quinta-feira, 18 de junho de 2009

EROS




Ao acordar
pela manhã
me perguntei
a quem me atreveria
amar.

Sem demora
a memória
apontou-me
quatro elementos:


terra
água
fogo


e ar.

Em seguida
a lua levada

lavou meus olhos,
enfeitou-se
de nova
cheia
crescente
e minguante.

Foi o bastante
para que as correntes
de sol e chuva
me levassem
a planetas
galáxias e
continentes.

E um eclipse, como uma garrafa
a vagar por anos e anos nos oceanos,
trouxe a mensagem do grande deus:
“És parte
migalha
milagre
de um todo
que sempre foi
e sempre será:
EROS”!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

QUAL A PALAVRA? Roseana Murray



Nas estradas mais antigas,

trilhas, atalhos,

nas montanhas altas, escarpadas,

nas vilas, nas cidades,

nos oceanos, cachoeiras,

em todos os rios

e fios de água,

em todas as ruas

e becos,

nos recantos escuros

e claros,

em cada pedaço

de mundo

grande ou pequeno,

uma palavra estandarte

costura a Terra no céu,

costura os homens na Terra,

inventa a vida.


Nos gestos de todo dia,

na mesa posta, no olhar,

no sorriso, na carícia,

uma palavra vem antes de todas,

é a chave da lua e do sol.


Lua perdida

nos quatro cantos

do mundo,

assombrando os sonhos.


Às vezes adormecida

no rastro vermelho

do sol.


Uma palavra é argila,

trigo e floresta.

É água macia

de lavar as mãos

e os corações.

Fio primeiro de todos os panos,

nessa palavra as palavras se banham.


Essa palavra tão pequena

e grande,

pássaro palpitante,

palavra viva em carne viva.


Palavra de mudar o mundo,

de fazer pão e telhado,

de abrir os cadeados,

as porteiras trancadas

do universo,

as águas azuis

que dormem no fundo

de cada homem.


Palavra escrita na palma

da mão de cada gente,

junto com as misteriosas

linhas da vida.

Junto com a trama

secreta

do destino.


É preciso soletrar

suas letras,

soprar bem alto

seu nome sonoro,

como poeira mágica,

como pólen, seiva

ou luz.


Nas chamas do dia,

nos ventos da noite,

pelos mares, oceanos,

desdobrar sua magia,

como se desdobram

as velas guardadas

de um barco.


Por todos os vales,

riachos, montanhas,

acordar seu nome,

soar seus sinos,

espalhar seu brilho.


Acordar seu nome

como o sol

acorda seus pássaros

e a noite os seus mistérios.


Para que os homens

de todas as terras,

de todas as línguas,

de todas as cores,

de todos os povos,

para que todos os homens

dancem junto com a terra

a dança silenciosa dos astros.


A dança secreta

dos astros,

desde sempre dançada,

infinitamente.


E para que a terra possa

continuar viva para sempre,

sempre viva rodando para sempre,

rodando para sempre,

rodando para sempre.



sexta-feira, 12 de junho de 2009

O AMOR - em tempos de encontros e desencontros dos namorados





Meio que por acaso, tenho em mãos o poema de Carlos Drummond de Andrade, Poema dos olhos da amada. Tudo bem, não é por acaso, já que estamos vivendo o “dia dos namorados”. Diz o poeta, na primeira estrofe do poema:



Eu te amo porque te amo,
não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.



A relação amorosa leva-nos a um conhecimento sobre nós mesmos. A pessoa, a quem amamos, coloca nossa identidade em risco porque, ao nos aventurarmos como amantes, nos deparamos com o incerto. O que ganhamos nessa aventura, onde o outro nem sempre corresponde a nossos anseios? Percebemos que existimos. O filósofo Kierkegaard foi quem primeiro relacionou os conceitos de amor e de vida ao conhecimento de quem somos - no sentido socrático do “conhece-te a ti mesmo”.


Ao pensarmos em amor para além das relações mundanas (provisórias, mutáveis), nos deparamos com a tradição dos gregos (e de Santo Agostinho), que pensam o amor pra além do efêmero, cotidiano e visível. Diz Sócrates, no Banquete: “Quem ama e deseja é porque não tem”. A questão que fica, é: o que amamos e desejamos, que tanto nos faz falta? Na visão socrática, amamos algo desconhecido, invisível, mas que não é efêmero nem passageiro. Amamos a sabedoria, que é universal e eterna. A dificuldade está em admitir essa visão filosófica e cristã sobre o amor. Temos dificuldade de considerá-la porque estamos presos à linguagem permeada de lugares-comuns de nosso cotidiano. Daí também a dificuldade em compreender o poema de Drummond:



Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.



Se o amante busca se assemelhar à sua amada, isto pode ser uma forma de conhecimento de si. O que ele encontra de semelhante é o amor. Diz Agostinho que “encontramos fora de nós o amor que sempre esteve em nós”. “Trata-se de amar os homens humanamente, ou seja, de confiar que em sua essência, e em nenhuma outra coisa no mundo, existe uma infinita capacidade de amar, o que se conhece e o que não se conhece. Pode-se pensar o amor como esse infinito que está sempre a faltar entre duas pessoas. Quando elas se encontram, o amor ganha corpo e o infinito se esvai, até que elas voltem a sentir sua falta”. (Paulo Henrique Fernandes Silveira. Amor sem fim. In: Revista Ciência&vida, ano III, n. 35).


Nessas horas de comemorações, muitas vezes turbinadas pelo “apelo comercial”, fica complicado convidar o leitor a desenvolver idéias requintadas, “pensamentos complexos”, sobre o amor. Discussões mais demoradas e profundas, sobre temas como o amor, não são de nosso hábito. Estamos habituados ao conforto, não ao confronto de idéias. Dia após dia a televisão fornece modelos de amor para que sirvam de nossos guias. Enquanto isso, o conhecimento que recebemos de nossa tradição cultural fica escondido nas estantes das bibliotecas. Mas perder o trem da história e da tradição é uma forma de acomodação, o que é péssimo para nosso intelecto.


Uma questão: se ao amarmos alcançamos um maior conhecimento de nós mesmos, isso pode servir de estímulo para mudar/melhorar nossa visão de mundo? Ficaremos mais autônomos e com maior capacidade na solução de problemas individuais e sociais, inclusive com relação ao amor? Alguns, ao “descobrirem” o amor, afirmam que a vida ficou mais colorida, viver ficou “mais leve”... Seguindo a concepção do filósofo Sócrates, de que o amor “verdadeiro” é o amor ao conhecimento, ao bom e ao belo universais, nos momentos de descoberta e vivência do amor em nosso cotidiano estaremos exercitando nossa inteligência no sentido de ampliar nossa sensibilidade (não no sentido egocêntrico, mais no sentido social/democrático)?



Tendo que parar em algum momento esta reflexão sobre o amor, reconhecemos que, sobre esse tema, é necessário, nalgum momento, recomeçar tudo de novo. A propósito, e para curtir o dia dos namorados com algumas dúvidas na cabeça, que amor é esse que o poeta Drummond evoca no final do poema?



Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem
(e matam)
a cada instante o amor.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O QUE EU QUERIA DIZER



O que eu queria dizer

ficou rabiscado a lápis

numa folha

dentro da gaveta

do escritório.


Lembro que falava

de abraço e de calor

pra aquecer o coração.


Já não lembro

de outras coisas mais.


Quem sabe

terei mudado

até o próximo feriado

e vou guardar num diário

sujo e rabiscado

as façanhas que virão.

domingo, 7 de junho de 2009

UMA PALAVRA SÓ - Angela-Lago



Mineira de Belo Horizonte, Ângela Lago nasceu em 1945. É autora e ilustradora premiada no Brasil e no exterior, com vasta obra para crianças e adultos. Para o leitor interessado em se aprofundar na sua obra, bem como nas suas idéias sobre a importância dos livros (e tantos outros temas, tais como o lugar e papel da internet nos dias atuais), basta acessar o site www.angela-lago.com.br.
O livro que aqui citamos (e recomendamos aos pais, professores e ao público em geral), Uma palavra só, traz a seguinte resenha da editora Moderna:

Era uma vez um rei mandão — como muitos — que resolveu
castigar qualquer um que falasse uma mentira (mentira pelo
menos no seu ponto de vista). Mas a primeira vítima do castigo
real é seu próprio filho, condenado a nunca mais abrir a boca
para falar, a não ser, única e exclusivamente... a palavra “exclusivamente”.
É assim que o príncipe sai pelo mundo, respondendo
a tudo: “exclusivamente”. Até que um dia ele conhece Eva, uma
contorcionista que o ensina a ler e escrever. Ele percebe então
que, a partir das letras E –X – C –L – U – S – I – V – A – M – E – N –
T – E, ele pode formar muitas outras palavras. Ao começar a
dizê-las, porém, é denunciado e levado à presença do rei, que
decide revogar o castigo e até mesmo entregar-lhe a coroa se ele
conseguir responder naquele seu método “exclusivo”, a três perguntas.
O príncipe consegue, ganha a coroa, e o rei descobre que
o melhor que tem a fazer é ir ter aulas com a contorcionista.

Um dos objetivos dessa história é o de provocar uma reflexão sobre o poder, e a intransigência daqueles que provisoriamente detêm sua posse. Nas relações sociais (onde estão em jogo os mais variados discursos, e os interesses em torno da sua verdade ou falsidade), o poder desempenha um importante papel, marcando as ações dos sujeitos.
Quando se trata da ação humana, os imprevistos fazem a diferença, ainda mais se entram em cena sentimentos grandiosos, como a descoberta do amor. Ao mesmo tempo, a descoberta e posse da palavra permite a comunicação e a ampliação da visão de mundo de seus personagens.


COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA (fornecidos pela editora)

Esta história divertida recria os tradicionais contos em que um
rei, prepotente, castiga um inocente e depois é derrotado, quer
pela astúcia, quer pela intervenção de seres mágicos e protetores.
Aqui, zomba-se da prepotência do rei logo no início, com o
ridículo castigo que impõe. A fada protetora aparece na figura
de uma contorcionista de circo, cuja mágica é saber ler e escrever.
E o rei, contrariando as expectativas, não fica furibundo com
a sua derrota: numa atitude muito moderna e original, reconhece
que precisa de aulas com a contorcionista — quem melhor
para ensinar as pessoas a ter jogo de cintura? Outro ponto positivo
deste bem inventado texto é o de brincar com a composição
das palavras, um estímulo prazeroso para a criança que começa a
descobrir os segredos das letras.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POEMAS DE ADEMIR BARBOSA JR. - Do livro O SAPO VOADOR






BANHO


por que castigo

se é a sujeirinha

que mora no umbigo?



BAGUNÇA


mamãe, não castiga!

eu sou a cigarra

você é a formiga


****


o louva-a-Deus

recita: sou apenas

um inseto


****


a lua respinga

nos olhos atentos

do gato escaldado


****

Pra finalisar, por hoje, um HAICAI

de PAULO LEMINSKI:


de colchão em colchão

chego à conclusão

meu lar é no chão

terça-feira, 2 de junho de 2009

XV Feira do livro da EFA e II Curso de Leitura e Escrita

Participamos (no dia 01/06), como palestrantes, do evento que está sendo promovido pala EFA/UNIJUI. O texto da palestra proferida encontra-se no jornal www.ijuhy.com, no link colunistas.




sábado, 30 de maio de 2009

FELIZ ANIVERSÁRIO

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan


Você lembra

como o tempo

se vestiu,

no dia do seu

aniversário?


Eu também não lembro,

e talvez isso pouco importe.


tenho a sensação de que

no tempo de criança

aniversariava num dia

de chuva e frio.


Hoje descobri que a chuva e o frio

podem estar no centro de nossos dilemas

e incendiar as lâmpadas dos postes da solidão!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

DIA DO DESAFIO



DIA DO DESAFIO É...


Acordar nocauteado pela insônia, às quatro da manhã, e resignar-se com a derrocada das tarefas que planejou, junto com a queda (em dominó) das mensagens de entusiasmo, sucesso e saúde, que foram cuidadosamente escolhidas da leituras de livros e palestras de auto-ajuda.


DIA DO DESAFIO É...


Saber que a insônia resulta das contas a pagar no início do próximo mês. Com ou sem sono, elas continuam na memória, ou nos lembretes que penduramos na porta da geladeira. Podemos desafiar-nos a ser criativos, a rir e apelar para a auto-ironia. Ou resignar-nos, já que boa parte dos brasileiros estão numa pior. Apesar de que não sei se está na pior o ralado, que não tem muita noção de sua condição - da falta de perspectivas, presentes e futuras - ou você, que se acha na posse de uma visão crítica da sociedade!


DIA DO DESAFIO É...


Botar fé no amor, mesmo sabendo que essa “palavra” significa muito mais do que os clichês das músicas pop, novelas e revistas, que fazem fofoca de gente famosa. O desafio criativo é o de conseguir se convencer que o amor irrompe de inesperado e imprevisível, dos encontros e desencontros, para além do que propõem a moda e o corpo sarado, ou “ficar” com alguém, que não se conhece, só para se gabar na roda de amigos.


DIA DO DESAFIO É...


Ligar para um amigo (a), ou familiar, que não vemos a muitos anos, aceitando sem medo a saudade. O desafio criativo é perceber e admitir que algumas perdas não se deram por causa do destino, mas sim devido a nossas escolhas. Porém, ser criativo é fazer algum esforço para amenizar essas “distâncias” e perdas, e nos darmos a chance de voltar a escolher.


DIA DO DESAFIO É...


Ser bruscamente sacudido por um clic ou estalido, que desperta dentro de nós. Não porque lemos em algum lugar, ou porque andaram comentando. Recortar e guardar textos que consideramos interessantes não tem nada demais, principalmente se nossa memória acusa o golpe da idade. Porém, considero um desafio mais criativo ser despertado por um sentimento espontâneo, que não foi contrabandeado dos outros.


EIS UM SINGELO, mas não menos importante desafio: como ser eu mesmo, original, em meio a tantas cópias e modelos produzidos em série!

domingo, 24 de maio de 2009

PEDRO COLOR PAULO

Desenho e texto de Giovanni Pasquali Piovesan


CDF,

Pedro

Color

Paulo

só pensa

em estudar.

Até hoje

ele não sabe

se tem o nome

por causa do cabelo

ou se tem o cabelo

por causa do nome!

sábado, 23 de maio de 2009

MIRO MALUCO

Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan


Está aí por que quis...

Ele descobriu que,

de vez em quando,

pode desobedecer os outros,

pra libertar da prisão o seu coração!

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...