Lembra-te que o tempo é um jogador que ganha todos os lances sem roubar (Baudelaire.
Não é por falta de assunto. É que nada que escrevesse daria ao leitor tanto prazer quanto o que se segue:
- Comigo a anatomia ficou louca: sou todo coração (Maiakóvski).
- O pensamento se faz na boca (Tristan Tzara).
- Belo como o encontro fortuito de um guarda-chuva e uma máquina de escrever sobre uma mesa de necrotério (Lautréamont).
- Quando as mulheres vão urinar, as árvores olham e não dizem nada (poema dos índios Macunis).
- Pulo das páginas em teus braços (Walt Whitman).
- Não há lugar para a morte; sempre vivos, os seres retornam todos ao Céu, em esferas de luz (Virgílio).
- Se hoje, o arcanjo, uma ameaça detrás das estrelas, desse um passo apenas em direção a nós, nosso coração, sobressaltado, explodiria (R. M. Rilke).
- Após a morte, deveriam nos meter numa bola; essa bola seria de madeira e de varias cores. Rolariam a bola para nos conduzir ao cemitério e os papa-defuntos encarregados dessa tarefa usariam luvas transparentes para despertar nos amantes a lembrança das carícias (Francis Picabia).
- Desse pão não comerei (Benjamin Péret).
- É preciso esgotar o campo do possível (Holderlin).
- Se a aparência expressasse a essência, a ciência seria desnecessária (Karl Marx).
- Os poetas não mandam no que cantam (Homero).
- A natureza ama se ocultar (Heráclito de Éfeso).
- Boca de fome, oh boca generosa / dizendo sempre a mesma água clara (R. M. Rilke).
- Aqui é a escola das árvores. Estão aprendendo geometria (Raul Bopp).
- A noite está bonita. Parece envidraçada (Raul Bopp).
- Eu te mostrarei o medo num punhado de pó (T. S. Eliot).
- Irmã sem memória, morte, com um só beijo me tornarás igual ao sonho (Giuseppe Ungaretti).
- Na casa havia nove irmãs. Uma foi comer biscoito. Deu um tangolomango nela, não ficaram senão oito (folclore).
- Fixava vertigens (Arthur Rimbaud).
- Lembra-te que o tempo é um jogador que ganha todos os lances sem roubar (C. Baudelaire).
- Mas as coisas findas; muito mais que lindas / essas ficarão (Carlos Drummond de Andrade).
- Então a nuvem passou e o tanque estava seco / Vai, disse o pássaro, porque as folhas estão cheias de crianças, ali escondidas e excitadas, contendo o riso / Vai, vai, vai, disse o pássaro: o espírito humano não suporta tanta realidade (T. S. Eliot).
- No ponto em que estamos, não há nenhum temor urgente (René Char).
- Voltei lá onde jamais estivera. Nada do que não era tinha mudado. Sobre a mesa (a toalha de linóleo em quadrados); reencontrei pela metade, o copo que jamais se enchera. Tudo continuava tal como nunca havia deixado (Giorgio Caproni).
- Alguém moveu Sírius de um lado para o outro (Murilo Mendes).
- E os chapéus das mulheres que passam são cometas no incêndio do anoitecer (Blaise Cendrars).
- Uma floresta cujos pássaros são todos de chamas (André Breton).
- Os bombons e as flores me dão dor de dentes (Francis Picabia).
- Minha mãe tocava piano no caos (Murilo Mendes).
- O poeta futuro cai do velocípede (Murilo Mendes).
- Se dom Pedro II vier aqui com história, eu boto ele na cadeia (Oswald de Andrade).
- Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre a legião de anjos? (R. M. Rilke).
- Para onde caminha minha sombra / neste cavalo de eletricidade (Augusto dos Anjos).
- Já vai escurecendo / o sangue pára de arder / Agora o que digo acendo / para não me perder (Vitorino Nemésio).
- Quem fizer amor dormindo / é logo expulso do sono (Jean Cocteau).
- Por ter roubado a Nissus, cabelos de púrpura / sua filha traz cães furiosos no púbis e nas virilhas (Ovídio).
- Meu amor de nádegas de primavera (André Breton).
- A mulher do fim do mundo / chama a luz com um assovio (Murilo Mendes).
- Mais abaixo do que eu, sempre mais abaixo que eu, se encontra a água. É sempre de olhos baixos que a vejo (Francis Ponge).
- Mal entrava no mato, era um delírio / Os papagaios se reuniam em bando, protestando / como um verdadeiro comício (Cassiano Ricardo).
(Folha de São Paulo, 11 de maio de 2008)