Você que vai ao shopping e aluga o mostruário. Observa linhas e curvas, ângulos e formas, do pescoço até a cintura.
Você, que parcela o dia-a-dia em fatias de açougue,
mercado e farmácia, calcula o mês durante a noite, pra saber o quanto
pode esticar o seu carnê.
Você, um consumidor do bem. Que não se cansa de
vigiar e, se preciso for, acionar a polícia e o Procon.
Tens de deixar tudo em dia: IPVA, IPTU, vacinas e o
Título de Eleitor, e sorrir para as câmeras que te observam nas esquinas.
Você, que se acostumou com a rotina e serve de
exemplo e retidão. Para que tua vida continue tão bela quanto é, seja sério e
fiel consumidor.
Você, que controla gastos, raiva, medo e frustrações,
que desfila uma brisa de sabedoria, que troca o carro a cada final de ano, em
quarenta e oito suaves prestações.
Você, que absorve a opinião pública, previsível,
definitiva, com altas doses de senso comum.
Você, um consumidor do bem, que obedece às estatísticas.
Não as reais, frustradas pelo acontecer, mas as projetadas pelos deuses do
mercado econômico. Cresça, cresça, de preferência dois ou mais dígitos, até a morte te
acolher.
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)