
Devo continuar judiando meu coraçãozinho para depois, em desespero, depositá-lo ao "deus-dará" nas mãos do SUS?
Na cachoeira dos teus olhos
havia dois lados.
Num deles um raio de sol
no outro um arco-íris molhado.
Conheci você de verdade
quando percorri os teus outros lados.
Dormiam lagos de lágrimas serenas
que não suportavam ser acordados.
Na cabeceira dos teus olhos fiz meu ninho.
Mas ninguém te avisou que por lá
alguém havia repousado.
O nome estava sobre a mesa, junto a livros, recortes de jornais e anotações que faziam o papel de agendas.
Era vendedora de loja de artigos esportivos. Se comprasse o tênis, ela ganharia comissão.
Não sou de retornar a um compromisso, rabo entre as pernas, cumprir uma promessa qualquer. Vencem os apelos de tantos novos acontecimentos.
Não joguei nome e cartão no lixo porque o prazo de validade não estava vencido. Ou foi uma distração, como juntar à velha agenda mais um novo endereço.
- Quem sabe um dia não vá precisar?
- Quem sabe...
Mas o tempo é cruel e nos faz esquecer, ou embaralhar as peças, fazendo a tranqüilidade de nossa engrenagem emperrar.
Aprendi a usar o controle remoto. Conheço a função da tecla “pause”.
A memória, seu nome, os compromissos, todos, todos estão salvos.
Salvo, eu quero dar muitos abraços, os sentidos a cento e vinte por hora.
Sem raiva, rancor e obsessão pelo progresso.
Quero assoprar as brasas das experiências. Não deixar as cinzas tomarem conta de tudo.
A pausa é o intervalo que aguarda o “play”.
Entre pauses e plays, quero manter o controle (remoto) de mim mesmo.
Carrego comigo
a maquete dos sonhos.
Tem praças, prédios e avenidas
calçadões e clarões
que se abrem entre os edifícios
para conversar com as estrelas.
Minha cidade maquete
é o abraço de mãos,
pensamentos e coração.
E nela cabe
jardins e canções
donzelas nas janelas
bancos espalhados entre as sombras
para os velhinhos conversarem.
Cabe mais uma rua
casa
escola
morro
placa
praça
bosque
riacho
o sino da capela
a tocar
cabe tudo quanto
você poça imaginar!
Artigo 1 - Fica criada a semana de três dias – sexta, sábado e domingo. Sexta será para a escola, no sábado e no domingo a gente folga.
Artigo 2 - Decreta-se o fim das fábricas de armas, tanques e outras porcarias de guerra.
Estas indústrias produzirão brinquedos e jogos em que a luta seja disputa amistosa.
Artigo 6 - Fica proibida a circulação de dinheiro, as coisas valerão o que elas são, e uma será trocada pela outra na grande praça a ser criada no centro e em cada bairro da cidade.
Artigo 7 - Fica decretado o fim das cercas, muros, portões, estacionamentos e edifícios comerciais.
Parágrafo único: No lugar de prédios imprestáveis serão plantados parques.
Artigo 8 - Toda cidade fica obrigada a ter pomares públicos, para que se possa subir em árvores e colher frutas.
Artigo 9 - Proíbe-se a entrada de carros nas cidades, eles permanecerão do lado de fora, como cavalos mansos, esperando a hora das viagens.
Parágrafo 1: Nas ruas só será permitido andar a pé ou de bicicleta, skate, pônei e patins.
Parágrafo 2: Todas as avenidas deverão ter canteiros com árvores, bancos, pássaros e, se possível, pingüins.
Artigo 10 - Fica permitido que qualquer criança dê sua opinião e que ela tenha tanto valor quanto a de um ancião.
Artigo 11 - Ficam esquecidas, a partir de hoje, as formas chatas de escrita (decretos, redação escolar, discursos); todo texto terá que ser música.
Se ela surgisse
vertendo sorrisos
desfiando a roupa
e cheia de planos
se me vasculhasse
tintim por tintim
com desejo ardente
de uma adolescente
se fosse vampira
que reaparecesse
a cada cem anos
pra sugar minha vida
com afiados caninos
bebendo meu sangue
fazendo tintim
com seu canudinho
e rindo de mim
chutaria o destino
pra tê-la comigo
lambendo meus sonhos
e rindo assim
se ela não fosse
vampiromaníaca
eu daria o fora
sem me despedir
e não me importa
que o monstro ou deus
agora se zangue
e suma pra sempre
e nunca mais faça
a coleta de sangue.
De vez em quando eu tenho uma tristeza.
Acho que é porque eu fico só.
Meus amigos fogem da minha agenda
e dizem que estão exaustos
numa rotina de dar dó!
Eu tenho a companhia de uma folha em branco.
É daquelas que aguardam, pacientemente,
A visita de dona inspiração.
É meu diário.
Não, não é festa, som alto,
brindes, piadas e outros encontros.
É pôr do sol, céu estrelado
e muito silêncio.
Nessa hora,
triste por ser refém
da deusa da beleza,
encontro algumas palavras
e também, com alguma sorte,
alguns versos e um pouco de amor!
Dei o livro pra uma amiga que estava de níver, nos seu 90 anos bem vividos, e o Lutero, o cara do pub, exclamou, depois que leu a ...