quinta-feira, 1 de julho de 2021
segunda-feira, 21 de junho de 2021
Voluntário do amor
Ouço as conversas dos jovens casais
e sinto que o clima está mudando,
o frio penetra até os ossos,
mas eu não ligo,
nada de culpas e medos.
Nascido em noite de geada,
não reclamo do frio metálico,
embora ele invada portas e janelas
dos guetos tristes.
Ouço a voz antes de me deter
no rostinho angelical, olhos, expressão
e os gestos da garotinha.
Aos poucos ela parece se interessar
por minha ficção - tô sabendo, bobinhos,
eu sou uma figura, uma quase ficção
em forma de gente.
Agarro a palavra e invento histórias
de encontros furtivos com entidades
que vêm de mundos pra lá de psicodélicos.
Passeio por entre os jardins do budismo,
as paisagens prosaicas da filosofia exotérica
e as leis de causa e efeito do espiritismo.
Estamos no meio de uma guerra - digo -
e você não sabe quem é quem.
Não confie em ninguém, baby.
Ainda estou aceso, ainda articulo meus raciocínios,
primeiro a premissa maior, em seguida a premissa menor,
amarro direitinho justificativas com conclusões.
Me acodem alguns acordes da Quinta Sinfonia de Beethoven
misturados a cenas do filme Laranja Mecânica.
Tchan, tchan, tchan, tchan...
Senti que a musa balançou, ficou encantada,
e me vi no lugar do Alex, personagem
principal do filme.
Nada de barreiras, nada de convenções,
eu sou o centro do mundo,
eu sou o Eu penso logo existo
do planeta.
O namorido deu sinais de tédio.
Afastou a garota dali.
Não pode ser...
Rolou um ciuminho?
Ah, como eu sofro!
Ah, como eu me divirto!
Ah, como eu queria mergulhar fundo
numas aventuras poliamorosas!
O velho Bukowski precisa saber disso:
seu discípulo escroto também rasteja por aí,
contando histórias divertidas e encantando ninfas,
rodeado e admirado ou odiado pelos garotos ingênuos
e sedentos de aventuras.
Os boysinhos não perdem por esperar.
Estou cansado de passar séculos implorando,
me arrastando feito lesma atrás de afeto,
mas tudo o que consigo é a incompreensão.
Danem-se.
Amanhã eu tento de novo.
Tô ligado, garotinhos,
eu sou um voluntário do amor.
(B. B. Palermo)
sexta-feira, 18 de junho de 2021
Picanhas
- Cadelão, esse povo tá mal acostumado.
Acha que pode comer carne de primeira a toda hora.
É chegado um novo tempo. É hora de se acostumar
com ossinho de porco!
- Carleone, Carleone... A coisa tá feia!
- Velho, descubra quem são as ladras
e vamos ser receptadores.
Se bonitas, comemos as duas picanhas.
Digo, as quatro.
(B. B. Palermo)
https://www.radioprogresso.com.br/ladras-de-picanha-furtam-o-atakarejo-kuchak/
quarta-feira, 16 de junho de 2021
Um bando de papagaios desmiolados
Uns caras surgem vagarosamente,
parecem desconfortáveis,
como se usassem cuecas novas apertadas,
bagos saindo pela boca.
Desconfio que esses malucos
serão os próximos psicopatas
a trucidarem crianças e professoras
numa singela escola de um lugar remoto do país.
Eles me fitam e dizem Estamos juntos nessa, brother.
Ganho tempo, enquanto arroto na cara deles
meia dúzia de ovos cozidos,
agorinha devorados.
Garotos, vivemos uma nova onda,
contamos agora com a grande presença
do Darwinismo social.
Os caras me encararam, creio que não sacando
a grandiosidade do que eu disse.
O dono do bar, o Manetta, buscou um litrão de ceva
e iniciou sua jornada apoteótica em torno da mesa de sinuca,
furungando as novidades da política e do futebol.
Lembrou também de um novo vírus,
parece que proveniente dos frangos
criados em cativeiro, sempre na China.
Radiante, mirei aqueles bonecos sonsos,
psicopatas amadores, e falei:
Sacaram? Nós somos os mais fortes,
vamos dar uma surra nesses vírus de quinta categoria.
Nós estamos no nível mais elevado da cadeia alimentar.
Nossa missão não é explodir crianças inocentes nas escolas,
Nossos verdadeiros inimigos são os "invisíveis",
vírus que estão brotando como chatos
nos pentelhos das putas.
Reparei que os moleques falavam as coisas deles,
como se eu não existisse.
Pena eles não conhecerem o Darwin,
nem saberem que somos macacos disfarçados de antas.
Uma pena mesmo, e isso pouco importa,
já que neste exato momento me convenci
de que não passamos de um bando
de papagaios desmiolados.
(B. B. Palermo)
domingo, 6 de junho de 2021
Movimente-se
Disse um filósofo:
"Conhece-te a ti próprio".
E então iniciamos o exercício
do autoconhecimento.
Aos poucos tudo ficou claro,
primavera invadiu o inverno,
de dia foi outono,
de noite foi verão,
confundindo, inspirando.
Há varias luas em você,
indo e vindo,
às vezes entristecem e ficam pálidas
minguantemente...
Mas apesar do pouco brilho,
uma lua cheia te espera
e acredita que pode iluminar
o caminho dos viajantes.
Somos viajantes solitários
contando às vezes com pouca luz.
Caminhamos porque temos esperança
que vamos mudar de fase...
Lua nova,
crescente,
cheia...
No universo, tudo está
em movimento.
Movimente-se!
(Pensamentos & Poemas Espirituosos)
quinta-feira, 3 de junho de 2021
Dando uns tiros no cafofo
Beiço aterrissou aqui em casa
com cara de desconfiado, óbvio,
quis me pegar com a boca na botija.
Invadiu meu lar e encarou minha alma nua.
Eu vestia um pijama surrado,
guardanapos molhados de cerveja sobre a mesa,
cobertores enrolados sobre o sofá,
folhas de jornal espalhadas pelo chão,
a pia entupida de louça pra lavar.
Ele foi logo averiguando quais livros
estavam espalhados sobre a mesa
- que drogas eu andava lendo?
Tudo se confirmou.
Alguém tinha assoprado:
Cadelão, por algum motivo surreal,
ou talvez por estar com medo de morrer,
quis encontrar algum sentido
nos livros de Allan Kardec.
Não sei se o cretino falava sério
ou se apenas debochava:
"Tu para com essa frescura de espirituosismo, Cadelão,
senão um dia desses eu pego meu 38
e dou uns tiros neste cafofo!".
Eu estava realmente oco,
creio que por ter acordado há pouco,
forçava, forçava, e não me vinha
qualquer pensamento bizarro ou austero.
Logo depois olhei pro teto e a verdade se revelou:
Beiço contara a todos os imbecis
que chamamos de amigos
o triste fim do Cadelão,
em sua fraquejada espirituosa.
Eu tenho minhas cartas na manga,
e sei que eles não compreendem,
porque não conhecem os segredos
do escritor intuitivo.
Os cretinos se encheram de existencialismo
e materialismo,
e não sabem a dimensão de minha alegria
ao captar as energias cósmicas que me acariciam
com suas lufadas inspiradoras.
Pobrezinhos desses irmãos céticos,
nunca vão acreditar que, neste exato momento,
estou sendo inspirado por Leminski e Bukowski.
Dois grandes, claro, dentre outros vários FDPs
que de madrugada sopram e assopram
versos perversos.
Meus amigos jamais vão alcançar
minhas "verdades" ocultas.
Quando ouço Mozart, por exemplo,
eu literalmente verto lágrimas,
tamanha é a alegria que a beleza da música
desse espírito da porra
assopra em minha alma.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 1 de junho de 2021
Eterno retorno
Queria ter boa assistência técnica
para descrever meus heróis
dos becos e botecos da cidade.
Eles sabem de tudo,
por isso o que me resta
é beber e observar.
Sua sabedoria joga dados
com assuntos que não ferem
seus desejos.
Quando pergunto sobre o sentido
de estarmos aqui, hoje, vivos,
depois de mais de 4 bilhões de anos
de existência da Terra,
eles pedem para que pare
de falar difícil.
Então eu silencio
e apenas observo.
Seus olhos e ouvidos estão conectados
com o que gira ao seu redor,
as demais paisagens não existem
- por favor, Cadelão, não force o verbo...
Por tudo isso, eu me calo e observo.
Eles são gente como a gente,
e amanhã pouco será lembrado
do que foi hoje palestrado.
O mais importante
é voltar no final do dia seguinte,
acionando os motores
do eterno retorno.
(B. B. Palermo)
sábado, 29 de maio de 2021
Isso tudo não importa
Sirvam-me um uísque barato
com duas pedras de veneno
para que suba à cabeça
dos que fogem do improvável.
Vamos nos embriagar enquanto é tempo.
Lobos riem dos sonhos
dos cordeiros asseados,
perfumados,
Bíblia debaixo do braço,
negando os perigos da vida.
Algumas doses de Cicuta
para os que se ajoelham
diante do que não compreendem
e não confraternizam a beleza
ao seu redor.
Sirvam uma alavanca de Arquimedes
para os broxas e eunucos,
sirvam uma dúzia de energéticos literários
para os ansiosos,
egoístas,
iludidos.
Sou especialista em desfilar
com essa gente etiquetada,
papos uniformizados,
ideias de linha de montagem.
Tenho epifanias nos lugares onde operários
bebem depois do trabalho,
e diaristas retornam para casa,
idade avançando,
ventre se impondo,
pernas afinando e, que terrível,
elas nunca saberão que eu existo.
Vacilante, caminho sobre a fogueira
que formata meu cérebro
de segunda a sexta-feira.
Somos uns caras legais,
estamos na meia idade,
um pouco curvados, é certo,
mas ainda temos oxigênio
pra queimar.
Foi-se o imponderável,
apagamos o fogo poético
com jatos de cerveja quente,
cigarros, café e a alegria fugaz
por ter ganho no Jogo do Bicho
depois de um bom tempo.
O bebum me direciona um olhar sideral
sugerindo que eu assista noticiários de TV
sensacionalistas,
mergulho com ele no abismo
e tenho orgulho das suas verdades patéticas.
Seja o centro de tudo,
sirva aos amigos em torno da mesa
os entulhos que deserdaram
de tua essência.
Isso tudo não importa.
Qualquer mau cheiro existencial se dissipa
ao contemplar a mãe que conduz a filhinha pela mão
retornando da escola para casa
no final de tarde.
(B. B. Palermo)
Teste vocacional para os meus poemas tristes
O cara na praça manda ver nuns exercícios físicos naqueles aparelhos de merda que as crianças fazem de conta que são brinquedos. ...
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Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
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Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...