segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Fui empurrado para o abismo da realidade

 

Olhava pro fogo mágico da lareira,

pena Lucy ser uma dorminhoca,

uma libriana racional

e prática,

perdeu a oportunidade de contemplar

minha voracidade

poética.

Ela simplesmente diz

que minha chama

acende por causa do álcool.

Não pago para ver.

Me recolho na risível insignificância

e concordo "sim, você tem razão,

apenas em meu íntimo sei que sou

muito comentado

e tão pouco compreendido

quanto a própria Bíblia".

 

Pena nossa rotina não ser perfeita.

Quero falar da vida mágica

que encontro nos pés de ora-pro-nóbis

se enchendo de brotos no quintal,

bem antes que o inverno acabe,

vem Lucy e me empurra pro abismo

da realidade,

lamentando a dificuldade pra pagar as contas

no final do mês.

Agosto se esvaindo,

então fico doido pra falar

das cores avermelhadas

do amanhecer

e do entardecer,

com a lua cheia despontando nesse cenário,

aí meu anjo vem me lembrar que tais cores

são consequência das queimadas

no Centro-oeste do país.


(B. B. Palermo)

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