Era uma noite
toda estrelada
claro que depois
virou madrugada
com ela veio a lua
toda enfeitada
tinha brinco, batom
e blusa decotada
do horizonte veio o sol
todo arrumado
trazia um buquê de flores
era dia dos namorados!
ENTREVISTA para as alunas Taiane e Alessandra, da turma 43, do IMEAB – Instituto Municipal de Educação de Ijuí – R.S. - para a primeira edição de seu jornal.
Ao responder as perguntas que essas meninas me fizeram, pude rememorar, aos poucos, alguns dos primeiros (pequenos) passos como escritor. Percebo que, ao responder suas perguntas desse jeito, estou omitindo tantas outras coisas, mas não tem como escapar – quando narramos certos acontecimentos, sempre fazemos um recorte da realidade.
Professor Américo, qual foi a iniciativa para o senhor escrever seus livros?
Desde criança eu gostava de ler e escrever. Quando tinha uns 14 anos, eu escrevia redações na escola, que eram elogiadas pelas professoras. Algum tempo depois passei a publicar poemas num jornal semanal de minha cidade natal – Frederico Westphalen/R.S. Mudei para Ijui/R.S. para cursar a universidade (curso de filosofia) e também para trabalhar. Durante anos trabalhei na gráfica e editora da UNIJUI. Nessa época rabiscava poemas nos cadernos de aula, mas não publicava. Escrevia alguns textos para os jornais da cidade, que eram do gênero crônica. Depois da graduação em filosofia, comecei a dar aulas na universidade (nas disciplinas de lógica e filosofia). Cursei pós-graduação em filosofia política e fiz mestrado em filosofia e metodologia das ciências. Durante uns quinze anos me dediquei à carreira acadêmica (até início de 2006). A partir daí saí da universidade, morei durante alguns meses no litoral (é um desejo morar próximo do mar) e, não tendo o que fazer, decidi retomar os escritos. Acho que o fato de ser pai (meu filho, hoje, está com 9 anos) tem também influência na decisão de escrever e publicar livros para crianças.
Professor Américo, que histórias contam os seus livros?
No primeiro livro, Teco, o poeta sonhador, em: os mistérios do porão, inicia-se uma aventura no porão da casa onde o personagem mora. Ele encontra uma porta que não conhecia... Quando consegue abrir aquela porta, uma sucessão de acontecimentos inesperados vão se sucedendo. Isso é sonho, fantasia, imaginação ou realidade? Deixo para o leitor (a) decidir! Igualmente, o que vai acontecer no final. No livro, Teco toma contato com a história de seus antepassados, através de objetos que eles usavam no seu dia-a-dia.
O segundo livro, Teco, o poeta sonhador, em: os segredos do coração, trata da escolha do time do coração – Grêmio ou Inter... É uma história divertida, com rimas, que nos faz refletir a respeito de como as crianças, influenciadas pelos pais, tios, avós, etc., fazem suas escolhas.
Professor Américo, quando deu vontade de escrever um livro?
Acho que desde quando eu era pequeno. E tem a ver com os livros que eu lia, as histórias que ouvia. Principalmente o incentivo de minhas professoras. Muitas vezes, depois de adultos ficamos com medo de publicar, achando que vamos ser criticados. Esse medo da crítica acaba sendo uma enorme barreira. Não que devamos publicar qualquer coisa. Uma maneira de enfrentar os medos é treinando muito (lendo e escrevendo muito). Não ficar satisfeito muito rapidinho com o que escrevemos. Temos que tentar melhorar sempre. Há um ditado que diz: 99% é transpiração e o resto é talento e inspiração! O certo é que sem vontade, coragem e muito sacrifício, não vamos a lugar nenhum em qualquer profissão. Mas, acima de tudo, é importante gostar do que se faz. No caso do escritor (a), o grande desafio é escrever aquilo que toque no coração do leitor!
Das lições que aprendi na escola
muitas foram por obrigação.
Suas marcas não estão na alma
- se alojaram no currículo,
pra todos verem e elogiarem.
O que faz meus sentimentos
ferverem de madrugada,
não sai de diplomas
e porta-retratos.
Sai de lembranças
que tatuaram
- com pés de galinha -
o extrato do meu rosto.
Ao espiar o montão de arquivos esquecidos no computador, me deparei com esta história que meu filho, Giovanni, ajudou a escrever, quando ele tinha uns sete anos.
Era uma vez uma saracura que adorava passear, sempre vestida de saia.
Ela tinha pernas compridas e bumbum alto, igual um avião a jato.
Toda vez que ventava, ela levantava vôo e subia para o céu, pensando que era um balão.
Um dia o balão estourou e sua imaginação, que estava dentro do balão, saiu voando alegre por aí.
Imediatamente a saracura partiu à procura de sua imaginação. Voou para o sul, voou para o leste, para o oeste e, também, para o norte.
A saracura encontrou, finalmente, o primeiro pedaço de sua imaginação.
Nesse lugar havia uma flecha que apontava para baixo. A saracura voou nessa direção e, daí a pouco, encontrou uma cidade. Então a saracura procurou procurou, em cada uma das janelas das casas.
Na ultima janela a saracura encontrou cinco pedaços do quebra cabeça, cujo nome era “imaginação.”
A saracura saiu dali feliz da vida, achando que tinha recuperado a imaginação inteira, mas ela não sabia que o pior ainda estava por acontecer: o menino que, com uma flecha, tinha furado o balão da saracura, havia chegado em casa e visto que o balão da saracura era um troço que nem ele chamava de balão.
O menino saiu rapidamente de casa e foi atirando todas as flechas de brinquedo que ele tinha nas coisas que as pessoas tinham nas mãos.
A saracura fugiu e foi se esconder na floresta.
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante o amor.
Numa folha dobrada, sobre a mesinha de centro da sala de espera, estava escrito:
PRA DESPERTAR A MANHÃ
Até quando vou deixar que os outros decidam por mim?
Sei que sou responsável pelo que faço, mas alguma força maior do que eu entra
Não tenho certeza sobre o dia de amanhã. Mas o que serei depende, em boa medida, das decisões que tomar aqui e agora.
Deve-se aprender a conviver com o inesperado.
Mesmo num mundo de incertezas, não tem como fugir destas questões:
-saber qual o melhor momento para agir.
-decidir o que é mais importante.
- saber qual a coisa certa a ser feita.
Acabo de ler a mensagem manuscrita que encontrara, e percebo que as preocupações de quem escreveu são também as minhas preocupações.
As coisas vão de mal a pior
você se sente sozinho
cercado de lobos insensíveis.
Você olha para o céu
e nenhuma estrela aponta o caminho.
Nessa hora, precisamos captar uma energia invisível
que está em todo o lugar - mas que não se oferece assim no mais...
Organizar os pensamentos, mesmo que, no limite,
temos à mão apenas uma folha em branco do velho diário,
abandonado em algum instante do passado.
Rabiscarmos palavras, frases, pode ajudar a organizar
o mapa de nossos agitados pensamentos.
Esse é o processo.
Nisso eu acredito.
Minha religião é a do inesperado,
do imprevisível e inusitado
- e por que não mesmo do surreal?
Não vamos tremer, se de novo voltamos a ser aquela criança
que pedalou, pela primeira vez, a bicicleta, sem qualquer proteção. Tínhamos que ir em frente, senão cairíamos e nos machucaríamos.
Vencemos o medo, domamos a bicicleta, e tudo se normalizou.
Agora estamos crescidos.
Os desafios são outros.
Se vencemos o medo uma vez,
num mundo totalmente estranho,
habitado por bruxas e monstros,
podemos agora aprender a encontrar
outras maneiras de espantar o medo.
Acho que é pra isso que escrevo.
Minha bicicleta perdeu o freio,
e eu tenho medo de parar e levar um tombo.
As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...