já teve mais paciência com seus amigos, mas continua a abrir as portas para eles.
Meu pai vive chamando a atenção sobre o certo e o errado, mas agora, acho que de tanto ler os jornais, silencia e aceita as coisas erradas dos governantes, que ele ajudou a escolher.
Fico orgulhoso do esforço de meu pai, embora muitas vezes ele se preocupa demais com o futuro, e esquece das coisas do presente.
Meu pai é meio distraído, ou finge não perceber tanta coisa que se passa comigo. Finge, sim! Porém, ator de tantas promessas e trapalhadas, meu pai é o melhor pai do mundo!
Ah, ia me esquecendo: mesmo distraído pra tantas coisas, meu pai nunca deixou de sonhar!
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
POETANDO - Flávia Menegaz
PAIXÃO
Não me lembro bem do dia em que me apaixonei pelo Aurélio.
Não sei se procurava pelo Antônimo, pelo Sinônimo, ou seria a Ortografia...
Ou será que, simplesmente, eu passava distraída?
Só sei que ele é mesmo estupendo! Ou melhor, esfuziante!
Às vezes é esdrúxulo, prolixo e até intrincado...
mas, quem é perfeito?
E mesmo sabendo que no arcóseo
há uma quantidade significante de feldspato,
eu não me importo.
Gostoso mesmo é esburgar as palavras!
sábado, 1 de agosto de 2009
MANDALIQUES - Tatiana Belinky
Limerick, em inglês, é o nome de um poema bem-humorado, feito de cinco versos. Os dois primeiros versos rimam com o último, enquanto o terceiro e quarto versos, mais curtos, rimam entre si. Um dos grandes expoentes nessa arte foi o inglês Edward Lear (1812-1888), mas quem fez com que o limerick se tornasse limerique mesmo, em português, foi Tatiana Belinky.
Uma das personalidades literárias mais conhecidas no Brasil, Tatiana Belinky nasceu em 1919, na Rússia, e chegou ao nosso país com dez anos de idade. Além de traduzir clássicos como Tolstoi e Tchekhov, criou e adaptou para a televisão inúmeras obras de literatura, dentre as quais se destaca a série O Sítio do Pica-pau Amarelo. É autora de mais de cem livros.
Sou um infeliz baderneiro.
Só quero fugir bem ligeiro:
Me mandam pra Marte
Ou pra qualquer parte
- Não sei para onde ir primeiro!
Comigo até a dona Marta
Brigou:- Eu de ti já estou farta!
Me deixa em paz
E suma, rapaz:
- Vai para o raio que o parta!
Eu acho o Janjão meio insano!
Com suas orelhas de abano
Em cima da hora
Mandou-me embora
Urrando: - Vai carregar piano!
As coisas comigo são chatas:
Até três simpáticas gatas
Mostraram-se bravas.
Mandaram-me às favas:
- Babaca! Vai plantar batatas!
Não sei se eu fico ou se chispo,
Não sei se me visto ou me dispo,
Quando o delegado,
Um tanto entediado,
Me diz: - Vai se queixar pro bispo!
Só espero um dia que chegue
Que eu possa montar no meu jegue
E todos aqueles
Mandões, todos eles,
Mandar: - Pro diabo que os carregue!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
FÉRIAS
terça-feira, 28 de julho de 2009
CANTIGAMENTE - Léo Cunha
TECO - desenho de Guilherme Barroso
sábado, 25 de julho de 2009
JARDINS
JARDINS – baseado numa crônica de Rubem Alves
Para Bachelard, "o universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o paraíso". Será que Deus, diante da escuridão e da confusão que era o universo, não sonhou com o paraíso (o seu jardim), repleto de cheiros de flores e ervas? Dizem os textos sagrados que as coisas que rodeavam Deus deixavam-no triste. "Foi então que ele sonhou com um jardim e compreendeu que era aquilo que o deixaria feliz, se existisse. E se pôs a trabalhar para plantar um paraíso. Terminado o trabalho, o Criador descansou, e se entregou ao puro prazer. Viu que tudo era muito bom (...) e resolveu que lugar melhor para se morar que um jardim não existe. E lá ficou, tomando prazer especial em passar em meio às plantas, à hora da brisa quente da tarde" (Rubem Alves).
Sonho com um jardim, e esse é um sonho apenas meu, resultado das lembranças plantadas dentro de mim, parentes das minhas saudades. Tudo isso para ressuscitar "o encanto dos jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas". Todos sonhamos com um jardim. "Em cada corpo, um Paraíso que espera..."
Nos sonhos fundamentais da humanidade não havia todo o artificialismo que hoje impera. Os metais, a eletrônica, não podem roubar de nosso imaginário as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas. E também nosso mundo interior não pode se tornar metálico, sideral, vazio...
Disse o místico medieval Angelus Silésius:
Se, no teu centro um Paraíso não puderes encontrar, não existe chance alguma de, um dia, nele entrar.
O poema de Cecília Meireles revela nosso lugar e nosso destino:
No mistério do Sem-Fim, equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro: no canteiro, uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro, entre o planeta e o Sem-Fim, a asa de uma borboleta.
Somos a borboleta. E nosso destino, um jardim.
(Alves, Rubem. O Retorno e Terno - Crônicas).
quinta-feira, 23 de julho de 2009
SAPO ENFEITIÇADO - Elias José
O sapo saiu sem rumo, com fome e com muita preguiça. Olhando a lua, viu voando a mais bela e miuda borboleta amarela. Parecia uma estrelinha ou uma flor voando. O sapo abriu a boca e ficou na boba espera. Na hora do bote pra engolir a borboleta, ficou parado, pasmo. De perto, a borboleta amarela era mais miuda, mais frágil e mais bela. Como destruir tanta beleza só pra encher a barriga? Era um sapo meio poeta!
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O SOM DO CORAÇÃO
Assisti ao filme O som do coração. Quer dizer, voltei a assistir. Havia passado para meus alunos do Ensino Médio, no ano passado. Lembro que havíamos debatido, após, sobre o mesmo. Dizia para eles, para além do drama do personagens envolvidos - o pai que doa o neto, quando ele nasce, e diz para sua filha, a mãe, de que ele havia morrido. O menino vivendo em orfanato, esperando ser “encontrado” pelos pais... E o jovem pai, que não sabia que tinha um filho, etc. etc. - que se ativessem, também, à mensagem que o filme trazia a respeito do lugar e papel que a música tem, ou pode ter, em nossa vida. O menino, um “prodígio” em música, tem a certeza de que vai encontrar/ser encontrado pelos seus pais através dos sons, que ele harmoniza com sua criação artística.
Nessas horas constatamos, com muita dor, a distância que separa ouvintes/saboreadores de arte de massa (ou massificada), e os gênios, com sua percepção “diferenciada” (termo usado hoje em dia também no futebol, para designar os jogadores acima da média..). Foi o que senti ontem, ao folhear um livro de história da arte, e direcionar meu olhar, por alguns segundos, às pinturas de artistas renascentistas. Há uma beleza nestas obras (seja em pintura, música, poesia, etc.), mas a possibilidade de captá-la eu não vou aprender na escola, na universidade. Nestes lugares serei apenas treinado para ver com um olhar pré-estabelecido, formatado por regras que foram pensadas pelos outros.
A sensibilidade que temos para criar ou para saborear a arte parece que vem de outro lugar, para além da educação que recebemos ao nos inserirmos numa cultura. Será inato? Não sei. A genialidade de alguém se resume na genética? De qualquer maneira, aqui estamos nós, meio zonzos com tantos sons (seja do radio, televisão, internet...), com nossos ouvidos “viciados” pelos ruídos (o que é, e o que não é música?) que teimam em se repetir, iguais para todos, sejam gratuitos ou pagos às lojas.
Pílulas diárias de fofoca
– Em Canela, ninguém cumprimenta ninguém! Em Capão, todo mundo diz “bom dia!”, “tudo bem?”. Aqui tu anda de bermuda e chinelos e ningu...
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Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
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Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...