

A boçalidade
humana
não tem limites.
O noticiário alardeia uma carta
em que o compositor
Mozart
se queixa de sua sogra.
O Leilão da carta vale milhões.
É ridículo constatar
que a maioria
dos babacas
que passam o dia vendo
noticiários na TV
jamais ouviu
as composições
do Mozart.
(B.B. Palermo)
Vai com calma, meu brother,
um dia rola beijo e promessas de
"eu te amo!" e "te quero pra vida toda!",
no outro dia a tempestade faz estragos
e tua psiquiatra te olha com o jeitinho
de quem conhece os capetas
que fazem orgias
nas profundezas do teu ser.
Ela diz que você se embriaga
porque está deprimido,
ou se deprime cada vez que enche a cara.
Vai por mim, não levamos uma vida normal,
nos querem com o rabo entre as pernas,
curvados e cambaleantes pelas ruas
carregando toneladas de sentimento
de culpa.
Filhos da puta!
Você, eu, o maluco
do apartamento ao lado,
a diarista, o caixa do supermercado,
todos, todos, estamos fodidos,
não temos pra onde correr.
Médicos,
psiquiatras,
padres,
pastores,
vizinhas desocupadas
e amores
e paqueras
e ficantes
decadentes,
essas criaturas
que brotam às centenas
das sombras,
elas sempre têm
razão.
(B. B. Palermo)
Baby tem a mais louca
profissão,
passa as tardes
ouvindo histéricos,
psicóticos e neuróticos,
quase todos
doces e confusos
como eu.
É normal, baby fica
estressada.
Camarada, opinei:
- Fica fria, meu amor,
é só mais uma sexta,
TUDO PASSA!
Baby riu e, com seu jeito doce
de anjinho levado, murmurou:
- Até uva passa...
Ladrãozinho,
dos versos de Quintana
desta vez,
eu gritei:
- Uva passa...
EU PASSARINHO!
(B. B. Palermo)
Quando os caras atravessam
as fronteiras do sensato
e embarcam no ridículo,
navegam numa certa loucura.
Mas nesse tipo de paraíso
vislumbro a morada
dos medíocres.
Acho que a loucura sensata
é a que abre as portas
para sonhos e utopias.
Sensatos,
medíocres
ou ridículos,
o aconselhável é o esforço
para não sermos
sujeitos
comuns.
(B. B. Palermo)
Rapaz, percebo que no Texas
barba, cabelo, unhas e pentelhos
crescem bem rápido!
Só as pimentas e salsinhas,
couve, alface, rúcula e as ervas
andam com o pé no freio,
como se meus dedos
as oprimissem.
Quando minhas conversas à noitinha
na esquina do bar
são INÚTEIS,
apaga-se a lâmpada
no poste da calçada,
como se meus raciocínios
produzissem
curtos-circuitos.
Eu sei que ela manda
o seguinte recado:
- CRESÇA RÁPIDO, PALERMÃO!
(B. B. Palermo)
O padre
o pai
a mãe
chamam-me
para que os ajude a encontrar
seus filhotes perdidos.
Andarilho rebelde,
jamais contemplarei
como um profeta
estrelas ou nuvens
à beira dos lagos.
Sou prático,
um estressado com as 4 cadeiras
em torno da mesa da sala
com jaqueta, camisas e meias repousando,
umas senhoras vermelhas de plástico,
disfarçadas de cabides.
Pensamentos distraem-se com o joão-de-barro
catando coisas
na grama.
Bem que eu poderia construir meu ninho
no alto das torres
como fazem as caturritas.
No domingo, o padre Alfredo
chamou o rebanho
pra caridade,
Vamos levar arroz, feijão, papel higiênico,
leite e café aos necessitados!
Fugi da igreja e fui vender meus poemas,
reivindicava a alegria
de algumas cervejas.
Como sempre
não existo
portanto
não fui notado
pela alta voltagem
da sensibilidade
comunitária.
(B. B. Palermo)
- Pô, Cadelão, nem bem sarou o dedo
estraçalhado pelo anzol
e já tá subindo numa pitangueira?
- Beiço, tu já provou licor de pitanga?
- Hum... Já bebi de tudo,
inclusive gasolina.
- Véio, imagina o sabor dessas pitangas amadurecidas pela maresia.
Degusta uma aí, sente o sabor...
- Tu vai adoçar?
- Claro, mas não com açúcar.
Vai ser mel, do Zé do Mel. Conhece?
- Ouvi falar.
- Cara, as abelhas do Zé só beijam flores de eucaliptos e maracujás.
- Legal. Mas vê se não usa canha marca diabo.
Aliás, tu acha que consegue deixar curtindo por pelo menos uns 30 dias?
- Bah, cara, vai ser o meu maior desafio
pra 2023.
(B. B. Palermo)
Você-é-tudo-e-nada
ao-mesmo-tempo.
Num dia, revolucionário,
faz picadinho da tábua de valores,
mas logo se vê juntando os cacos de vidro
de mais um prato que quebrou.
Durante semanas brotam
cacos-espalhados-pelo-chão.
Hoje foi viagem total.
Um livro meu tem a possibilidade
de ser adaptado para o teatro,
e nessa le-va-da fui até o quarto borrifar perfume,
queria chegar logo ao bar pra beber umas
e brindar com os amigos
os-momentos-quem-sabe-possíveis-de-se-eternizarem.
Tanto delírio me levou a derrubar e espatifar
o frasco no chão.
Comentário de uma amiga psicanalista:
Diz muito o fato de você deixar as coisas caírem
e virarem fragmentos-de-histórias.
Em poucos anos de terapia
você compreenderá.
Quando eu era louquinho
cortava a realidade feito meteoro.
Hoje as coisas que toco
quebram com mais e mais facilidade.
O perfume não era importado.
Era apenas imitação.
Mas no final das contas
ficou um pouco do perfume
em-cada-poema-e-nas-minhas-mãos.
(B. B. Palermo)
O Zé lia seus poemas para mim
enquanto a bicharada se empoleirava
nas mesas próximas do bar,
declamando suas qualidades culinárias.
Gritavam todos ao mesmo tempo,
ninguém dava ouvidos a ninguém
- como desenvolviam suas panquecas,
seus camarões ao molho e etcétera e tals.
Zé pegava carona
numas sinfonias de Beethoven e Bach,
senti que desejava alcançar os olhos
de Deus.
No meio do bombardeio,
eu tentava entender onde o poeta iniciava,
desenvolvia e fechava suas narrativas.
Ele carregava uma pasta
com uns 1.100 poemas.
Não suportou emprestá-los
para que eu os degustasse com calma, em casa,
longe da rebelião dos bichos.
Será que um dia a galera vai ter alguma sensibilidade
e vai conseguir sentir o sabor
de uma obra de arte?
Imagino como foi com o pobre do Van Gogh,
pintando seus quadros
em meio a uns bárbaros
totalmente insensíveis
ao desabrochar
da criação.
(B. B. Palermo)
Olhava pro fogo mágico do entardecer, que mais parecia uma lareira mandando bem em viagens noutras esferas. Me encanto ao ver minha musa p...