quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Agora
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Viagens
– E aí, Cadelão, novidades?
– Sim. Estou grávido do terceiro filho.
– Kkkkk. Que viagem, maluco!
– Tu não entendeu, Beiço. Estou gestando o terceiro livro.
– E qual vai ser o nome dessa p**ra?
– Pensei num título, e tenho umas 4 dezenas de histórias
que precisam de muita poda, desbaste e replantio,
tu sabe como é.
– Título??
– Ah, talvez VIAGEM A PALERMO.
Só não sei como vou juntar grana
pra botar isso em prática hehehe.
– Simples, Cadelão: investe tudo
nas tuas viagens
imaginárias!
(B. B. Palermo)
sábado, 12 de outubro de 2024
Eterno retorno
Eis o mundo real em sua marcha lenta,
pacífica, rimada e bem comportada.
Ele ri e cochicha ao observar
o palerma voltar ao lar de madrugada
flanando pelas ruas como um bailarino bêbado
amparado por umas pernas de pau.
Confuso, ouço muitas vozes,
às vezes familiares,
às vezes bizarras:
“A SALVAÇÃO ESTÀ
EM CUIDAR DO TEU JARDIM.
Não liga pro rosnado dos animais
que riem de ti!
Repara, Cadelão, ferve por todo o lugar
o eterno retorno – regras planas,
comportamentos carimbados,
todos cópias de outras cópias!
Filhos imitam pais, pais repetem os avós...
E vão sendo costuradas
ridículas árvores
genealógicas”.
Saquei a coisa.
Não há salvação se imitarmos uns fanáticos
pichando versículos e provérbios
nos muros e paredes e calçadas.
Não há salvação, mas sim (talvez) um singelo
caminho:
ouvir com sinceridade pequenos budas
que me acariciam como chuva de verão,
lembrando do bom e velho dever de casa:
“Fique alerta, Cadelão!
Não perca as rédeas
do teu EU interior!”.
(B. B. Palermo)
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
Vendendo sonhos
Na traseira do ônibus da frente,
visualizo a publicidade:
“No meu Rio Grande
também se sente só”.
Fico espantado, até admirado,
com uma boa sensação.
Mas não pode ser – a publicidade vende sonhos...
Olho de novo:
“No meu Rio Grande
NINGUÉM se sente só”.
Vida que segue o fluxo.
(B. B. Palermo)
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Te prepara, irmão
De uns tempos para cá, sonhos estranhos
me fazem companhia.
Agoniado, contei pro Beiço, enquanto brindávamos
umas e outras.
– Velho, o sonho que tive noite passada foi sinistro:
um amigo, que partiu desta há um punhado de anos,
me apareceu todo faceiro usando uma daquelas jaquetas (de napa ou de couro? Não faço ideia...) exalando um perfume
de quem não sai do armário faz uma eternidade.
Meu, nossa conversa foi animada, um belo encontro
de amigos que não se viam há anos.
Aí o Beiço, eloquente porque meio embriagado,
ou embriagado porque eloquente, me interrompeu
e relampejou retórica:
– Cadelão, eu admiro as tuas viagens transcendentais – veja bem,
não falei TRANSCENDENTES!
Acho que tu percorre caminhos nunca antes trilhados no universo
e, olha só, pouco importa se entornando um Santo Daime,
chá de cogumelo ou fumando maconha.
De carona com os sonhos, a mente atravessa caminhos fodásticos.
Parabéns! Mas fique ligado, maluco!
– Cara, espera aí. Ainda não terminei de te narrar o sonho.
Falta a parte mais chocante.
No meio do papo com o finado, eu perguntei:
“Que novidades tu traz do outro lado?”
Aí ele se virou pra você, que se aproximou
e se intrometeu na conversa,
e falou:
– Te prepara, irmão, logo tu não estará mais aqui!
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
Mantenha a calma e me ensine a viver
Facas me atravessam
e acordo com o surto
de um alarme
no freezer do açougue –
basta ouvir os noticiários
e os zurros na internet.
Saudade dos tempos do coaxar
dos sapos e pererecas,
mesmo convencido
de que boa parte eram
vôos imaginários.
Sequestrado por folhas em branco
e latas de cerveja,
hoje sou patrola desesperada
gritando diante do abismo
dum pântano
cotidiano.
Espero ser adotado por uma dúzia de gatos
que me ensinem a viver do seu jeito:
em natural e espontânea liberdade.
Não mais me atraso no café da manhã.
O que importa, meu brother,
é manter a calma e ser tolerante e paciente
com as armadilhas bestas
que surgem no caminho.
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 3 de outubro de 2024
Confessando umas cachorradas
De um lado para o outro – ora vendo TV, ora fuçando nas redes sociais. Tudo muito chato. No Facebook, quase só maravilhas, é muita felicidade pra envergadurazinha dos humanos. Lembrei do Nelson Rodrigues: “Ou a pessoa confessa uma baixeza, ou não está confessando nada”.
Baixezas ou
CACHORRADAS, tenho uma ideia de como são, pensando em minhas andanças com Bárbara,
que tem uma profissão cujo nome é pra lá de bacana: SEX GIRL.
Um carro estaciona
bruscamente ali na rua. É o velho e querido doctor Biza. Cheira a álcool, mas
está ligado. Abro a geladeira e apanho uma cerveja, alcanço-lhe e retiro da
bandeja alguns ovos. Ele me observa, enquanto se esparrama no sofá:
– O jeito como tu
coloca os ovos na bandejinha diz muito de tua personalidade. Como tu faz com o
feijão?
Antes que esboce
uma resposta, ele diz, meio que zombando:
– Tem que deixar de
molho durante a noite. Senão, a feijoada vai produzir muitos gases – na verdade,
ele disse muitos p**dos –, e tu sabe como é sério o problema do efeito estufa!
Não queria a
companhia de alguém. Mesmo contrariado, fico na minha, mas penso: Sim, doctor
estrambótico, cada movimento que meu corpo faz mostra a essência do meu ser,
inclusive na hora dos fogos. E tu, nobre sábio, desenvolveu a verdadeira ferramenta
para compreender isso.
Ao deitar o verbo,
solta no ar gotículas avinagradas, e sempre começa com um "tu sabia
que...". Matutei: Bobinho, esse conhecimento que tu tanto apregoa vaza
água no final. Tantas teorias e tratados – que se mostravam a solução dos
problemas – hoje não passam de ridículos ensaios cômicos. Doutor, não te apegue
a tanta coisa que tu escuta por ai!
Mais relaxado, Biza
esparrama pela sala suas aflições, e eu sou agora o psiquiatra.
Bastou 5 dias longe
dos drinques para evaporar meia dúzia de quilos. Afastou-se também da carne
vermelha e dos refris.
– Cadelão, prometi
aos deuses que, de vez em quando, vou dar um stop nos líquidos e colocar meu
fígado num SPA. Meu guia espiritual me elogiou: “Agora tu tá bem melhor!
Continue assim!”. Profetizou num jeito paternal, e intuí que me livrei de algo
pesado, tipo um câncer ou cirrose. Sem meu guia por perto, sou um gênio indefeso.
Com ele, sou um ser especial e que necessita de uma vida sóbria e que isso será
determinante para aprumar a humanidade.
Vai despejando a
coisarada, enquanto eu murmuro "aham... aham...".
Agora o Biza fala
do sítio que sua mulher herdou. Eu seguro as lágrimas, tantas vezes desejei
morar no meio do mato, afastado da correria e dos gritos urbanos. Criar porcos
e galinhas, pescar lambaris à tardinha num córrego de águas tranquilas.
Transpiro sensibilidade quando ele diz que está medicando algumas árvores – as pobrezinhas
foram atacadas por cupins. Aduba, mija nelas, fala, canta e abraça suas amigas,
e elas estão reagindo bem!
É muita emoção, gurizada.
Não posso me queixar. Consegui uma graninha para repor e manter o estoque de
bebidas. Vivemos "em um mundo sem esperança, mas sem desespero" –, foi
o que disse Henry Miller na década de 1930. Agora, em 2024, parece que estamos
na mesma.
Biza continua fodão.
Tudo porque a mulher o botou pra correr. Passou os 3 últimos dias fornicando
com umas putas sacaninhas – como é que se chamam, hein? Ah, sim, sex girls.
Em alguns dias fará
a síntese dos conhecimentos adquiridos numa pluralidade de cursos online e
jogará retórica pra cima da mulher e ela deitará enfeitiçada e viverão uma
invejável lua de mel.
Que fim levou a
Bárbara? Vocês querem saber.
Não sei por onde
anda, só sei que me reserva um lindo lugar no reino da fantasia (ou será da
anarquia?). Não sei se sou de alguém, ou se tenho alguém, ou se vagueio pelo
mundo. Quando a procuro, nalguma boate, carrego a dúvida: ela ainda me quer, ou
algum pilantrinha com mais grana se afeiçoou e demarca o seu território?
(B. B. Palermo)
terça-feira, 1 de outubro de 2024
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
Eu sou zen
Perguntaram-me:
– Você é colorado ou gremista?
Fiz um gesto largo e demorado e calmo,
apontando vales e montanhas imaginários,
e sussurrei:
– Sou budista!
Pessoas entram e saem dos campeonatos diários
meio mortos, meio putos:
sobreviver, sobressair, competir,
ser visto ou lembrado,
ser amado ou odiado.
A natureza é espontânea e sábia:
a lua cheia dá lugar pra minguante
que por sua vez dá lugar...
ela quer muito nos ensinar...
porém mas todavia nós humanos, bestas,
dizemos que sabemos o que queremos,
e subimos e descemos de balanças
das farmácias
e apostamos todas as fichas nos centros
espíritas e igrejas e ofertamos as pobres
reservas econômicas nos jogos de azar.
Amanhã – eu prometo – dou entrada
num mosteiro!
(B. B. Palermo)
domingo, 29 de setembro de 2024
Cadê o café?
Caminhava pela calçada
e bati de frente com um velho solitário, jeito de transtornado. Falava alto e –
mesmo que estivesse a poucos metros de distância – não deu por mim.
O final do dia,
além de abafado, anda estranho – pensei.
Quando era criança,
cenas como essa impressionavam:
– Nossa! Um louco!
Cuidado, gurizada!
Mas quem liga pra
isso hoje em dia?
Algumas vezes, ao
retornar pra casa do bar – meio que levitando – também falo sozinho. Porém,
tomo o cuidado de o fazer um pouco tarde da noite, quando a comunidade assiste
TV ou está num sono profundo.
Se é noite de luar
ou o céu está estrelado, converso animadamente com as estrelas e a via láctea –
representantes de Deus aos nossos olhos, dizem.
Aos 18 anos, quando
servi o exército – numa cidade que ficava a uns 700 quilômetros de onde morava
–, trocava cartas com uma garota adolescente. Depois de despachados pelo
correio, os suspiros amorosos demoravam mais de uma semana pra tocarem seu
coração. Recebia a resposta da garota –
contida, racional, se comparada aos meus delírios poéticos – mais de 2 semanas
depois.
Podia ter escapado
de servir o exército, mas disse ao comandante, na entrevista derradeira, que
queria ficar. O que fiz aos dezoito anos eu faço até hoje: gosto de sofrer,
gosto de sentir saudade – morando longe das pessoas mais próximas. Quanto a
isso, psicanalistas e psiquiatras têm o conceito na ponta da língua para
"classificar" meu tipo de neurose. Fodam-se!
Ou esses experts
diriam que foi uma atitude louvável de minha parte: a busca pelo novo; não me
acomodar ou me prender à aldeia em que nasci e cresci.
Se eu não sabia o
que queria, parece que já sabia o que NÃO queria. Insistiram para que fizesse
carreira no exército – mas, realmente, não nasci pra isso.
E tu nasceu pra
que, então, seu bucéfalo? – perguntariam vocês...
Pelo menos durante
década e meia, escrevia muitas cartas. Não sei como as garotas suportavam
páginas e páginas daquelas "viagens" – será que elas guardaram as
cartas ou as rasgaram ou queimaram ou as depositaram numa lixeira?
Acho que esse é o
ponto: talvez o exercício da escrita salve, liberte ou evite que o ridículo reboleie
pelas ruas falando sozinho.
Ao recordar minha juventude
– mais do que fominha ou patético – até acho engraçado. Tinha aspirações
literárias. Sonhava me imortalizar como poeta hehehe. Não fazia ideia de que
todo esse sonho cairia por terra, bastava me apaixonar por alguma garota. Foram
várias paixões. O malukinho amou e a arte evaporou.
Juvenil, não tinha
qualquer maturidade e noção de que poderia "reencarnar" almas
criativas de outros tempos, que me presenteariam incríveis histórias – e o
caminho para isso eram as leituras de muitos (e bons) livros.
Quando a inspiração
surgia, o espírito (líquido) se desviava dos caminhos criativos ou insights. Com
certeza, não tive um mínimo de "café" para compreender e decifrar
essas histórias e desenvolvê-las no papel.
E hoje?
(B. B. Palermo)
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
Ele é visível, finalmente
Nadava de braçada e tinha a sensação
de que não saía do lugar,
aí conheci uns caras da política
e aconteceu:
as eleições abrem as portas
e o Palermo ficou visível.
Quem sabe ele consegue lançar seu livro
na feira daqui?
Duvidas, ou estás em dúvida?
O poeta – mais doido que seus amigos andarilhos –
anda com um pé atrás do outro
nessas praias infinitas
e até acredita em tudo,
inclusive nos saltos da baleias
neste final de setembro.
(B. B. Palermo)
Teste vocacional para os meus poemas tristes
O cara na praça manda ver nuns exercícios físicos naqueles aparelhos de merda que as crianças fazem de conta que são brinquedos. ...
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Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
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Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...