Ficamos sabendo, pela imprensa futebolística da capital gaúcha, que o jogador Walter (20 anos), do Internacional, se rebelou contra o técnico do clube, Fossati. O atacante reclamou das críticas do técnico e faltou aos treinos, desde quinta-feira (25/02) até a outra semana (04/03/2010).
Diz a reportagem de Zero Hora: “Walter se rebela com Fossati”. “Atacante reclama de críticas do técnico e falta aos dois treinos realizados ontem (...). Após brilhar na vitória sobre o Emelec, Walter, 20 anos, foi traído pela própria cabeça. Ontem, faltou aos dois treinos. No fim da tarde, a direção foi informada de que o atacante passou o dia fechado em seu apartamento (...). Walter não permitiu que a assistente social do clube e o seu empresário entrassem. O atacante limitou-se a conversar com eles por telefone. Alegou que estava ‘pensando na vida’”. De acordo com a reportagem, “o técnico o cobra em demasia nos treinos”. “Esperava receber elogios, mas ouviu o chefe dizer que precisava se dedicar mais. – Walter pensa como criança (...) Frustrou-se ao saber o que disse o técnico na entrevista e ‘surtou’”.
O contexto a que nos referimos acima é o do futebol profissional, competitivo, onde muito dinheiro está em jogo. As oportunidades para um jovem no futebol profissional são escassas, dada a competitividade. São milhares de jovens em busca de um lugar ao sol, sendo que poucos terão a oportunidade de fazer um contrato com salário elevado.
Se formos conhecer um pouco a biografia de grandes jogadores, como Pelé e Garrincha, encontramos os motivos para explicar por que Pelé tem se dado tão bem na vida (privada e pública), enquanto o Garrincha não... Todo mundo sabe o que aconteceu com Garrincha...
Muitos fatores contribuem para que a biografia de cada um de nós se modele de um jeito ou de outro, desde a primeira infância. Tenhamos escolhido essa ou aquela profissão.
Tenho a impressão de que, em algum momento da trajetória de muitos sujeitos, alguma peça da engrenagem (que desejamos que funcione perfeitamente) não cumpriu seu papel. Assim, dadas as falhas na educação, ficamos reféns do medo da “crônica de uma tragédia anunciada”. Claro, não se pode isolar e culpar, cada um em separado, família, escola e outras instituições, por esse déficit educacional, que deixa tais lacunas na engrenagem psíquica dos sujeitos.
Para ser mais claro: muitos sujeitos não chegam à maturidade desejada. Já na fase adulta, deixam-se levar por atitudes infantis que os prejudicarão em muito, no presente e no futuro.
Cada instituição tem sua parcela de responsabilidade diante do quadro que se desenha. Parece-me, e é o que constato como professor de Ensino Médio, que há um contingente cada vez maior de adultos meio infantilizados (me perdoem os psicólogos, eles teriam muito mais coisas a falar a esse respeito). Diante da competição desenfreada que vivemos hoje em dia, esse contingente de marmanjos corre o risco de se dar (cada vez mais) mal, no mercado de trabalho.
Confesso que fiquei morrendo de inveja do Walter. Quem de nós, alunos, professores, trabalhadores em geral pode contar com motivador, psicólogo, empresário, assistente social, nutricionista? Já pensou ter todo esse aparato do nosso lado, quando estivermos em dificuldades?
Se deixarmos de ir ao trabalho por uma semana porque, em vez de elogios, fomos criticados pelo patrão (e/ou outros), o que vai acontecer conosco? Quem vai passar a mão em nossa cabeça?