- Quanto tempo faz que tu não toma banho?
- E isso faz alguma diferença na hora do "vamos ver"?
- Não... pagando bem... que mal tem?
(B. B. Palermo)
- Quanto tempo faz que tu não toma banho?
- E isso faz alguma diferença na hora do "vamos ver"?
- Não... pagando bem... que mal tem?
(B. B. Palermo)
Não seja bobo, Cadelão, desista de afiar a realidade
como se fosse arma branca pra te proteger dos perigos.
Talvez a realidade seja um aquário,
tua pátria,
teu meio de fuga,
tua válvula de escape,
a úlcera no teu estômago,
o guindaste que vai botar de ponta cabeça tuas crenças.
Tu é um peixinho indefeso na mira de predadores perversos.
Tu se prende facilmente às ratoeiras dos noticiários
e ao bombardeio do bando que te quer igual,
e te torne pacato quanto eles,
desejando converter a natureza implacável
que lhes é indiferente.
Meu, não há salva-vidas para todos,
e tu não é milionário, ao contrario,
tu és um lerdo e animado chinelão.
Já estivemos juntos nuns acampamentos hippies,
rolava maconha, sexo e nenhum estresse.
A vida era simples,
não se agredia o planetinha,
bastavam nossos copos,
nossos corpos,
nosso baseado,
nossas canções.
Odiávamos juntar patrimônio,
o barato era transcender.
Cadelão, parece que hoje as coisas fermentam e crescem,
e logo se retraem e cheiram a podre,
como bueiro de esgoto entupido.
Somos especialistas em pesquisar e compartilhar tragédias,
e os arquivos de nossos smartphones estão transbordantes
de vídeos e fotos e tantas outras merdas.
Ambíguos, temos fé e rezamos, e cremos sinceramente
que na hora do botar pra foder
Deus vai nos estender a mão.
Toupeiras racionais, adoramos ser românticos.
Até parece mentira que - nessas cruzadas de ódio
que vivemos uns contra os outros -
ainda perdemos tempo perguntando e escrevendo tratados
sobre o que é a felicidade,
o amor,
Esquece, Cadelão, é perigoso afiar a realidade
como se fosse arma invisível
para te proteger dos perigos.
A cretina já tomou posse
de tua conta bancária,
de tua alma,
dos teus nervos
e do teu coração.
(B. B. Palermo)
O inverno se aproxima
como um bicho estranho e imprevisível,
você mergulha numas reflexões profundas
que transcendem raciocínios ordinários,
e acredita que o sentido vai emergir
do fundo do poço,
é que um seu amigo está deprimido faz uma semana,
trancou-se dentro de casa
na companhia dos etílicos mais sacanas.
Você chama vizinhos e amigos,
sente-se um corajoso voluntário da Cruz Vermelha,
você acredita que tudo voltará à normalidade,
bons empregos, renda razoável pro povo,
crianças em boas escolas e em tempo integral,
ninguém vivendo ou pedindo esmolas nas ruas,
bichos abandonados sendo acolhidos
por lares aconchegantes.
Você é utópico...
Até acredita no equilíbrio entre
Eros e Tanatos,
você nunca vai deixar de apostar
na capacidade cognitiva e moral dos humanos,
você até faz orações e meditação,
está há uma semana longe dos bares,
você conseguiu, depois de décadas,
curtir hábitos decentes.
Você insiste, deseja crer
com toda a sinceridade,
mas o clima não é de primavera,
não há sol estupendo
nem flores maravilhosas.
O inverno está chegando
e você se depara com a fumaça rasante e fedorenta
que vem de mãos dadas com o anoitecer.
Os irmãos das vilas miseráveis,
com seus motivos estranhos,
tacam fogo em tudo o que lhes é descartável,
e castigam os olhos assustados de suas narinas.
Agora, e de novo, tudo queima,
seu coração, seu estômago,
plásticos, pneus e tantos trecos,
então você volta a pensar no seu amigo
que faz uma semana se autoexilou dentro de casa,
na companhia dos etílicos mais sacanas.
Finalmente, tudo faz sentido.
(B. B. Palermo)
Aos poucos a maré subiu no bar do Manetta
e a coisa se tornou o epicentro do mundo.
Veio gente de vários becos,
a sinuca bombando, e creio que eu estava
na sexta garrafa e andava cismado
e remoendo originais reflexões
a respeito das tristes horas que os alcoólatras
precisam suportar todo dia.
Flor pouco regada em tempos de seca,
dona Marilu apareceu no bar atrás do marido,
um maluco apaixonado por pedra.
Fantasmas estavam agitados em torno das mesas de sinuca.
Marilu sentou-se ao meu lado e fitou com desprezo
o cônjuge batalhar desesperadamente numas bolas,
num jogo praticamente perdido.
Funcionário, patrão e cliente de si mesmo,
Manetta jogava, bebia, atendia o público
e fritava pastéis.
Bêbados têm alterada sua percepção de beleza.
Aos meus olhos flamejantes, dona Marilu
configurava-se uma loira apetitosa,
e boatos davam conta de que estava carente de sexo.
Bêbados afrouxam seus freios verbais.
Avancei e atropelei as preliminares:
- Vamos cair fora daqui... Vamos lá em casa foder...
A dona me encarava de um jeito estranho.
Bêbados têm reflexos lentos.
Soluços diabólicos ecoaram
e brotaram das entranhas da dona,
e nessas horas, embora tardiamente,
até bebuns pressentem o perigo.
Não deu tempo pra ela ir ao banheiro.
Junto com o jato, sua dentadura postiça
postou-se a meus pés e ficou me encarando.
Dono de bar age rápido em situações
terrivelmente adversas.
Manetta trouxe um balde e um pano
e rapidinho passou uma borracha na cena.
Nuns lampejos de lucidez,
bêbados sentem o desamparo,
como se estivessem blefando com dona Morte,
então saem pelas ruas, tropeçam nos caminhos
e jamais esquecem o rumo de casa.
No dia seguinte dei falta dos óculos.
Vasculhei os aposentos e nada.
Tive um lampejo, deviam ter escapado
do bolso de minha camisa
depois do último tombo quando tentava abrir a porta.
Realmente estavam lá.
Bêbados têm uns anjos da guarda muito doidos.
Eles são amigos do peito.
Eles jamais ficam bêbados.
(B. B. Palermo)
O mundo está em ebulição
e o menino observa e se sente confuso.
Seus olhos complacentes veem as coisas
como se fosse a primeira vez.
Muita gente entediada,
uns duvidam dos outros,
poucos confiam nos seus.
Embora esse estado de coisas,
Os olhos do menino colhem segredos
que não aparecem nos noticiários,
e que o vento, as folhas e os bichos
não se cansam de murmurar.
O menino espirituoso tem a expectativa ingênua
de ser notado por seus iguais,
mesmo que estejam loucamente ocupados.
Acreditam que precisam dormir cedo e levantar cedo,
pois compromissos, coisas e pessoas têm pressa.
A carência de olhares, de afeto,
de perdão e de amor do menino
não foi preenchida,
continua no vácuo.
Sem problemas...
Amanhã ele vai recomeçar...
Como se fosse a primeira vez.
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
- Você acha que já se descobriu de tudo?
- Sei lá... Creio que chegamos perto.
- E se eu te disser que ainda falta A GRANDE
descoberta?
- Hum... Diz aí, me deixou curioso...
- Um dia os homens descobrirão que são irmãos uns
dos outros.
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
A criança vendia trufas num semáforo da avenida
e as pessoas dentro de seus carrões
aguardavam o sinal verde,
e diziam não.
Eu observava a cena devidamente acomodado
num bar logo ali em frente.
Eis que ouço a voz do meu guia espiritual:
- Eita planeta pouco evoluído, esse de vocês.
Esta criança devia estar estudando
e se preparando para ter um futuro decente
quando crescer, deixando aflorar
todas as suas potencialidades.
Esta criança não merece crescer assim
desprotegida e ouvindo tantos nãos.
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
Tanta gente comprando,
tanta gente dizendo coisas
interessantes,
fazendo versos,
fazendo planos
e viagens.
Tanta gente inventando,
vendendo e comprando coisas.
De minha parte, tenho feito tão pouco.
Eu só queria afinar minha voz
para tocar no coração
de tanta gente.
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
As coisas andam um pouco estranhas.
Me peguei dia desses lendo
o espiritismo de Allan Kardec.
Eis que me senti contemplativo,
admirando a via láctea
às duas da manhã...
Fazia um tour
depois de ter sugado
várias garrafas de Heineken.
Desfrutava de liberdade extrema,
uma carta de alforria da prisão
do mundo material.
Simpatizei com a ideia de ter uma vida sem luxo.
Doeu-me imaginar a face nada oculta e sofrida de um sujeito
pressionado o dia inteiro pra ganhar mais e mais grana
e comprar essas coisas que a gente vê descartada nos lixões.
Coisas estranhas se passaram na minha cabeça.
Cheguei a crer que o estresse do cão do meu vizinho,
uma mistura de Poodle com Shih Tzu,
que late furiosamente por qualquer coisa,
se dá pelas minhas energias mal distribuídas.
Descobri também que essas leituras que ando fazendo
não fazem o menor sentido pra boa parte dos amigos.
Eles estão cagando pra isso,
e você é o timoneiro das m*****
que se agitam dentro do teu ser
- Juro, li isso em algum lugar,
não me lembro quando...
O lado bom é você se sentir mais livre
e até imagina que é um sujeito privilegiado,
um cara "mais adiantado" espiritualmente.
Sim, você fez descobertas fodásticas
que nossa ciência ainda nem chegou perto,
e você se entorpece de cerveja e então ri
das paranoias desses pobres otários,
ouvindo-os repetirem pela enésima vez
seus fracassos cotidianos.
Você se diverte porque as dores deles
são tão repetitivas e nada originais.
É a insatisfação com o trabalho,
é a insatisfação com uma vida
sem criatividade e brilho...
Não, você não perdeu totalmente o juízo,
embora uma parte do teu ser seja pura dúvida,
e nem sempre está convicto de que o prazer
seja a única salvação pra essa vida tão morta,
que é trabalhar, dormir, pagar contas,
trocar de carro, lavar a calçada
e reclamar dos políticos.
A coisa desandou de vez quando os FDPs
elegeram o Lava a jato como um novo deus.
Você relaxa, coloca um Mozart pra tocar,
acende uns galhinhos de Alecrim
pra distensionar o ambiente e purificar o teu espírito,
apanha a caneta e o papel e se prepara
pra receber a visita da Rainha Vitória da Inspiração.
Afinal, centenas de cursos de escrita criativa,
oferecidos por garotinhas e garotinhos na internet,
garantem que você tem o perfil de escritor de sucesso.
E aí... Aí entra em cena o vizinho, que
avança imponente,
numa marcha militar, empunhando seu Lava
a jato,
está decidido a dar um trato na
calçada.
E o pior é que o cretino ainda reclama
das árvores do teu quintal,
dizendo que elas fazem muita sujeira.
(B. B. Palermo)
Olho desanimado pra alguns livros da estante,
geometricamente robusta
e encostada e impassível
na parede ali em frente,
desafiando meus olhos
e pensamentos.
Estou cético sobre a possibilidade
de encontrar uma linha sequer
que possa me inspirar.
Eis que ouço uma voz
de sino batendo
fora de hora:
"Velho, você tem que fazer
as coisas
com esperança".
Apanho um livro, chama-se
VIII Antologia de escritores
da PQP.
Leio as biografias
de dezenas de autores
e seus poemas e suas histórias.
Desanimado, confesso pro sino
que bate nas horas
inesperadas:
"Velho, posso tentar
turbinar
minha esperança
lendo uns poemas
do velho Bukowski?".
(B. B. Palermo)
Já fui o “docinho” de muitas beldades, executivas, professoras, gerentes de lojas e bancos, garotas de programa, diaristas. Doci...