Tudo está relacionado. O sol despedindo-se com um beijo na
vidraça do prédio, próximo ao cantinho onde deliro. O indivíduo com a bicicleta
e as garotas que passeiam com escassas roupas, carinhosamente adquiridas. Dizem
que há grande probabilidade de isto ter a ver com os tornados do verão. Ninguém
percebe abismo e caos por todos os cantos - a não ser este manco escrevinhador.
As necessidades do corpo e da alma são meros dilemas subnutridos. Pensar nisso
é como tergiversar num túnel infinito. A necessidade disparou em linha reta, para
antecipar a apoteose, ao vibrarem ondas elásticas. As coisas miúdas e
barulhentas que tomam conta de tudo precisam ser depuradas, parece que todos
sabem. Observemos o que se passa. A crente de cabeça ereta, convicta do caminho
a percorrer. O boy, o pedreiro, presos ao trabalho que, acreditam, liberta,
porque se cercam de coisas que vão transbordar aterros sanitários. Convictos, usamos
com impulso delirante roupas e cosméticos. São presentes e lembranças que
brindam nossa autoestima. E no final, sem ter nada a ver com o bem e o mal, o
complicado é narrar tanta pérola, sem que isso pareça banal.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
domingo, 6 de dezembro de 2015
Passarinho engaiolado - Rubem Alves
Eis o belo texto do Rubem Alves, copiado do blog http://atorremagica.blogspot.com.br/2015/12/passarinho-engaiolado.html
Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranquila como seguras e tranquilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.
Bem se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; têm sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola o caminho foi curto, através da Ponte dos Suspiros.
Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera os seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e incapaz de abrir a portinha de ferro, lhes traz no bico um galho de veneno. Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa… Ó filhos, voemos pelo azul!… Comei!
É certo que a mãe do passarinho nunca lera o poeta, pois o que ela disse ao seu filho foi: Finalmente minhas orações foram respondidas. Você esta seguro, pelo resto de sua vida. Nada há a temer. Não é preciso se preocupar. Acostuma-se. Cante bonito. Agora posso morrer em paz!
Do seu pequeno espaço ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; os urubus, nos seus vôos tranquilos da fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranquilizavam Ele queria ser como os outros pássaros, livres… Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.
Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!
Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas aguentariam. Elas não estavam acostumadas.
O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
— Ei, você! – era uma passarinha. – Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá… Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:
— Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar…
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Ele se apaixonou por um fake
ET – Quando ela te mandou convite no facebook você se
esbaldou na lábia. Testou poemas, canções de amor, papos-cabeça, só pra
deixá-la impressionada. Com o passar dos dias você criou tamanha expectativa
que até comprou um celular mais moderninho pra ter um chip da operadora dela. E
você devaneava quando ouvia a sua voz. E cada vez mais ansiava pela sua
ligação. Enquanto isso você esnobou aquela garota que sempre esteve do teu lado
quando você precisava. Um mês depois, quando finalmente vocês iam marcar o
primeiro encontro, longe do mundo virtual, para se ver “olhos nos olhos”, ela
jogou um balde de água fria na tua paixão. Não mais ligou no início da manhã
pra desejar “tenha um ótimo dia, meu anjo!”, não ligou à noite pra ficar uma
hora contando a epopeia que foi o seu dia, da escola para casa, de casa para a
academia, e do amor incondicional pelo seu poodle, enquanto você se coçava,
louco para retomar o jogo no vídeo-game. Daí, no fim de semana ela deu um chá
de sumiço, enquanto postava umas coisas esquisitas na sua time line. E se você
puxava conversa no face, ela desdenhava, não respondia, sumia... Cara, você não
desconfiou que essa garota pode ser um fake?
TECO – Pior que não...
ET – E ela pediu pra você prometer amá-la e protege-la pelo
resto dos teus dias? Você contou a todos os teus amigos e amigas que,
finalmente, encontrou a menina que encarnava o amor verdadeiro? Caramba! Sem
nunca tê-la visto pessoalmente?
TECO – Isso...
ET – Você é muito mais do que um poeta sonhador: você é uma
catástrofe no amor! Mas... Críticas à parte, você é um menino em extinção. É
puro, ingênuo que (pasmem!) ainda acredita no amor!
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Vá pro jogo!
TECO - Nunca vi uma garota vacilar tanto.
ET - Bah, deve ter seus motivos...
TECO - Sei lá. O medo dela me fez lembrar deste poema do Alberto Martins:
Xadrez no centro
indecisa
entre a banca de jornais
e o garoto que vende bilhetes de metrô
a moça para um segundo
no meio-fio
depois
levanta a cabeça
e avança pela calçada de pedras pretas & brancas
pisando o mosaico torto
ela sabe que cada passo é um erro cada passo
é um logro - mas quem não joga
perde a vez e nunca mais
volta pro jogo
EM TRÂNSITO - poemas, de Alberto Martins (Cia. da Letras, 2010).
domingo, 29 de novembro de 2015
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Aula de geografia
TECO - Poesia não se faz só com as mãos. Garotas adoram ouvir tua voz do outro lado da linha.
ET - Como se fosse gravação de telemarketink?
TECO - Nãoooo... Como se fosse música!
(...)
ET - Eu ouvi você dizer nude??
TECO - Cara, para com essa obsessão pelo corpo! Você só fala em peito, perna e bunda! Pare de nos imitar. É tanta ideia fixa pelo corpo que até parece que é a geografia dos humanos que determina sua história!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
terça-feira, 24 de novembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Menos realismo, mais poesia
ET - Então ela não quer namorar com piá que fala merda...
TECO - Será que tenho alguma chance?
ET - Depende do quanto você falar kkk.
TECO - Junto dela deve ser como nós: quase não rola assunto rsrs.
"Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem..."
ET - "Só se você disser tudo o que ela quiser" rsrs.
TECO - Devo poetizar minhas palavras??
ET - Ela vai fazer picadinho das tuas palavras!!
TECO - Tchê, tu vive abafando a minha voz!
Era só o que me faltava... O poeta sonhador é amigo de um reles etzinho realista!
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Poeteiros
ET - Você sabia que poeteiros são os que fazem poesia com as mãos?
TECO - Você não quis dizer "grafiteiros"?
ET - Não falei dos pichadores de muros. Falo dos adolescentes que poetam trancados no banheiro ou no quarto.
TECO - Hum... Acho que entendi. Deve ser um sofrimento fazer arte assim.
(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)
domingo, 15 de novembro de 2015
Cinismo
TECO - Para nós, humanos, cinismo pode também significar "mentir com sinceridade".
ET - Por falar nisso, ela acreditou na história que você inventou?
TECO - Ela fingiu que acreditou.
ET - Meu Deus!
Ilustração do site
http://www.taringa.net/post/humor/19043688/Memes-que-solo-los-inteligentes-entienden.html
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