sábado, 29 de fevereiro de 2020

Os ratos voltaram



Às vezes o canto do olho flagra uns ratinhos fantasmas disparando entre os móveis da sala. Falei pro Beiço, esses dias, de que tenho recebido no cafofo essas loucas companhias.
Um dos ratinhos conseguiu entrar na lareira e escalar sua parte interna. Disse ao amigo que penso fazer, à noite, aquele fogo e cheirar algo sinistro no ar.
Beiço chamou a atenção para a crueldade do meu ato. Eu retruquei: "Mudei a lei do Darvin. Não é o mais forte que sobrevive, e sim o mais cruel".
O Beiço me mandou tomar naquele lugar e aí acertamos a conta e partimos pra outro boteco.
- Tu é doido. Vive queimando dinheiro com bebidas e mulheres e agora quer queimar um pobre camundongo.
- Meu, é que ontem de noite sonhei que esse roedor de merda raptou minha carteira e roeu toda a grana que juntei (li-ci-ta-men-te) durante a semana.
- Hehehe... Lembrei de um livro que li na Década de Oitenta, "Os ratos", de Dyonélio Machado. O personagem principal, Naziazeno, teve um sonho parecido. A diferença é que ele era um trabalhador cheio de angústias e dificuldades financeiras, enquanto tu, que eu saiba, é um desocupado dos bem folgados...

(B. B. Palermo)

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