
ETs penetras
dividem
luzes piscantes
com as estrelas.
Faço xixi
nos fundos de casa
meu olhar escarafunchando
tudo o que há no céu.
Meu olho
(metralhadora giratória
de cento e oitenta graus)
promete desvendar
todos os mistérios
que se possa imaginar!
No alto, a Igreja.
logo abaixo,
a praça.
O menino deve
primeiro
cumprir o dever
e depois ir brincar.
Ciprestes
podados
cercam a praça.
Seu cheiro
mistura-se
aos brinquedos.
A praça
ensolarada
aguarda
as crianças...
O menino se esforça
mas sua imaginação
quer fugir do sermão.
O Padre fala de amor,
caridade e perdão,
e na recompensa
se ajudarmos os outros.
Ufa!
O menino
se esforçou
e cumpriu
o dever!
Agora ele pode brincar
brincar e brincar...
Até dormindo,
brincar e sonhar
com os brinquedos
daquela praça
abaixo da Igreja
que observa
toda séria!
O jornal é uma lanterna
depois que a chuva
se despede da noite
e se embriaga
de neblina.
Notícias da morte
apontam pra outros
gestos e trazem lamentos
nos corredores de casa
e seus labirintos.
Becos sem saída
aglomeram-se
no semáforo da esquina:
são crianças pedindo esmola
são números da loteria.
Meu tio repassa o jornal
pra nunca mais
ser anônimo...
Seu alvo é
o acumulado
da quina
- ele quer virar
notícia!
Não vou perguntar
se a loteria é fundamental
para mudar os rumos
da história ou
se é um lance
da fortuna
de meu tio!
Deveres,
deveres,
sussurram
meus tamancos!
Aquelas fotos horripilantes nas carteiras de cigarros, colocadas pra apavorar os que fumam, não me comovem mais.
Desenhei no caderno, dia desses, um esqueleto com cabeça de caveira, com um cigarro na boca. Mas não dei nome ao meu personagem.
Justamente naquele dia minha mãe me ajudou a fazer o tema de casa. Ela sempre elogia meus desenhos. Não dessa vez.
Todos os dias ela acorda no meio da noite e vai fumar na área de serviço. Basculante entreaberta, mão esticada pra fora, cigarro entre o “fura bolo” e o “pai de todos”, tragadas e mais tragadas.
Não estou mais ligando pra essa história de que o cigarro faz mal pra saúde, embora minha tia não agüente mais levar minha mãe ao pronto-socorro, pra baixar sua pressão, que de vez em quando fica a mil.
Ontem acordei e fui ao banheiro. A cena me marcou: minha mãe fumava, escorada na janela. Deu uma tragada profunda, e um clarão iluminou seu rosto.
O cara na praça manda ver nuns exercícios físicos naqueles aparelhos de merda que as crianças fazem de conta que são brinquedos. ...