segunda-feira, 29 de setembro de 2008
A RAPOSA
- Toc, toc, tuc...
Tuc, tuc, toc, tuc!
Se é velhinha e neurótica, não sei...
Não nos conhecemos pessoalmente.
Mas vivemos sozinhos,
mesmo rodeados de gente.
Não sei o que pensa de mim.
Dela, também nada sei...
Nem consigo adivinhar
o que ela faz - se é mãe
tia ou vovozinha...
Apenas sei que,
quando caminha,
com muito estrondo,
sacode a minha vida!
- Tuc, tuc, toc...
Toc, toc, tuc, toc!
Correria no sótão,
e não sei se está saindo
pra dormir fora
ou se está chegando
pra dormir agora...
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
CARPA DE PESQUE-PAGUE
Peixe sênior de pesque-pague, seduz carpas graúdas e veteranas, incumbindo-lhes a missão de cupido, para puxar suas orelhas, e as da sua pretendente, a qual espera o dourado vistoso, que amanhã vai enfrentar confiante as corredeiras do rio Uruguai.
Ninguém percebe, ou disfarça muito bem, que se lamenta porque a tempo não sobe a corredeira. Piracemas pertencem a um mundo ideal de utopias distantes que quase deletou da memória.
Carpa de pesque-pague, já não se entedia com a ração fracionada, embora sua alma de dourado jogue sob pressão e, por isso, às vezes, tem a coragem de piruetar no meio do açude.
A ração e o pesqueiro não o afastam totalmente da fúria, quando seu instinto assassino olha de atravessado para as carpas domésticas. Às vezes, em sonho, aventura-se com alma de tubarão. Mas boa parte das vezes é medroso e faz de conta que não enxerga a lama que se deposita no fundo do lago, vê apenas um límpido azul na parede de seu pequeno horizonte, como se fosse painel de publicidade.
Não deixa seu lago desembocar nas ruelas escuras e pútridas dos subúrbios, pois está hipnotizado pelas vitrines dos shoppings do centro da cidade.
Não se deixa arrastar pelas correntes furiosas que atracam em novos portos e mundos, prefere a água parada de sempre, mal-cheirosa e turva, pois a conhece de antemão, e as reações dela não mais o assustam e surpreendem.
As safras se repetem e, sênior, é apanhado por redes de malhas cada vez mais grossas. Mas o tédio da domesticação deixa alguma liberdade para se divertir com as carpas salvacionistas e, ambos, mergulham fundo no barro da futilidade, com demasiada seriedade, que até esquecem de rir de si e tirar o pó dos móveis da sala de visitas, e sua alegria monótona e previsível, como o choro de um cãozinho faminto, já não os surpreende.
ALGODÃO DOCE
Algodão doce
é neve
colorida
primavera
que roubou
o cardápio
da sorveteria
e espalhou
por aí
essências
de framboesa
maracujá
chocolate
morango
abacate
e abacaxi.
É neve
pra lamber
os dedos
e o beiço.
Não gela
refresca
desmancha
e derrete
na boca.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
BRUNA, BRUMA, BRAHMS
BRUMA
BRAHMS
Tudo começou
com o murmúrio
de um piano
numa tarde
breve
de sol
arco-íris
e chuva
Bruna
beijou
as ondas
com seu lábio
doce e leve
de pluma.
Ao longe
um piano
tocava Brahms
e os pés de Bruna
tamborilavam
canções
de espuma.
Antes tímida
a bruma
banhou Bruna
e semeou vertigens
em seu corpo
de mulher
sereia
e menina.
O sol já vai se pôr
e gaivotas
irrequietas
mais um poeta
sonhador
aguardam
a maré subir
e trazer
Bruna
bruma
o amor!
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

Para tudo na vida precisamos ser desafiados, seja nossa razão, coração ou imaginação. O desejo deve, faminto, bater à nossa porta. Disse o filósofo grego, Sócrates, que o amor é o que não temos, e que nos faz falta. Resta definir o que realmente falta em nossas vidas. Adélia Prado, grande poeta brasileira da atualidade, resolve o dilema num verso: “Eu não quero faca nem queijo, eu quero é fome”!
Que fome é essa? De beleza, criação, amor, conhecimento, prazer, emoção! A banda de rock, Os Titãs, fala disso numa música. Primeiro, faz a seguinte pergunta: “você tem fome de quê?” E a resposta vem no desenrolar da música... “A gente não quer só comida... A gente quer...”
Para saciar nossa fome precisamos ultrapassar os limites que nossa cultura nos impõe. Se a ciência sofre, desde Adão e Eva, da “doença da curiosidade”, nós também, em todos os espaços de nossas vidas, precisamos ser tocados por esse vírus. Enquanto, na fronteira da Suíça com a França, os cientistas estão colocando pra funcionar o acelerador de partículas, visando desvendar os segredos da origem do universo, nós, em meio ao tédio, dor, repetição do cotidiano, podemos buscar algo que ultrapasse esses limites. Como? Em arte falamos do belo, do sublime, momentos que cada um pode experimentar do seu jeito. Não há receita, conselho, manual de auto-ajuda... Cada um precisa ver/descobrir a partir de si mesmo.


sexta-feira, 12 de setembro de 2008
O SONHADOR E O MAR
Flagrei-me consultando o mapa do Guia Quatro Rodas, meus olhos desejando conhecer a vasta extensão do litoral do Brasil. Meus sonhos aterrissavam nas praias, caminhavam de pés descalços pela orla, a água lambendo meus dedos...
O sol estava se pondo, e não pude evitar compará-lo com os que vi noutros tempos.
Sei, a primavera traz boas lembranças, o calor, festas, final de ano que se avizinha, tudo se insinua ante meus olhos, nas vitrines, cores do vestuário, braços e pernas já se bronzeando...
Há o apelo para que relaxemos, a mística para conhecermos lugares distantes... Não tendo outra saída, aqui no noroeste do estado, rodeado de soja e banhado pela terra vermelha, recorro ao amigo poema!
__________________________________
O SONHADOR E O MAR
Minhas nóias de consumo
descarrilaram trilhos poéticos
e a primavera fez brotar
velhos sonhos materiais.
Aflições existenciais
foram pro espaço
edifiquei em seu lugar
uma casa perto do mar.
Tijolos brita areia
ferro cimento
planta planos
fui às compras...
Vizinhos passantes
a diretoria do bairro
engenheiros arquitetos
aprovaram a sinceridade
dos meus planos
todos estão sensibilizados
com a bravura dos meus sonhos...
Meus sonhos...
seja o mais breve ano novo
seja agora neste instante
(e cada segundo que passar)
buscam delirantes
o cheiro cor som
sabor do mar...
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
O sol estava se pondo, e não pude evitar compará-lo com os que vi noutros tempos.
Sei, a primavera traz boas lembranças, o calor, festas, final de ano que se avizinha, tudo se insinua ante meus olhos, nas vitrines, cores do vestuário, braços e pernas já se bronzeando...
Há o apelo para que relaxemos, a mística para conhecermos lugares distantes... Não tendo outra saída, aqui no noroeste do estado, rodeado de soja e banhado pela terra vermelha, recorro ao amigo poema!
O SONHADOR E O MAR
Minhas nóias de consumo
descarrilaram trilhos poéticos
e a primavera fez brotar
velhos sonhos materiais.
Aflições existenciais
foram pro espaço
edifiquei em seu lugar
uma casa perto do mar.
Tijolos brita areia
ferro cimento
planta planos
fui às compras...
Vizinhos passantes
a diretoria do bairro
engenheiros arquitetos
aprovaram a sinceridade
dos meus planos
todos estão sensibilizados
com a bravura dos meus sonhos...
Meus sonhos...
seja o mais breve ano novo
seja agora neste instante
(e cada segundo que passar)
buscam delirantes
o cheiro cor som
sabor do mar...
domingo, 24 de agosto de 2008
OLIMPÍADAS NA INFÂNCIA
É uma grande alegria ler um livro para teu filho (de oito anos), e ele saborear e se divertir contigo no rastro das peripécias dos personagens, suas manhas e nóias... Claro, a criança não vai abrir mão das promessas, pouco convictas, que seu pai fez na véspera: disputar olimpíadas, ao estilo das da China, a começar com a competição de judô em cima da cama, com direito a eliminatórias, fases semi-final e final. Tudo devidamente cronometrado e observado pelo “árbitro”. Seu pai sendo punido se, num momento de desvantagem, apelar para as cócegas. Torneio de vôlei na garagem, com três sets de vinte e cinco pontos cada partida. Finalmente queimada, numa competição de, pelo menos, trinta pontos...
Na infância é barbada ganhar/passar o tempo. Ao brincar, nos desvencilhamos do tempo e, de certa maneira, relativizamos o espaço. Pode-se brincar de muita coisa. E há um ganho extra: exercitamos nosso (cada vez mais) preguiçoso corpo.
Mas voltemos à história do livro. Se o corpo ficou exausto com tantas olimpíadas e campeonatos que teu filho te submeteu, espalhar livros pela casa é uma estratégia que pode dar muito certo. Jornais e cds também contribuem para isso. Nos intervalos de uma e outra competição, você diz para teu filho que está com sede, que precisa respirar um pouco... Aí você abre um livro, que tinha sido folheado na noite anterior, que te despertou interesse, antes de você ser vencido pelo sono, etc., etc. Você começa a ler em voz alta. Por via das dúvidas, é bom deixar um copo com água por perto, caso tiver que ler o livro até o fim.
Eis que irrompe o momento mágico. Iniciada a viagem com os personagens, teu filho embarca contigo, páginas e mais páginas... Nessa aventura, você tem mais de uma opção. Podes ler até o fim, ou deixar algumas histórias/capítulos para ler depois, como curiosidade adicional – como fazem as telenovelas. Mas quem disse que você deseja parar? E o menino quer conhecer o autor. As ilustrações, caricaturas, etc. contribuem nessa hora. Você então recorda a tua adolescência, já lia os livros dele – além do mais, ele já era tão importante a ponto de participar de tuas aulas de literatura... E, assim, o autor está pertinho da gente, mesmo sem nos darmos conta.
Para encurtar esta história, meu filho me fez perceber que há um mundo imaginário fantástico que se descortina com os livros, e participar desse mundo não é privilégio apenas da infância... Por isso, obrigado pelos teus livros, e pelas histórias que contas, Moacyr scliar. (O livro aqui citado intitula-se Um país chamado infância, e foi publicado em 1997, pela editora Ática).
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Turma do Teco
Após o Espetáculo haverá um momento de interação, onde a platéia poderá fazer perguntas a respeito da trama teatral.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
TAMANCOS
desses tamancos coloridos...
São pernas de pau
ansiosas
por escalar
o topo do céu...
Desejam subir, subir,
e conquistar o infinito...
Não fechemos os ouvidos
para o ecoar deste grito:
- Voltem, desçam, vooooltem!
Sem vocês, donas
de tamancos esquisitos,
jamais alcançaremos
o topo do amor!
terça-feira, 29 de julho de 2008
Taxi driver
Já fui o “docinho” de muitas beldades, executivas, professoras, gerentes de lojas e bancos, garotas de programa, diaristas. Doci...

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Nada a ver, menino! Baratas, sobreviventes neste planeta há 6 milhões de anos, passeiam pela sala cantarolando um samba do “Demô...
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Garota, nossos destinos têm pernas bambas e percorrem umas trilhas nada paralelas. Veja bem, você não leu Schopenhauer nem Han...