terça-feira, 25 de março de 2025

Foi o que deu pra fazer

 


Dei o livro pra uma amiga que estava de níver,

nos seu 90 anos bem vividos,

e o Lutero, o cara do pub, exclamou,

depois que leu a contracapa:

– Palermo, tu escreve pornografia!

Foi aí que a Sibila, minha paixão insensível,

meteu-se na conversa e amenizou:

– Queridos, não peguem pesado!

O Palermo está meio perdido nessa eterna busca

por uma mulher Alfa, enquanto ainda tropeça

e cai nos braços de umas putas.

Não estressem o pobrezinho.

É como ele sempre diz:

“Foi o que deu pra fazer”.

 

(B. B. Palermo)


domingo, 23 de março de 2025

Coisas

 

Assim que a noite cai,

carros e motos passam pelas ruas

como ratazanas brotando às centenas de suas tocas,

e uma verdade toma conta do meu ser:

eu não consigo mais me apegar

a essas coisas.

Li que o governo quer liberar impostos

para idosos

na compra de veículos.

Fico em pânico, olho pro céu e pergunto:

– Pra que tanto automóvel, meu Deus?

Pausa, silêncio e aí percebo

que Deus cuida

de coisas mais relevantes.

Eis que passa na avenida uma motinha

toda fodida

e com descarga aberta.

Hoje em dia, minhas perguntas

ao todo poderoso  

não fazem qualquer sentido.

 

(B. B. Palermo)


quarta-feira, 19 de março de 2025

Um quilo de erva

  

O ônibus não estava lotado e eu poderia sentar

mais na parte da frente, mas escolhi o fundão.

6 poltronas e duas criaturas postadas, uma em cada lado, junto à janela.

Fiquei na poltrona central e segurei a mochila no colo.

O cara da direita era enorme e tinha uns olhos verdes

parados, fixos, provocando a minha atenção.

Na poltrona da esquerda, um serzinho, como eu diria... complexo...

unhas pintadas, voz de pré-adolescente encantado com o Cazuza,

quando cantava “quem sabe ainda sou uma garotinha...”.

Eu estava no meio de olhares cruzados, fixos nos meus.

Decidi encarar de frente o(a) garoto(a) e tive uma bela surpresa:

uns olhos verdes cheios de vida e malícia.

A criaturinha apanhou, de uma sacola plástica, um latão de Skol

e – ao abrir – deu aquele estalo.

Foi o suficiente para os passageiros se virarem de seus tronos

 – indignação, risadinhas, questionamentos:

– Cadê o motorista? Ninguém faz nada?

O ônibus seguia naquela sofrência urbana

e os dois pares de olhos verdes me encarando.

Refleti: “Não sei quem eles são nem sei quais as suas intenções...

e eles também não sabem quem eu sou”.

Poderiam acreditar que eu era um alemão ou gringo policial à paisana

portando na mochila uma pistola 9 milímetros.

Me veio, primeiro, a sensação de que estava num lugar perigoso

e de que o correto seria me bandear lá para a frente do ônibus.

Coloquei em prática um outro plano:

– Aí, Déby! Que lindos olhos, hein? Chocante!

Escuta só, dá um gole dessa Skol!

Devo ter falado num tom de voz mais elevado,

porque uma senhora reclamou:

– O motorista tá vendo tudo e não faz nada?

Dei um golão, e falei:

– Vocês não vão acreditar no que eu estou levando.

– O que é??

– Um quilo de erva!

Abri o zíper da mochila e apanhei um pacote

com dois pares de olhos totalmente fora de órbita

aguardando o desfecho da conversa.

 

(B. B. Palermo)


terça-feira, 11 de março de 2025

Um velho problema



Velho problema: a cerveja desencadeia uma alegria,

ações rebeldes driblam a autocensura,

o que era preto e branco torna-se colorido,

o feio torna-se belo e minha poesia vê rosas

e nenhum espinho.

Vocês sabem como é,

a conhecida e reconhecida carência sai do armário

e dança à flor da pele e o velho escroto transforma-se

num menino apaixonado.

Mas – vejam bem – no dia seguinte

a realidade pisoteia a  alma

e a razão faz sangrar o coração.

Se ela aparecer no prédio num andador

procurando pelo escrotinho do apê 0800,

com olhinhos faiscando e uma bengala em riste,

digam que ele foi descansar e dar um tempo

em Aldebaran.

 

(B. B. Palermo)


Toda Lorena

  Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...