sábado, 18 de abril de 2009

TÊNIS PISCANTE


Desenho de Giovanni Pasquali Piovesan



Menino
com tênis
piscante
no pátio
da escola
é disco voador
que muda de planeta
a cada piscar das luzes.

A cabine
de comando
dos seus pés
é uma torre mágica
que acende e apaga
toda vez que ele
chuta a bola
e faz um gol!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

CAMINHOS



Os rastros
que deito
pelo caminho
espantam meus olhos.

Quero, mais que tudo,
plantar pegadas
que cumpram promessas,
encontros e desencontros
em bares, lojas, igrejas
e estradas abandonadas.

captar murmúrios
sopros, gritos
e outros restos.

Olhar pra cima
e pra baixo
notar todas
as armadilhas
de meus passos.

Ai, ai, ai:
assopramos
as brasas
das estrelas

e as acordamos
pra que iluminem
nossos dilemas!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

CANTIGA DE ESTRELA


Maria Dinorah


Há uma estrela flor caminho
que me enche de alegria!
Não me deixa estar sozinho,
põe belezas em meu dia!

Essa estrela muito bela
tem perfume e tem canção.
E entre sonhos me revela
o cantor da multidão.

Pára o mundo ante seu brilho
que é mensagem e ternura,
congregando em estribilho
toda a humana criatura.

Meu amor vai nessa estrela
que tem asas e flutua
sobre a aba da janela
de um chalé na minha rua.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

EU, E MEU IRMÃO



Eu era Mameco
Armando era meu irmão.
Fomos esculpidos
Armando na frente
Mameco atrás.

Parapeito da janela
os olhos dos cotovelos
comprimiam o horizonte.

A curva da estrada
guardava seus segredos.

Armando era habilidoso.
No bodoque, era certeiro.
No trato com a bola, mais ágil.
Adorava trabalhos manuais.
Arredio, não gostava da escola.

Armando achava que tinha ciência
do que era necessário e suficiente
para dar tranco à vida.

Gibis e fotonovelas das irmãs
deixaram Mameco invocado.

A primeira foto
amarrado na cadeira
em frente ao galpão
foi seu passaporte
para o que viria depois.
Mameco maculou o quadro
eternizado na sala
de visitas da família.

Quem mirava a foto,
dizia, distraidamente,
que todos eram lindos.
Descobriu, mais tarde,
que não tinha se saído bem...

Mameco perdeu-se no milharal.
Roubou frutas dos pomares
contemplou lingeries
que secavam no varal.

Mameco não passou de ano.
Não ganhou bola, bicicleta,
ganhou castigo,
novena na gruta,
para expulsar a seca!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

SEXTA-FEIRA SANTA




Lá vai o calvário de Cristo
e uma multidão de anônimos
a seguir seu rastro.

Vejo meus pés encardidos
colados no chão.

Não consigo lavar
nem consigo sair do lugar.

Lamento não me lembrar
de todos os rastros
todos os dias
todos os lugares
que os meus pés
deixaram para trás.

Estou cansado de ver a tradição bocejar.

Preciso com urgência lavar meus pés
rever meu rastro e sair desse lugar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Thais tatuada II





Thais quer uma tatuagem
e isso não é segredo.
Faz tempo que ela
quer estampar
na pele alva
do seu ombro
o rosto do seu bem.

Seus pais desconfiam
que Thais sonhou demais
e ficou com a cabeça na lua.

O segredo está em saber
o que faz Thais querer...

E isso é uma coisa
que só ela tem
escondida

não sei se debaixo da roupa
nas linhas de sua mão
num cantinho da cabeça
ou no fundo do coração!

terça-feira, 7 de abril de 2009

APENAS UMA NOTÍCIA



Apenas uma notícia. Descrição de fatos. Porém, sinto que se inclina para o poético e o filosófico. Apenas sinto. Não me atrevo a maiores comentários... Acho que uma notinha dessas, no jornal, nos ajuda a ganhar o dia.

Nos EUA existe algo chamado “turismo das folhas”. No outono, excursões levam pessoas através da costa leste (...) para que vejam as folhas das árvores, que apresentam então um verdadeiro festival de cores: amarelo, alaranjado, vermelho. Mas isto dura poucos dias, porque as folhas, como era de se esperar, caem. Pois lendo um artigo de um dermatologista, descobri que não são só as folhas que caem no outono: os cabelos também. O autor sugere que isto pode ser um fenômeno sazonal: como o outono tem menos luz, a cabeça precisa de menos cabelos que a protejam. Faz sentido, quando se tem muito cabelo, mas os calvos deveriam ser poupados dessa perda. Afinal, as folhas voltam na primavera. Mas os cabelos? Para onde vão, quando nos abandonam? (Moacyr Scliar, Zero Hora, terça, 7 de abril de 2009)

Algumas lembranças de minha tia, a Itália



- Erva-doce é um chazinho
que acalma os nervozinhos!
Quando tomar demais,
não esqueça do xixi
antes de dormir!
E se no meio da noite você acordar,
corre logo pro banheiro
pro colchão não encharcar!


Ela recomendava
chá de cidreira
pra dor de barriga,
e semente de abóbora
pra matar as lombrigas.

A tia Itália era muito zelosa:
aconselhava água de melissa
pras crianças agitadas
e chá de hortelã
pras crianças...


Tia Itália parecia esquisita,
mas era só um pouco engraçada,
pois queria juntar no mesmo prato
rimas e comidas e piadas.

Ela dizia:
- Banana com maçã não rima.
Mas eu gosto das duas bem juntas
na salada de frutas!

Sorvete de morango e chocolate
não rima. Mas dão água na boca!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

CIDADEZINHA QUALQUER


Carlos Drummond de Andrade

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

TAIS TATUADA




Ela só quer
uma tatuagem
do Metálica
no ombro
esquerdo.

Seus pais
não querem deixar
porque tatuagem
é pra vida inteira
e bombom todo ano tem.

Thais bate o pé e diz
que não vai matar ninguém
quando carregar no ombro
e mostrar pra todo mundo
a beleza do seu bem!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

BEIJO



Seu beijo no meu rosto
acordou para o sol
e inundou a manhã.

Procurava um poema
nas lembranças armazenadas
- quantas foram esquecidas,
abandonadas? -

o poema veio sem medo,
num lampejo,
no acontecer do seu beijo!

Ele já estava lá

  As pessoas por perto pareciam murchas, daquele jeito, de ideias, uns sonâmbulos, e cansei também de trocar confidências com os cães ...