Sonhei com Rita Lee. Ela fazia shows pelo Sul do país. No
intervalo de um show que ela fazia na vila onde nasci fui conversar com ela.
Disse-lhe que sou seu fã desde a música “Ovelha Negra”, do disco “Fruto
proibido”, lançado em 1975. Então ela falou da importância desse disco para a
história do rock nacional que surgia na época. A grata surpresa foi quando, no
meio da conversa, a rainha do rock brasileiro pediu para que eu falasse sobre
quem era o Teco poeta sonhador...
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
sábado, 29 de agosto de 2015
Preferências
Em vez dos carrões engarrafados na hora do rush, prefiro o
lata-velha que desfila solitário na madrugada.
Em vez do chafariz luxuoso na entrada do shopping, prefiro
crianças brincando com mangueira d’água na periferia.
Em vez de orelhões vandalizados avenida abaixo, prefiro o
muro grafitado diante da escola.
Em vez da limpeza obsessiva com lava-jato das folhas da
calçada, prefiro a vovozinha cultivando flores no jardim.
Em vez de me exercitar monitorado por médico e personal trainer, prefiro caminhar
tomando sorvete.
Em vez de planejar passo a passo meu futuro, prefiro adoçar
o presente com sonhos e devaneios.
Em vez do silêncio dos inocentes, prefiro tomates verdes
fritos.
Em vez de estar a dois passos do paraíso, prefiro apanhar
um táxi pra estação lunar.
Em vez de ser o Poderoso Chefão, prefiro ser Dom Quixote.
Pra quem diz que é feio andar fora dos trilhos, digo que é
tão comum ser normal!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
terça-feira, 25 de agosto de 2015
O enforcado - Lendas e fábulas do Brasil
Era uma vez um homem
que veio de longe, apoiado a um bordão, como um peregrino, e que, como um
peregrino, trazia sandálias de couro e roupas em farrapos. Andou dias e dias,
noites e noites, semanas e meses a fio, buscando sabe Deus o que.
Certa vez as sombras
da noite o alcançaram em pleno descampado e ele não saberia dizer se estava
longe ou perto de uma cidade, porque uma alta montanha em frente lhe fechava o
horizonte. E então, cansado de andar, vendo uma árvore copada, no campo, resolveu
nela passar a noite. Descalçou as sandálias, subiu agilmente pelo tronco,
acomodou-se entre os galhos e adormeceu, como as aves.
Em torno era tudo
silêncio. Pouco a pouco, os animais noturnos, silenciosos, saíram de suas tocas
e iniciaram a caça pelos arredores.
Era tarde já, quando
o homem acordou com um rumor de vozes humanas. Depois, ouviu um longo canto, e,
erguendo a cabeça que tinha apoiado à forquilha formada por dois galhos, viu ao
longe pequeninas luzes que ondulavam com o vento, endireitavam-se, iam de um
para o outro lado, porém caminhavam, evidentemente, para o lado onde ele
estava.
- Que será? – pensou,
com um arrepio na espinha.
Ao aproximarem-se,
reparou que eram homens vestidos com longas camisolas brancas e que levavam
velas acesas. Na frente caminhava um padre, com uma cruz nas mãos.
O homem empoleirado
esfriou.
- Será procissão das
almas? – pensava, batendo os dentes de medo. Decidiu permanecer imóvel, para
que não percebessem que ele estava ali.
Qual não foi, porém,
o seu espanto e o seu susto, quando os homens pararam justamente sob a árvore,
onde ele estava, e um deles falou:
- Qual de nós vai
subir à árvore para trazer o homem?
Viu que eles se
entreolhavam e que nenhum parecia disposto; no entanto, acabariam por se
decidir. E mal pôde falar, de tanto que tremia:
- Ninguém precisa
subir. Eu desço.
Nem podia acreditar
no que viu em seguida, tão esquisito lhe pareceu tudo aquilo. Assim que lhe
ouviram a voz os homens largaram as velas, o padre jogou a cruz para um lado, e
saíram todos correndo, como se tivessem visto, naquele momento, Satanás em
pessoa e, atrás dele, um milhão de demônios.
- Santo Deus! – gemeu
o homem, benzendo-se.
Pulou da árvore e
saiu correndo também, mas em direção oposta à dos outros.
Assim que o dia
clareou, o peregrino voltou ressabiado, curioso para ver se descobria o que
havia acontecido naquele malfadado lugar.
- Eu com medo deles e
eles com medo de mim, essa é boa! – resmungava intrigado.
Foi direto à árvore e
correu-lhe um frio pela espinha. Lá estava, balouçando no ar, um homem
enforcado.
Então, compreendeu
tudo. Os que iam retirar o criminoso enforcado, para enterrá-lo em algum
cemitério, pensaram que fora o morto quem respondeu que ia descer.
Mais tarde, quando o
peregrino chegou à cidade, havia lá uma grande agitação. Faziam-se grupinhos em
todas as esquinas, nas praças, diante da casa do padre.
Ele parou ali, para
ouvir as conversas. Diziam que um enforcado respondia ao que lhe perguntavam.
- Vai-se ver é alguém
que morreu inocente – opinavam.
- É capaz.
- Que aconteceu? –
perguntou o peregrino, acercando-se.
- Pois foi um
criminoso enforcado, fora da cidade, num angico que há no meio do campo, e
ontem à noite Seu Padre e os homens das irmandades religiosas foram buscá-lo,
para fazerem o enterro dele, que é falta de caridade deixar um corpo pendurado
para os urubus comerem. Pois não é que na hora de irem buscar o corpo, quando
confabulavam para ver quem ia subir, o defunto falou lá em cima, que não
precisava ninguém subir não, que ele descia!
O peregrino nada
disse.
Em suas andanças pelo
mundo havia aprendido que às vezes é de boa política ocultar a verdade.
Atravessou a cidade
em silêncio, em silêncio se foi, e nunca souberam os habitantes do lugar o que
havia realmente acontecido.
Do livro Lendas e
fábulas do Brasil. Selecionadas, prefaciadas e recontadas por Ruth Guimarães.
Ed. Cultrix.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Morreu mesmo - Lindolfo Gomes
Um novato foi mandado
podar umas árvores. Como não tinha prática nesse serviço e era muito tapado,
apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Passava por ali o vigário
da freguesia (o padre da paróquia) e o advertiu:
- Olha, amigo, desse
modo vens abaixo!
O moço era, além de
estúpido, teimoso. Sem dar maior atenção ao padre, continuou o trabalho.
O padre prosseguiu o
seu caminho. Vai por um pouco... Zás! Parte-se o galho e vem ao chão
tanto a escada como o podador, que ficou com um dos braços em petição de
miséria.
Quando se recuperou,
ficou admirado com a adivinhação do padre, e pensou consigo mesmo que, se o
padre tinha adivinhado seu tombo, poderia também adivinhar o dia de sua morte.
Foi ao encontro do padre e falou-lhe:
- O senhor disse que
eu ia cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem que eu queria agora que o
senhor adivinhasse o dia da minha morte.
O padre achou aquilo
engraçado e resolveu zombar um pouco dele.
- Olha, bem sei
quando você vai morrer. Será na hora em que, indo de viagem, montado na sua
mula, você a vê soltar três puns seguidos.
O rapaz agradeceu
muito e foi-se.
Todas as vezes que
viajava, tranquilo na ruana, ia muito atento pra ver
quando a mula soltava os tais puns.
Certa feita, ao
chegar a uma volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três
puns...
O novato, que os
havia contado com o coração aos pulos e acreditando na previsão do padre,
julgou chegada a sua hora extrema, atirou-se da sela pro chão e soltou um
grito:
- Morri!
Não se moveu mais,
seguro de que estava morto.
Vai depois, passaram
por ali uns trabalhadores que deram com ele estendido no meio do caminho.
Crendo-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no
dentro dela e o conduziram para sua casa, rezando todo o terço.
Lá muito adiante,
obra de uma légua, havia duas encruzilhadas.
Os homens ficaram
indecisos: qual delas seria o caminho mais curto para chegar ao cemitério?
Começaram a teimar
entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e disse-lhes:
- Olhem, amigos, no
tempo que eu era vivo, o caminho mais curto era à esquerda.
Assombrados, os
homens atiraram a rede ao chão com o defunto e tudo e fugiram em disparada.
Com a queda o rapaz
morreu de verdade.
E a adivinhação do
padre foi acertada: o bicho morreu mesmo!
(do livro Contos populares brasileiros, edições Melhoramentos)
domingo, 23 de agosto de 2015
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Tão tão distante...
Sonda chega ao ponto mais próximo de Plutão após nove anos de viagem
Planeta-anão fica na borda do sistema solar, na órbita mais distante do sol.
New Horizons viajou quase cinco bilhões de quilômetros no espaço.
TECO - Cara, você mora muito longe daqui?
ET - Bah, é tão longe que se começo a pensar não paro mais!!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Vocês que fazem parte dessa massa
- Teco, não consigo entender como vocês humanos conseguem, ao mesmo tempo, conceber figuras históricas geniais, como Galileu, Da Vinci, Mandela, Drummond, etc. e tal, e massas tão decadentes, como racistas, fascistas, homofóbicos, intolerantes, etc.... Consegues me explicar?
- Hum... Como você anda ácido hoje. Estou me sentindo
naquela confusão intelectual que me pede pra colocar de molho todos os meus
julgamentos...
- Entendi. Você já não sabe o que é certo ou errado, bom ou
ruim... Só não me venha com o papo de que cada um tem a sua opinião.
- O que você quis dizer com isso?
- Massa. Boa parte de vocês é massa de manobra, manada que
segue o rumo que a maioria toma!
- Putz! Hoje você tá pegando pesado com os humanos, hem?
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Ausência
Durante minha ausência bolinei com a saudade. Retirei-me da
tomada, precaução pra respirar um mundo novo. Salvo, não quis ser confundido
com um pen drive carregado de dramas e conflitos. Quis abrir as portas das
percepções e mergulhar num para-universo, me afastar desses humanos
quase-máquinas barulhentas e ansiosas. A vida é jogo rápido e monótono. Um
jardim da infância habitado por monstros. Sobreviva. Acomode-se. Sorria, você
está sendo devorado.
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
sábado, 15 de agosto de 2015
O que é que tem?
Se você é
banguela, míope ou careca, narigudo, surdo ou furta-cor, o que é que tem?
Você pode ser espinhento, gordo e tímido, chegar por último e dançar
sozinho, ter pais ridículos ou ser adotado... Mas você pode ter amigos e amores
invisíveis, e provar pra todo mundo – de Ijuí a Boa Vista do Cadeado – que todos,
todos menos você, são estranhos e retardados!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Doce sonho
Sonhei que competia com crianças, numa disparada frenética.
Quem se aproximava da linha de chegada tinha água na boca. É que os troféus
eram doces, lindas tortas, sorvetes, sucos e quindins. Quanto mais corria, mais
distante do pódio ficava – e minhas pernas flutuavam sem sair do lugar, tamanha
era a sede e a fome. Foi tanta aflição, tanta dor, que pra minha sorte fui
salvo com o berro do despertador!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
domingo, 9 de agosto de 2015
The day after - Antonio Prata
ET - E acabou por quê?
Último Remanescente da Humanidade (URH) – Resumindo bem, a Terra esquentou muito e a gente, tipo, cozinhou.
Último Remanescente da Humanidade (URH) – Resumindo bem, a Terra esquentou muito e a gente, tipo, cozinhou.
ET – Ah… Foi meteoro? Vulcão? Gigante Vermelha?
ÚRH – Não, no caso, foi vacilo, mesmo. A gente queimou petróleo, muito petróleo, até o mundo virar uma sauna seca.
ÚRH – Não, no caso, foi vacilo, mesmo. A gente queimou petróleo, muito petróleo, até o mundo virar uma sauna seca.
ET - E queimaram petróleo pra quê?
ÚRH – Pra se locomover, basicamente. A gente criou umas caixas de metal que queimavam petróleo e te levavam de lá pra cá, sem você ter que cansar as pernas.
ÚRH – Pra se locomover, basicamente. A gente criou umas caixas de metal que queimavam petróleo e te levavam de lá pra cá, sem você ter que cansar as pernas.
ET - E vocês iam de lá pra cá, pra quê? Pra fugir de predadores?
ÚRH – Não, não. Os predadores viraram bolsa e tapete bem antes. A gente queimava petróleo pra ir e voltar do trabalho, da padaria, do posto, onde a galera ia encher a caixa de metal com mais petróleo e fazer uma social na lojinha, tomando Skol latão.
ÚRH – Não, não. Os predadores viraram bolsa e tapete bem antes. A gente queimava petróleo pra ir e voltar do trabalho, da padaria, do posto, onde a galera ia encher a caixa de metal com mais petróleo e fazer uma social na lojinha, tomando Skol latão.
ET - E por que vocês não iam a pé pro trabalho, pra padaria, pro posto, fazer social na lojinha, tomando Skol latão?
ÚRH – Porque todo mundo se aglomerava numas cidades enormes e acabava ficando meio longe do trabalho, da padaria, do posto.
ÚRH – Porque todo mundo se aglomerava numas cidades enormes e acabava ficando meio longe do trabalho, da padaria, do posto.
ET – E por que vocês não se dividiam em cidades menores, onde dava pra fazer tudo a pé?
ÚRH – Porque nas cidades enormes tinha mais possibilidade de trabalhar e de ganhar dinheiro pra poder comprar uma caixa de metal maior e mais cara, que gastasse mais petróleo.
ÚRH – Porque nas cidades enormes tinha mais possibilidade de trabalhar e de ganhar dinheiro pra poder comprar uma caixa de metal maior e mais cara, que gastasse mais petróleo.
ET - E por que alguém quereria isso?
ÚRH - Porque dava status e status era tudo. No trabalho, na padaria, no posto, neguinho via tua caixona de metal, capaz de ir a 240 km/h e dizia: “Pô, ó o cara!”.
ÚRH - Porque dava status e status era tudo. No trabalho, na padaria, no posto, neguinho via tua caixona de metal, capaz de ir a 240 km/h e dizia: “Pô, ó o cara!”.
ET - Nossa, olhando esses escombros, agora, nem dá pra imaginar que por aqui passavam caixas de metal a 240 km/h.
ÚRH – Não, na verdade, não era assim, não: como eram muitas caixas de metal e todos queriam se locomover ao mesmo tempo, ficava tudo engarrafado. Nos horários de pico a média era de 8 km/h.
ÚRH – Não, na verdade, não era assim, não: como eram muitas caixas de metal e todos queriam se locomover ao mesmo tempo, ficava tudo engarrafado. Nos horários de pico a média era de 8 km/h.
ET – Ué, até onde eu sei, com as pernas vocês podiam ir mais rápido que isso, não?
ÚRH – Poder, podia. Mas a gente preferia ir devagarinho na caixa de metal, com os vidros fechados, ar condicionado e insulfilme, de boa, ouvindo notícias sobre o trânsito e tirando meleca do nariz.
ÚRH – Poder, podia. Mas a gente preferia ir devagarinho na caixa de metal, com os vidros fechados, ar condicionado e insulfilme, de boa, ouvindo notícias sobre o trânsito e tirando meleca do nariz.
ET – Tirando meleca do nariz? Dava algum prazer físico, isso?
ÚRH – Dava um prazer medíocre. E uma culpinha, também. Prazer mesmo dava era o sexo, mas no fim ninguém mais tinha tempo pro sexo, porque tava ou trabalhando que nem louco pra comprar uma caixa de metal, ou parado dentro da caixa de metal, por horas, tentando chegar ao trabalho, onde trabalharia que nem louco pra comprar outra caixa de metal.
ÚRH – Dava um prazer medíocre. E uma culpinha, também. Prazer mesmo dava era o sexo, mas no fim ninguém mais tinha tempo pro sexo, porque tava ou trabalhando que nem louco pra comprar uma caixa de metal, ou parado dentro da caixa de metal, por horas, tentando chegar ao trabalho, onde trabalharia que nem louco pra comprar outra caixa de metal.
ET – Então vocês todos morreram porque gostavam de ficar parados em caixas de metal que queimavam petróleo pra levar vocês de lá pra cá a uma velocidade inferior à das próprias pernas?
ÚRH – É. Por causa disso, das bandejinhas de isopor e de umas pessoas que insistiram até o fim em empurrar folha na calçada com o esguicho.
ÚRH – É. Por causa disso, das bandejinhas de isopor e de umas pessoas que insistiram até o fim em empurrar folha na calçada com o esguicho.
ET – Oi?
ÚRH – Esquece. Podemos falar de outro assunto? E lá de onde cê vem, é bonito? Fresquinho? Tem praia?
ÚRH – Esquece. Podemos falar de outro assunto? E lá de onde cê vem, é bonito? Fresquinho? Tem praia?
(Antônio Prata é escritor. Publicou livros de contos, entre eles “Meio Intelectual, Meio de Esquerda”. Filho do escritor Mário Prata, escreve aos domingos na Folha de São Paulo).
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