segunda-feira, 13 de setembro de 2010
CRESCI NA PAREDE
Há um retrato na parede
que aceitou ser a síntese
da minha geografia.
Gira no sentido anti-horário
para escancarar
toda a minha agonia.
Desenhado com cuidado
escolhido o melhor ângulo
maquiou a superfície
tragicômica do meu ego.
Dediquei muito tempo
em busca do meio termo
entre me mostrar e me esconder.
A ficha caiu quando me encarei de frente
e vacilei ao ver o retrato me observar
num desafio indiferente
do alto da parede.
Um dia, criança,
fazia bonecos reais e imaginários
com massa de modelar.
Era um tempo em que eu e meus amigos
desfilávamos poses cheios de história e sentimento.
Agora cresci
como a erva depois da chuva
no limiar da primavera.
Ombros, primeiro o esquerdo,
depois o direito, subiram até o alto,
para contemplar o mundo do outro lado.
Minhas pernas se alongaram tanto
correndo atrás de outros continentes
- aqueles lugares que sempre quis conhecer.
Cresci tanto e mesmo assim
vivo extraviado no meu canto
e já não consigo olhar indiferente
a este meu rosto que sorri
com ironia e espanto.
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