domingo, 3 de maio de 2009

RICARDO SILVESTRIN




Do livro "Conversa com verso" - antologia de poetas gaúchos.


Último andar
até o céu
muito que andar

ninguém dá bola
mas as formigas
adoram coca-cola

vento forte
plantas portas pessoas
tudo se importa

formigas antigas
famílias de mosquitos
habitam o espaço restrito
onde eu habito
não pagam aluguel nem água
comem do meu sangue
da minha comida
e ainda devem fazer fofocas
sobre a minha vida.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

JOGANDO BOLA COM COCA-COLA




Giovanni, Lorenzo e Gabriel - alunos do CSCJ/Ijuí-RS


Joguei bola na escola,
tomando coca-cola,
fiz um gol de placa,
achei muita graça.

Meu time tem muita raça,
achei mesmo uma graça,
o goleiro frangueiro,
a torcida ficou rindo o jogo inteiro!

domingo, 26 de abril de 2009

A VOLTA DO BICHO-POESIA


Mario Pirata

A LAGARTIXA
DESLIZA
LISA, LISA,
SOLTA COMO FAÍSCA.

DESENHA A PAREDE,
ARISCA, ARISCA.
COMO UM RISCO DE GIZ
NA MÃO DO MENINO.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

LIBERDADE



Ouvi dizer
que estou proibido
de deixar um rastro
por onde passo

debulhei bilhetinhos
no banheiro
da Cozinha
sala e quarto

fui proibido
de jogar
pelo caminho
meias cuecas
camisas sapatos
garrafas sem tampa
frutas mordidas
e devoradas pela metade

mamãe é um rastro
de pólvora
a matraquear
que me prefere
tempestade
quer que arrase
por onde vou
com meu amor
emoção e liberdade!

terça-feira, 21 de abril de 2009

PEDRINHO




Pedrinho
sempre apressadinho
atravessou a rua
sem olhar para os lados
veio um automóvel
ainda mais apressado...

Que sufoco!!

Pedrinho
deu um susto
danado
no seu Eloi...

Cinco dias internado
cheio de impaciência
soro e esperança...

Mas ao voltar para casa
durante todo o tempo
o tempo tratou
de o lembrar
de que nada
compensa
se apressar!

domingo, 19 de abril de 2009

FRANKSTEIN



Menina
passeia
carregando
com carinho
seu brother
canino

orelhas
de pinscher
corpo e
performance
de lingüiça
alegria
alegria
de menino...

- Como se chama esse menino??

sábado, 18 de abril de 2009

TÊNIS PISCANTE


Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan



Menino
com tênis
piscante
no pátio
da escola
é disco voador
que muda de planeta
a cada piscar das luzes.

A cabine
de comando
dos seus pés
é uma torre mágica
que acende e apaga
toda vez que ele
chuta a bola
e faz um gol!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

CAMINHOS



Os rastros
que deito
pelo caminho
espantam meus olhos.

Quero, mais que tudo,
plantar pegadas
que cumpram promessas,
encontros e desencontros
em bares, lojas, igrejas
e estradas abandonadas.

captar murmúrios
sopros, gritos
e outros restos.

Olhar pra cima
e pra baixo
notar todas
as armadilhas
de meus passos.

Ai, ai, ai:
assopramos
as brasas
das estrelas

e as acordamos
pra que iluminem
nossos dilemas!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

CANTIGA DE ESTRELA


Maria Dinorah


Há uma estrela flor caminho
que me enche de alegria!
Não me deixa estar sozinho,
põe belezas em meu dia!

Essa estrela muito bela
tem perfume e tem canção.
E entre sonhos me revela
o cantor da multidão.

Pára o mundo ante seu brilho
que é mensagem e ternura,
congregando em estribilho
toda a humana criatura.

Meu amor vai nessa estrela
que tem asas e flutua
sobre a aba da janela
de um chalé na minha rua.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

EU, E MEU IRMÃO



Eu era Mameco
Armando era meu irmão.
Fomos esculpidos
Armando na frente
Mameco atrás.

Parapeito da janela
os olhos dos cotovelos
comprimiam o horizonte.

A curva da estrada
guardava seus segredos.

Armando era habilidoso.
No bodoque, era certeiro.
No trato com a bola, mais ágil.
Adorava trabalhos manuais.
Arredio, não gostava da escola.

Armando achava que tinha ciência
do que era necessário e suficiente
para dar tranco à vida.

Gibis e fotonovelas das irmãs
deixaram Mameco invocado.

A primeira foto
amarrado na cadeira
em frente ao galpão
foi seu passaporte
para o que viria depois.
Mameco maculou o quadro
eternizado na sala
de visitas da família.

Quem mirava a foto,
dizia, distraidamente,
que todos eram lindos.
Descobriu, mais tarde,
que não tinha se saído bem...

Mameco perdeu-se no milharal.
Roubou frutas dos pomares
contemplou lingeries
que secavam no varal.

Mameco não passou de ano.
Não ganhou bola, bicicleta,
ganhou castigo,
novena na gruta,
para expulsar a seca!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

SEXTA-FEIRA SANTA




Lá vai o calvário de Cristo
e uma multidão de anônimos
a seguir seu rastro.

Vejo meus pés encardidos
colados no chão.

Não consigo lavar
nem consigo sair do lugar.

Lamento não me lembrar
de todos os rastros
todos os dias
todos os lugares
que os meus pés
deixaram para trás.

Estou cansado de ver a tradição bocejar.

Preciso com urgência lavar meus pés
rever meu rastro e sair desse lugar.

Ovelha desgarrada

  Manhã de domingo, Beiço deu as caras: – Velho. Andei pensando. Está na hora do Cadelão parar de cair nas sarjetas próximas a bares para ...