quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Ela é cheia de surpresas



Encontrei-a na praça. Ela e seu filho mais velho, que
tomava sorvete e escalava os brinquedos e que
fez uma cena de ciúmes quando sua mãe me abraçou.
Toda vez que a encontro é uma surpresa.
Não a via fazia uns três meses.
Nesse espaço de tempo noivou,
conheceu outro que a fez rever o que sentia pelo noivo e
romper com ele, engatar uma história com o tal sujeito,
que logo meteu-Lhe o pé na bunda.
O que mais me surpreende é o seu humor.
Ela ri de suas loucuras. E isso é fundamental para a sua e
a nossa saúde mental nesse cotidiano insensível.
"Segredei-Lhe" que tenho passeado de um trabalho para outro e
bebido sistematicamente e ela, mesmo sabendo de minhas fraquezas,
fez uma cara de preocupação, empurrando-me os velhos conselhos.
- Não tenho medo da morte.
- É, mas se você depender do SUS, estará em maus lençóis.
- Bom, o que não gostaria é de sobreviver a um AVC e dar trabalho pras pessoas.
- Não viaja, Cadelão, não viaja.

Era momento de partir.
Saquei que logo a conversa descambaria pros lados de nossa história
que nem bem começou e logo se desmanchou no ar.
Dei-lhe um beijo afetuoso na testa,
desviei do seu rosto, que explodia de vida e tesão,
e segui meu caminho.
Recordo que o entardecer vinha apressado,
e a temperatura estava baixa para um dezembro aqui no sul do país.
Nosso próximo encontro, se houver, vai trazer novas surpresas.

(B. B. Palermo)

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