terça-feira, 6 de novembro de 2018
domingo, 4 de novembro de 2018
Um dia qualquer no centro da cidade
O
cara na praça faz exercícios físicos naqueles
aparelhos de merda que as crianças
aparelhos de merda que as crianças
fazem de conta que são brinquedos.
Aparelhos
estranhos, sujeito estranho.
Fita-me
desconfiado, deve estar sabendo
das cagadas que fiz,
das cagadas que fiz,
nada
tão significativo como acordos nucleares.
Logo
adiante avisto uma barraca do SENAC
e
uma garota me observa e sorri
e
propõe fazer meu teste vocacional.
Os
cabelos e os lábios e os dentes e
as sobrancelhas sintetizam anos de leituras de horóscopos,
as sobrancelhas sintetizam anos de leituras de horóscopos,
décadas de tentativas e erros
em
busca da resposta sobre o meu destino.
Ai ai ai,
o mundo é pequeno, o planeta dá voltas,
vem
vindo uma senhora que comi anos atrás.
Vacilo,
tento virar o rosto e ela não me reconhece.
Seus
pés enormes são duas bocas de serpente
que
ameaçam na minha direção.
Intriga
dos deuses.
Os
ponteiros do relógio digital fazem sua parte e
tudo
volta ao normal quando passa um vendedor
com
aquele carrinho tapado de cobertores e casacos de lã,
as
rodinhas entoam poemas tristes,
Hoje eu vou vender,
Hoje eu vou vender,
eu
hoje hoje eu vou.
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
Flores, moedas, mortos e muito lixo
O bêbado do meu bairro mudou de
estratégia
para conseguir algumas moedas
para comprar cachaça.
Ontem trouxe uma planta para que eu
cultivasse no quintal.
Era uma dessas flores, parecida
com copo-de-leite.
Não cultivo flores, apenas
algumas hortaliças.
Alcancei-lhe umas moedas e pedi
que desse a planta a algum vizinho.
Hoje trouxe uma planta florida.
Deve ter arrancado do jardim de
sua mãe.
Estava sem moedas, não abri a
porta,
fiz de conta que não estava em
casa.
A mãe frequenta a igreja
regularmente e mantém as oferendas em dia.
Mães foram feitas para amar e
sofrer.
Não é por acaso tantas orações e
promessas.
Se ele esqueceu de botar a tampa
no tubo do creme dental,
ela vai ao banheiro e o faz.
Nas semanas de abstinência devido
ao uso do álcool,
e da insônia que bate à porta,
ela compartilha com o filho tarjas
pretas e noites mal dormidas e
redobra visitas à igreja.
O filho, alto, seco, rosto
sofrido, tem uns trinta anos e
aparenta ter uns sessenta.
Insetos do bairro alardeiam, mais
indiferentes do que tristes,
que ele não passa desse ano.
Eles acreditam que o sujeito não
deu certo nesse mundo.
Ao contrário, eles são os tais,
com seu trabalho e esposa e amante e
novela e rotina cheia de crenças
e pobre de novidades.
À tardinha abro a porta, vou à
padaria buscar queijo e pães.
Havia uma planta no degrau da
porta da frente.
Devo ser pouco espirituoso, mesmo
assim um frio
atravessou-me por todos os
quadrantes.
Percebi que as plantas que ele
trouxe são as mesmas que parentes e
familiares e amigos levam para os
mortos,
no feriado de Dois de Novembro.
O bêbado do bairro e sua mãe e o
maluco que aqui escreve e
todos vocês circulamos pelas vias
de um imenso formigueiro.
Não sei se os insetos que me
rodeiam se perguntam sobre
quem estará presente daqui a alguns
anos.
Como e o que estaremos fazendo?
Isso é o de menos.
O mais importante, para este
inseto que vos fala,
é que a banana e a cebola e as
peras e as batatas e o peito de frango e
o coxão de fora e a cerveja que
bebo estão em promoção no Big mercado.
Enquanto o bêbado do bairro traz
plantas para trocar por moedas para trocar por cachaça,
toda a biodiversidade que nos
rodeia recebe nosso lixo diário.
Movimento desigual. Damos menos
do que recebemos.
Quem sabe o sentido de nossas
vidas, interagindo com a natureza,
seja produzir lixo, muito lixo.
Eis nossa missão número um.
E o álcool é mais uma válvula de
escape para suportarmos o
fato de estarmos sufocados por
esse lixo que produzimos.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Desapega, Cadelão
Não
tenho humor para pisotear as flores
das
árvores deitadas na calçada.
Não
suporto contemplar por muito tempo a bola de fogo
no
entardecer do fim de outubro.
Não
creio estar preparado para enfrentar a semana que avança
e
o exame médico e o defeito no carro e a dor de ouvido e
a
alegria e mau humor dos vizinhos.
Sem
vontade de ouvir rock ou blues ou Debussy ou Beethoven.
O
dia está quente e por isso não usarei máscara ou maquiagem.
Estacionei
tempo demais nesse lugar.
Hora
de desapegar e juntar umas coisas e seguir.
Rodeado
de amigos, porém solitário,
não
me preparei para isso.
Baby,
decifra-me os sinais.
Você
sempre diz que é hora de virar a página.
E
repete, e repete, Não é uma questão de idade ou experiência.
E
foi assim que você quase me convenceu a jogar na fogueira
toneladas
de versos bem intencionados, mas pouco criativos.
No
final das contas eu me contive, ou foi aquele medo.
Esteja
à vontade para sempre repetir Desapega, Cadelão, desapega.
Eu não
fico chateado, juro.
(B.
B. Palermo)
terça-feira, 23 de outubro de 2018
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
Tão banal como uma folha em branco
O
letreiro amarelado do bar
e
os gritos vindos da mesa de sinuca chamam,
mas
uma voz que vem de um resto de consciência
pede
pra que volte pra casa.
Tenho
medo de voltar.
Moradores
do prédio vizinho rosnam,
e
a imagem que me vem é uma faca
atravessando
corpos na diagonal.
Garotas
espalham orgias pela noite
e
eu aqui melancólico.
Sei
que tudo se reinicia
e
sou livre e estou
rabiscando
essas neuras.
Posso
adotar um pet que me cuide,
posso
adotar uma garota que me chame
para
o café da manhã.
Livre,
porém paralisado. Sim, sei que
posso
fazer tantas coisas que ajudem a
suportar
as armadilhas.
Pode
ser um bom sinal o fato de achar engraçado
casaizinhos devorarem hambúrgeres gigantes.
Sei,
sei, isso tudo é banal, inclusive a melancolia
de
estar paralisado diante de uma folha em branco.
(B.
B. Palermo)
terça-feira, 16 de outubro de 2018
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
Caneladas e chutões
Dou
uma passada pelas redes sociais e
observo como está o jogo político.
Criaturas
de todas as idades se digladiam à direita e à esquerda,
a maioria fora de forma
com relação às regras da argumentação,
barrigudas, cansadas, amadoras.
Um
festival de voadoras e caneladas e chutões pro alto.
Mas
seguem jogando.
Sinto
que é quase uma obrigação,
como se o mundo fosse acabar amanhã.
As
pessoas estão com raiva,
inclusive alguns poetinhas.
Parodiando
Bukowski, é a única coisa em que são bons.
(B.
B. Palermo)
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