Sou a esperança daquelas que abriram mão de realizarem
suas mais loucas fantasias.
Eu sou o delírio do amor tardio cheio de recompensa.
Desperto as garotas para salão de beleza, academia,
a parcelar cremes e perfumes, fazer ioga e massagens, atualizar o dízimo na
casa de Deus.
Abro as portas das livrarias para que elas comprem
livros que ensinam a arte de ser feliz e de como ter uma alimentação saudável,
uma mente saudável, e as estimulo a que decorem as rezas dos gurus da autoajuda.
Abandonei a missão de inventar a minha ficção para
ajudá-las a insuflarem a sua.
Deixei de ser fixo, de partir de um ponto fixo, de
ter ideia fixa. O que me fixa agora são os movimentos da sua paixão.
Não sei se vai ter segundo tempo. Eu sou o juiz
padrão Fifa que deixa o jogo correr.
Eu sou o santuário onde elas rezam. O santo do
altar, as velas perfumadas.
Eu sou o tempo da Quaresma, o tempo da Novena, o templo da vitrine do shopping.
Eu sou o apelo para um telefonema na manhã seguinte dizendo “amor, senti tua falta”, “amor, pensei o tempo todo em você!”.
Eu sou a noite mal dormida impichado pelo ciúme
febril, as unhas roídas pela alta voltagem do medo de ser abandonado.
Eu sou as fantasias que elas repetem e oscilam
como o pêndulo.
O tempo passa, o tempo não passa, e a dor é
incompreensível, nasce num lugar e se sente noutro.
E se eu estiver blefando?
Em vez de ser “o cara”, se eu fosse o vírus da
gripe, o inseto da zika, o corrupto inocentado, se eu fosse um verme à espera
da tua morte para corroer tuas carnes de maneira impiedosa, se eu fosse o Deus
tão proclamado, ou um reles mortal pecador promíscuo irresponsável, você me
destituiria do cargo?
Muito prazer. Na minha fantasia, sou Don Juan.
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
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