O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
(Manoel de Barros)
Você mergulha no rio
de águas agitadas
chamado adolescência.
Desce e experimenta
o prazer de piercings,
tatuagens, narguilés
e outras carências
cômicas.
Você logo sente falta de ar,
hora de voltar
pra margem.
Tragédias e milagres acontecem,
é o que repetem
todos os dias
os jornais.
O show tem que continuar,
diz uma música.
É a vida passando
com sua
roleta russa.
(B. B. Palermo)
Tem o que olha pra um lado e passa pro outro.
Tem o que toca de calcanhar e às vezes acerta.
Tem o que demora pra passar e quase nunca erra.
Tem o que compete como se fosse final de copa.
Tem o que joga como se estivesse na copa
tomando um litrão.
Tem o que come e não engorda.
Tem o fofo que não tá nem aí.
Tem o que joga muito e corre o tempo todo.
Tem o que corre pouco e tem a melhor assistência.
Tem o que conta a história mais louca
na hora da sede
depois do jogo.
O que importa é que a amizade
entra em campo
o tempo todo!
Valeu amigos do grupo Arte/bola/Fernandinho!
Que musa é essa
que posta fotos
sugestivas
usando máscaras
pretas?
Ela construiu suas amizades
compartilhando brincadeiras,
conselhos e segredos.
Não dá mostras,
por onde passa,
de que é tempestade.
Publicou fotos
embarcando num ônibus
rumo a uma praia
de Santa Catarina.
Olhar sério,
face misteriosa
protegida por uma máscara
preta
estilosa.
Um amigo comentou:
"Mina, tu parece
um Pit bull de focinheira!"
Quando está sozinha
ela é atenciosa,
carinhosa
e amiga.
Quando não possui
territórios afetivos
pra demarcar,
é um doce
de comer
até se lambuzar.
Já estive com ela,
já escalamos montanhas e paredões,
mandamos ver nas boas e ruins.
Ela não é comum.
Conheço algumas minas
que esqueceram
onde enterraram
o seu ouro.
Ela sobe no ônibus e sonha,
enquanto roda o baú de lata.
Assim que chegar lá,
assim que colocar o biquini
e desfilar na praia,
assim que postar as primeiras fotos,
eu saberei que o show
já começou.
(B. B. Palermo)
Olho pra foto dela
que surrupiei do Facebook.
Olho a todo momento,
inclusive no bar
vendo as tragédias
do Grêmio.
Sentado na varanda,
meio bebum,
meio cético,
com a agenda ridícula
que prometo cumprir
assim que amanhecer.
Nariz engraçado,
difícil de desenhar,
olhos vivos de feiticeira
querendo me despir
e fisgar,
cabelos empapados
de quem saiu a pouco
do banho.
Quando deliro esqueço
que ela é muito ocupada
com suas monografias,
com sua militância
e seus contos de fadas.
Esqueço que ela vive distante,
como se fosse meu anjo
que está sempre de férias.
(B. B. Palermo)
O Tiagão e o Wolverine apareceram no bar
com um chester meio devorado,
dentro de uma sacola plástica.
O Wolve exibia uma câmera fotográfica Sony
das bem moderninhas - e dê-lhe tirar fotos,
que saíam desfiguradas, bem do jeitinho
como anda o mundo.
É que nosso herói não localizava
o flash da máquina.
Aí eu dizia pra ele, erguendo o copo de ceva:
Ô, seu maluco, você não leu o manual dessa bosta?
O Manetta esquentou a iguaria no micro-ondas,
e todos do bar provaram aquela delícia.
Acabada a ceia o Tiagão revelou que adquirira o penoso
com 50% de desconto, já que a ave era sobra
dos assados de dias atrás, dum cara de uma fruteira.
Pensei ir ao banheiro vomitar,
mas ao lembrar das condições fétidas da espelunca,
desisti da ideia.
Poeta nas horas vagas, meditei sobre
a vida pregressa da triste ave,
onde nasceu, cresceu, que condições existenciais
ela desfrutou na vida e etc. e tals.
LEI DA ATRAÇÃO
Não demorou muito apareceu no bar um sujeito
pilotando uma bicicleta das bem fodidas.
Era o fornecedor de erva e afins.
Foi mais um exemplo de que a lei da atração
funciona, feito ímã: tudo o que você pensa
e deseja vem até você.
Todo final de ano recarrego a bateria
de meus pensamentos e emoções
assistindo ao documentário "O segredo".
Todo ano eu começo mentalizando "sucesso",
"saúde", "prosperidade"...
Tenho quase certeza de que em 2022
eu chego lá.
(B. B. Palermo)
Você observa o vazio
que se distancia lá embaixo
e pergunta:
POR ONDE
ANDARÁ
DONA
MORTE?
Temendo
ter que assistir
a retrospectiva
das travessuras
realizadas durante a vida,
você se segura
receando chocar-se
com algo
ao cair
no fosso.
Você tem dúvidas
se no depois
vai flutuar
eternamente
ou se vai dormir
pra nunca mais.
(B. B. Palermo)
- Sossega, Cadelão... Como pode, nessas
alturas da vida,
tu estar com um pé na igreja e outro no
boteco?
- Beiço, escute só, os puteiros andam mais
ou menos,
e uma estranha alergia espirituosa não
larga do meu pé.
- Sei bem o que é isso. Tu tá é desvairado.
- Queria sumir por um tempo. Não
suporto o que vejo por aí.
- Cadelão, não me venha com esses papos
bem Belchior,
de que a tua "alucinação é
suportar o dia a dia,
e teu delírio é a experiência com
coisas reais".
- Rapaz, é sério. Semana passada tive
um sonho
e acordei com esta frase na cabeça:
"Crie bons hábitos para espantar o
óbito".
Sabe, Beiço, procurei uma psicóloga.
Pense numa magrona... em todos os
sentidos.
Quando falei pra ela que de vez em
quando tenho
umas premonições, a seca veio com esta:
"Cadelão, larga dessa mania de
achar que existem mundos paralelos.
E não leve tão a sério os teus sonhos.
Todo mundo sonha, todo mundo viaja.
E também não me venha com esse papo
fácil de que existem espíritos.
Não use subterfúgios para explicar as
merdas
que o teu subconsciente
apronta!".
- Cadelão, só tenho uma coisinha pra te
dizer.
Volte a ser aquele caótico que ficava
radiante
ao avistar o rabo das ciclistas,
cruzando como raio pela avenida!
(B. B. Palermo)
sou trocador de ônibus.
tenho 35 anos e quero me casar.
ter mulher, filhos, um lar.
meu nome é bundamental.
uma tarde, o coletivo parou
num ponto da praça seca.
subiu uma moça que era um sonho.
branca, peluda, dentes bons.
e que perfume!
meu nome é bundamental
quando passou na roleta, num ímpeto súbito,
a pedi em casamento.
meu nome é bundamental. genival bundamental
ela olhou pra mim e disse sim.
ali mesmo por cima da roleta
entre os passageiros, um beijo
selou nosso pacto sagrado.
meu nome é genival bundamental.
cuidei de tudo. alianças, igreja, padre, cerimônia.
no dia fatal, meu nome é genival,
eu lá. eu e o padre. ela nada.
uma hora duas nada.
enfim, chega o sacristão com um bilhete.
“querido bundamental
fui feliz enquanto amor entre nós houve.
agora vou ser feliz com um pé de couve.
daquela que um dia foi seu poema,
maria helena.
ps: a vida é curta para ser pequena.”
meu nome é genival. genival bundamental.
vira-latas tiram selfies nas esquinas
galos dançam no terreiro
cigarras lamentam a vida
formigas corcundas agradecem a deus
sapos saem da penumbra e berram:
- "meu time é o melhor!"
- "não é!" - "é!" - "não é!"
e assim se passam os dias
nesta fauna facebookiana
(B. B. Palermo)
Já fui o “docinho” de muitas beldades, executivas, professoras, gerentes de lojas e bancos, garotas de programa, diaristas. Doci...