quinta-feira, 19 de julho de 2018
quarta-feira, 18 de julho de 2018
Perspectivas (otimistas) de mulheres e homens
“As mulheres são
ingênuas, acreditam que o seu homem vai correr atrás delas a vida toda (...).
As mulheres cultivam a fantasia de que o verdadeiro amor é capaz de transformar
os homens. Quando isso não acontece, e isso nunca acontece, elas perdem o orgulho
e viram esses farrapos que a gente vê por aí” (Fernanda Torres. Fim).
“Abano o rabo, lambo a
mão, e ela me acusa, dedo em riste. Está sempre pronta pra dar o bote, o
conselho, a ameaça mil vezes repetida. Românticas e verdadeiras, até parece,
depois de te fisgarem, correm atrás de uns pilantras. Ninguém sabe o que uma
mulher quer. Tenho um amigo que sempre repete: ‘Me diz quem tu tá pegando e te
direi o que sobrou de ti’. O ingênuo se juntou a uma psiquiatra. Reclama que
não consegue respirar, mas não salta fora. Me garante que o poder feminino é
ancestral, já está escrito nas narrativas mitológicas. De sua experiência
própria, chegou à seguinte conclusão: o objetivo de uma mulher é destruir um
homem (B. B. Palermo. Palermices).
sábado, 14 de julho de 2018
quarta-feira, 11 de julho de 2018
terça-feira, 26 de junho de 2018
On the road - Pé na estrada - Jack Kerouac
Pessoas mesmo são os
que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que
querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas
comuns...
***
No bar eu disse: " Porra, cara, sei muito bem que você não me procurou só porque tá a fim de virar escritor e, afinal de contas, o que é que eu posso te dizer sobre isso a não ser que você tem que mergulhar nessa história com a mesma energia com que um viciado se droga?" E ele disse: "Sim, é claro, entendo exatamente o que você quer dizer e também já tinha pensado nesses problemas, mas o caso é que eu realmente tô a fim de concretizar todos meus anseios, só que, como qualquer outra realização íntima, eles parecem depender, de alguma forma, da dicotomia de Schopenhauer que, por sua vez..." e assim por diante, dessa maneira tão ininteligível para mim quanto para ele.quarta-feira, 13 de junho de 2018
Sonhos são...
Sonhos são enchentes ou incêndios, compromissos em
que chego atrasado, são meus desejos não correspondidos por aqueles pequenos NÃOS
cotidianos. Imagens simples, talvez gravadas no inconsciente, desde a infância,
como não me deixarem pegar a isca e colocar no anzol, me afastarem dos caniços
e outras ferramentas que me dariam imensa satisfação, ainda mais quando grandes
peixes e águas turvas e agitadas desfilam diante dos meus olhos e riem da minha
impotência.
O final, o despertar, é de espanto, quando não de uma certa tristeza.
Durante o dia eu sei que devo anotar o que sonho e
me esforçar para encontrar neles uma lógica, um roteiro, um início e meio e
fim.
Ao sonhar corro atrás do que me falta, e a grande
quantidade de cenas me envolvem como um indefeso fantoche, jogado pra cá e pra
lá em meio ao fluxo do mundo.
Isso tudo tem um lado divertido. Corro até o Google
e consulto sites de interpretação dos sonhos. Das cenas que me lembro, ontem
sonhei com fogo, água e peixes. É reconfortante rifar algumas explicações que
são dadas aos sonhos. Por exemplo, peixe: “Se o peixe estiver vivo, você terá
boas notícias, no tocante a melhorias financeiras e à mudança de residência”.
Fogo: “Ver: sorte no jogo, tanto maior quanto intenso for o fogo”. (Como o
incêndio do meu sonho foi mais ou menos, hoje vou jogar um valor mais ou menos
no Bicho, na cabeça e na centena e no milhar). Água: “Limpeza, purificação,
corpo e espírito sendo descarregados. Água corrente: todo o mal está sendo
levado para longe”.
Bem que tudo isso poderia funcionar,
literalmente, em nossa vida, sim, mesmo para um palerma que passa o dia sentado
dando milho aos pombos.
E tem um outro lado, agora um pouco mais trágico. Ao
tentar ordenar essas imagens todas é importante rir de si mesmo, sentir-se
parente de Dom Quixote, um sujeito meio mentecapto, senil e a dois passos do
hospício.
terça-feira, 12 de junho de 2018
Boate azul
Uma coisa legal das casas noturnas é que, se você
tem grana, você pode escolher música boa para ouvir. Pagando, as garotas até se
esforçam para entender e curtir aquele som que não é lugar comum. Hoje, um dos
lugares comuns é o sertanejo universitário.
Uma música que marcou minhas primeiras incursões em
casas noturnas foi “Boate azul”. Caramba, os caras que a compuseram captaram
muito bem o sentimento desses solitários amantes se arrastando de madrugada em busca de
afeto.
Nas primeiras dores de corno eu literalmente desejava
cortar os pulsos. Com o tempo aprendi que a bebida, especialmente a cerveja, me
alegra e então os pulsos permanecem preservados. Aprendemos com a idade a ter
cautela e paciência e até uma certa resignação, e então a operação de “cortar
os pulsos” – aquele impulso de querer partir dessa – não passa de uma metáfora.
Mas que isso dói, ah se dói.
terça-feira, 5 de junho de 2018
Você é foda, hem?
Encontrei nos fundos de uma estante de casa um livro
de poemas da família Galhos. Havia uma dedicatória na primeira página de dona
Mire ao meu amigo Hilmo. Ela é filha de uma tradicional família de poetas, em
São Luiz Gonzaga, no RS. Essa cidade fica na região das Missões, e tem muita
história pra contar, muitos poetas conhecidos no sul do Brasil, sendo um deles
o grande poeta e repentista Jayme Caetano Braun.
Depois de ficar viúva, dona Mire foi realizar os
sonhos de menina, sair pelo mundo, conhecer lugares e pessoas. Mulher muito
sociável, sempre disposta a ajudar os outros, mantém uma casa com várias
garotas de programa aqui na minha cidade. Escolhidas e instruídas por dona Mire,
elas são inteligentes, bonitas e hiperafetivas com os clientes.
O livro deve ter ficado comigo porque, mais do que
meu amigo, gosto de poesia. É composto de poemas de avós, filhos e netos e, no
geral, são bons poemas, sendo que a maioria dos componentes já está morta.
Recebi a visita de um desses poetas mortos, dias
atrás. Não compreendi o que dizia, falava rápido, temendo que a qualquer
momento saísse do ar. Misturava línguas e sotaques, português e francês e
espanhol e portunhol. Deu uma aflição, sou um palerma que nunca ligou para
outros idiomas. A sensação que tive foi de que me censurava pelo fato de não me
envergonhar da vida escrota que levo, um desmemoriado que bebe e solta pum e
arrota, que não consegue criar obras culturais que sobrevoem o tempo e o espaço
das novas gerações, obras que sirvam de modelo e inspiração.
Creio que ele estabeleceu contato porque
compartilhamos o gosto pela arte. Como não me deixava falar, eu admirava aquele
terno e bigode e pensava Você é fodão, hem? Foi então que ele apontou pro
relógio, gesticulou, acho que entendi aquelas palavras aceleradas, pareciam
dizer Você pensa que é foda, hem, meu neguinho? Olha a hora, olha a hora, já é
quase meia noite e você ainda não desenvolveu nem um terço de tua obra.
Assim sem mais, deixou-me falando sozinho. Fui até a
geladeira, abri outra cerveja e constatei que tem morrido muita gente,
inclusive gente conhecida. Bateu uma inveja da família Galhos, família de
poetas. Li todo o livro e também a biografia de cada um, imaginei cenas e
rostos e bravatas e batalhas.
E quanto à minha família? Minha memória não
localizou nenhum poeta ou artista que fosse. Parece que se deram por
satisfeitos em deixar para as novas gerações algo mais material, como casas ou
terrenos ou apartamentos ou chácaras. Nada de artistas ou anarquistas ou
revolucionários. Deve ser por isso que meus bisavós e avós e outros parentes
mortos estão calados. Nenhum deles, ainda, veio me visitar.
domingo, 3 de junho de 2018
A vida é muito triste
Vejo por aí loucos mansos que às vezes ficam
injuriados. Alucinados, tomam o caminho mais torto para distorcer a realidade.
Voltei a rezar porque sei que não há hospícios pra
todo mundo.
Voltei a blasfemar porque sei que a vida não está
fácil, pão e circo andam em círculos.
Os esgotos não dão conta. Como disse o velho Braga,
“essenciais são os esgotos da alma. Nossa pobre alma inesgotável”. Mas,
coletivamente, ela está em frangalhos. Crianças gigantes clamam por um pai, mas
esse está distante, ocupado com missões intergalácticas.
A vida é muito triste. É o que sempre dizem a
cozinheira e o lavador de pratos e o açougueiro e a confeiteira e outros tantos.
Há muito tempo fazem o que mandam os senhores. Nunca tiveram uma iluminação,
como por exemplo matar e incendiar quem os oprime.
A vida é muito triste. Papai, por que não vens pra nos
salvar?
(B. B. Palermo)
sábado, 2 de junho de 2018
Erro, ilusão e delírio - Cláudia Laitano
Diante do que não podemos controlar, uma das respostas mais comuns é a fantasia infantil de que alguém mais forte vai aparecer para nos salvar.
Freud distingue três formas de autoengano. A primeira é a que ele chama de “erro”. Uma pessoa mal-informada, convencida de que a Terra é plana ou de que as vacinas fazem mal para a saúde, está cometendo um erro. Esse tipo de equívoco tem cura, mas exige transfusão imediata de fontes de informação e alguma capacidade de autocrítica.
Já a “ilusão” não é necessariamente um erro, mas implica o forte desejo de acreditar em alguma coisa – mesmo contra todas as evidências em contrário. A donzela que espera encontrar um príncipe (ou vice-versa) com quem será feliz para sempre em doce e alegre harmonia cultiva uma das mais antigas e populares ilusões do mundo. Até pode acontecer, claro, mas amores de contos de fadas não são exatamente a regra na vida real. Também nos iludimos quando imaginamos que alguém (mais forte, mais sábio, mais poderoso) será capaz de resolver nossos problemas por nós. Acontece de vez em quando, é verdade, mas geralmente quando ainda somos crianças e nossos problemas estão ao alcance dos superpoderes de uma boa mãe.
Freud chama de “delírio” aquilo que apresenta uma contradição tão grande com a realidade que se aproxima da alucinação psiquiátrica.
Freud escreveu O Futuro de uma Ilusão, em 1927, movido pelo desejo de demonstrar como o nosso irremediável desamparo, como espécie, pode nos levar a trocar a razão pelo alívio fácil do pensamento mágico. A razão nos diz que: 1) desastres acontecem e 2) a morte é incontornável. Não controlamos o destino e, mesmo que tenhamos a sorte de levar uma vida tranquila e sem grandes atropelos, nunca sabemos como essa história vai terminar. Diante dessa sensação de desamparo e fragilidade frente ao que não podemos controlar, uma das respostas humanas mais comuns é a de recorrer à fantasia infantil de que alguém mais forte vai aparecer para nos proteger e salvar. Para a alquebrada Alemanha da época de Sigmund Freud, a resposta veio logo em seguida, na figura de um ditador que se autoproclamava simplesmente “o líder”.
Freud chama de “delírio” aquilo que apresenta uma contradição tão grande com a realidade que se aproxima da alucinação psiquiátrica.
Freud escreveu O Futuro de uma Ilusão, em 1927, movido pelo desejo de demonstrar como o nosso irremediável desamparo, como espécie, pode nos levar a trocar a razão pelo alívio fácil do pensamento mágico. A razão nos diz que: 1) desastres acontecem e 2) a morte é incontornável. Não controlamos o destino e, mesmo que tenhamos a sorte de levar uma vida tranquila e sem grandes atropelos, nunca sabemos como essa história vai terminar. Diante dessa sensação de desamparo e fragilidade frente ao que não podemos controlar, uma das respostas humanas mais comuns é a de recorrer à fantasia infantil de que alguém mais forte vai aparecer para nos proteger e salvar. Para a alquebrada Alemanha da época de Sigmund Freud, a resposta veio logo em seguida, na figura de um ditador que se autoproclamava simplesmente “o líder”.
Tornar-se adulto, ensina Freud, significa aceitar que quase nada que nos aflige seriamente será resolvido de forma simples e sem o concurso do nosso próprio esforço e sacrifício. Nos últimos dias, surgiram muitas vozes sensatas tentando entender as origens políticas e sociais da delirante campanha pela volta do regime militar que ganhou fôlego durante a paralisação dos caminhoneiros. Mas o tempo todo eu só me lembrava de Freud: “O ser humano não pode permanecer eternamente criança, tem de finalmente sair ao encontro da ‘vida hostil’. Podemos chamar a isso de educação para a realidade”.
O Brasil precisa crescer, sim, mas não apenas naquilo que pode ser medido pelo PIB.
(Zero Hora, sábado e domingo de 2 e 3 de junho de 2018)
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