sábado, 16 de junho de 2012

Operação "Eu resolvo!"

Ultimamente, venho quebrando a cabeça com as seguintes reflexões:

Árvore sente dor? Por que árvore insiste em brotar depois de podada? De onde vem essa vontade da árvore viver? Por que quanto mais alta mais frágil a árvore fica diante dos desafios do tempo?
Vou logo avisando de que não me satisfaço com as respostas da biologia e de outras ciências naturais.
A meteorologia está prevendo temporais para Ijuí e região nos próximos dias – o clima está destemperado, até parece imitar nossos conflitos sociais. No espaço de uma semana, a temperatura oscilou entre zero e trinta graus, mesmo que o calendário marque início do inverno para semana que vem.

Não consigo dormir tranquilo e o motivo não é apenas o tempo ou a onda de assaltos e mortes em nossa cidade. O verdadeiro motivo é uma árvore enorme no meu quintal, que está “doente”– seu maior galho foi dilacerado por um vendaval em outubro de 2010 e, diante de qualquer ventania, ela ameaça desabar sobre minha cabeça.
Manifesto preocupação com meus amigos, e aí começa o segundo capítulo da novela.
Cada um tem uma opinião diferente a respeito de como matar e esquartejar uma canafístula com mais de trinta anos e vinte metros de altura.
Eis que entra em cena um amigo filósofo que, desde sua infância, sobe nas árvores, poda as árvores dos quintais da sua família, amigos e vizinhos, e inclusive árvores do pátio da casa de sua sogra.
Meu amigo, que eu identifico como “Eu resolvo”, foi incisivo na sua avaliação do atual estado das coisas, quando se postou pensativo debaixo da canafístula.
Observou a disposição dos seus galhos próximos do meu telhado e do telhado do vizinho, fez cálculos, filosofou sobre cordas, serrotes e cinto de proteção para não despencar de lá de cima...
Foi categórico na avaliação: “Pode deixar que eu resolvo”, e pela metade do preço cobrado por um “profissional” em árvores, lenhas para fogões e lareiras e outros assemelhados.


Ontem de tarde, enquanto eu estava na escola disciplinado crianças e adolescentes, meu amigo foi executar a primeira parte da empreitada: cortar os galhos mais altos, usando cordas, para evitar que esses galhos caíssem sobre os telhados das casas. Liguei para ele algumas vezes durante a operação, mas seu celular estava desligado.
Eis que a tardinha recebo um torpedo seu:
“Fui lá + não deu e certo".
 Logo após receber sua mensagem, ligo para ele, mas o celular está desligado. E permanece desligado durante a noite e no dia seguinte, no caso, hoje.
Depois de uma noite mal dormida e com a previsão de furacões e vendavais para Ijuí e região, não resisto e mando para meu amigo “Eu resolvo” a seguinte mensagem:
“Tchê, tu desistiu da árvore? A meteorologia tá marcando um vendaval p Ijui. Meu vizinho tá nervoso. Abç”.
***


Observo as mais variadas opiniões dos leitores sobre os acontecimentos violentos que se sucedem em nossa cidade. Boa parte delas segue a mesma postura (ou tem a mesma pretensão) do meu amigo, a respeito da sua solução:
“Eu resolvo”, ou “Se fosse eu, saberia como resolver”.
Acompanho o futebol e vejo que as opiniões dos torcedores, com relação aos problemas dos seus times, segue a mesma lógica: 99% emoção e 1% razão.
Meus amigos, como vou saber qual a melhor solução para reprimir o crime e a vigilância das ruas, como posso saber qual a melhor solução para os problemas de minha cidade, se não consigo resolver o problema da canafístula do meu quintal que, a cada novo temporal, dilacera meu sono e enche de medo e de pesadelos a mim e a meu vizinho?


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