Risquei o fósforo,
acendi o incenso de Alecrim
e falei pras garotas do seu uso
pra saúde do corpo e do espírito
por povos antigos.
Não ligaram,
só queriam ouvir
suas baladas.
Deviam estar apaixonadas por uns boyzinhos
ou traficantes de loló.
Quis palestrar sobre especiarias,
seus sabores e tals, mas desisti,
o alcance do faro delas
não passava de um flato.
Insisti na importância de ampliarmos
nossa percepção estética,
mostrando-lhes uma imitação
de um quadro Picasso
pendurado na parede da sala,
repleto de pó e de esquecimento.
Depois de outra dose,
disse-lhes que os uivos dos cães
nessas tardinhas de outubro
tinham um significado especial,
e poderíamos captar,
desde que soassem como um Mozart
em nossos ouvidos.
Permaneceram indiferentes.
Nada de gestos ou murmúrios,
nem ao menos alguns SINS suspirados
pelo piloto automático.
Estou encurralado.
Lembro do que o velho Buk me disse
numa noite de muitas doses
e baixo astral:
Cadelão, tua sensibilidade
diante das misérias desse mundo
vale menos do que uma cesta básica,
vale menos do que 10 litros de gasolina,
vale menos do que um frango assado
comprado aos domingos.
Não perca tempo tentando captar
as sutilezas do que acontece ao redor.
Há tantas outras seduções
cruzando teu caminho:
troca de casais em clubes de swings,
o prazer compartilhado e renovado,
traições, desejos de vingança,
tiros na cabeça, corpos esquartejados
encontrados dentro de malas
em valas nas periferias das cidades.
Ora bolas!
Você quer se afastar de tamanha adrenalina
pra se agarrar a um sentimento estético do mundo?
Meu velho, você tá é carente de amor!
Amor não! Você tá carente é de sexo,
muito sexo!
(B. B. Palermo)