segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Ela parece com todo mundo
Aquela
dos peitos siliconados mais perfeitos da cidade,
e
que brilha feliz no face e instagram,
cruzou
por mim na rua, sem maquiagem e sorriso e pose de encantadora,
e
isso me decepcionou e então eu quis me colocar no seu lugar,
e
passei a odiar essa gente que morre de inveja por ela receber centenas de likes
e brilhar tanto e acima de todas.
Vocês
devem concordar que a competição está cada vez mais acirrada no espaço virtual.
Ainda bem que algumas não levam muito a
sério.
Ela
é normal como todos nós.
Ela
está meio perdida, como meio mundo.
Ela
acerta e erra como qualquer humano.
Ela
não suporta ser acordada pelo despertador,
e
ter o melhor sono arrebentado no meio.
Ela
só vai a todas as festinhas e também se empanturra de doces e salgados
pra
não ser vista como chata.
Mesmo
contrariada, ela dá likes e elogia posts ousados de amigas que ela sabe que são
carentes,
apenas
pra retribuir as gentilezas.
Vocês
devem saber que as fotos com gatos e cachorros é uma recompensa,
depois
de se virar a semana toda com limpeza e carnês e idas e vindas ao pet shop.
Ela
cumpre as obrigações com filhos e sobrinhos e afilhados
e
lava a louça e coloca roupas na máquina
e
segue grupos no watts que compartilham política e gastronomia
e moda e
caçadores de notícias,
de
preferência de tragédias de pessoas que todos conhecem
e
que se pode ou deve compartilhar e comentar "Deus sabe o que faz",
"Deus
vai cuidar disso" e "Nada podemos fazer diante do destino".
Sim,
Ela parece com todo mundo.
(B.
B. Palermo)
domingo, 20 de janeiro de 2019
Essa vidinha sem graça
Aguardo a noite chegar,
como uma criança que
teme voltar pra casa
e sofrer um castigo por
causa de uma travessura qualquer.
Assim,
estou livre de esbarrar num desses chatos,
boa
parte gente conhecida, que leva uma vida reta.
A
vida perfeita desses caras me deixa com dificuldades
pra
compreender o que realmente pensam.
Amam
mais ou fingem amar,
disfarçando
com gentilezas seu ódio aos outros?
Gostam
do que fazem?
Curtem
a rotina diária de canalizar boa parte das energias para manter seu status
e
serem bem-vindos no circo social?
Às
vezes tenho a impressão de que, dado o atual estado de coisas,
o
número de suicídios anda meio baixo.
Mas
não se preocupem.
Estou
sendo simplório.
Boa
parte das coisas que vejo se dá de maneira estrábica.
Tenho
feito exercícios pra combater a miopia.
Não
sou aluno disciplinado.
Muitas
vezes rolo na cama, ao acordar,
sem
encontrar qualquer motivação pra cumprir meus turnos
de
guarda nesse canil.
Não
tenho certeza se sou guarda que observa de fora,
ou
se faço parte da alcateia feroz.
O
que compensa é o tempo pra fazer algumas leituras.
Por
exemplo, li esses dias o livro "Relato de um náufrago",
de
Gabriel García Márquez.
Enquanto
eu fico aqui contando pra todo mundo minha vidinha sem graça,
o
personagem do livro sobreviveu durante dez dias a um naufrágio,
sem
água e comida, num pequeno bote em alto mar.
Esse
cara sim levou a vida no limite
e
herdou boas histórias pra contar.
E,
constato, boas histórias poucos vivem.
Os
mais velhos replicam o mesmo filme
"no
meu tempo"... "no meu tempo era assim...".
Coitados.
Não
percebem que a plateia escasseou.
Seu
cinema e roteiro estão falidos.
(B.
B. Palermo)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
O amigo de um amigo me falou
A
mulherzinha do amigo de meu amigo tem um grande desejo,
e
conta pra todo mundo.
Quer
colocar silicone nos peitos.
Já
fez um preenchimento no bumbum, e está fazendo o maior sucesso.
Ela
e o marido e a filha pré-adolescente sabem que a mãe é a bússola.
Diante
da esposa, nada de bate-boca, nada de disputar território.
A
função do amigo de meu amigo é dizer "sim" e ser o provedor.
Óbvio
que há válvulas de escape, para arejar a relação.
Ambos
dão suas escapadas.
O
sujeito sonha ser palestrante famoso e também editar muitos livros,
alguém
tão bem-sucedido como Mario Sergio Cortela.
Foi
o que ele me falou, esses dias, no bar.
Então
eu disse que sonhava ser um stand up famoso e polêmico,
algo
como um George Carlin.
O
problema é que, enquanto eu sugava cervejas e cervejas,
ele
bebericava coca-cola.
Sua
imaginação não conseguiu me acompanhar no delírio.
(B. B. Palermo)
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
Amor, mais um jogo de palavras?
Para
essas criaturas quase divinas,
bem-sucedidas
em tudo,
o
amor é perfeito,
pouco
importa se muitas vezes não tenha fogo e paixão e corpo.
Cruzei
diversas vezes por esse estranho cidadão.
A
cada dia com seus disfarces e máscaras
e
promessas e desculpas.
Ouço
as criaturas cantarem em verso e prosa seu amor impossível,
tramado
por um jogo de palavras, retas e redondas e quadradas,
claras
ou obscuras, estressadas ou surdas, solitárias ou bem-resolvidas,
bem-mastigadas ou mal-comidas.
Cantam
o amor jogando para o alto tais jogos de palavras,
enquanto
as últimas sempre debocham de seus sonhos idealizados de amor.
(B.
B. Palermo)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2019
Donas do mundo
Contemplo
essas garotas poderosas que passam pela rua.
Olham
pro lado, olham pra cima, olham pra baixo, menos os meus olhos.
Donas
do mundo, eu poderia me dar por vencido.
Assim
que elas passam me viro e mapeio quadris e bumbuns,
paraísos
que os panos não mostram.
-
E daí? - Você me pergunta.
-
Daí que foi um jeito que eu inventei pra suportar a indiferença delas.
(B.
B. Palermo)
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Passarinho engaiolado - Rubem Alves
Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranquila como seguras e tranquilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.
Bem se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; têm sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola o caminho foi curto, através da Ponte dos Suspiros.
Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera os seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e incapaz de abrir a portinha de ferro, lhes traz no bico um galho de veneno. "Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa… Ó filhos, voemos pelo azul!… Comei!"
É certo que a mãe do passarinho nunca lera o poeta, pois o que ela disse ao seu filho foi: "Finalmente minhas orações foram respondidas. Você está seguro, pelo resto de sua vida. Nada há a temer. Não é preciso se preocupar. Acostuma-se. Cante bonito. Agora posso morrer em paz!"
Do seu pequeno espaço, ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; os urubus, nos seus voos tranquilos da fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Os prudentes conselhos maternos não o tranquilizavam Ele queria ser como os outros pássaros, livres… Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.
Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!
Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas aguentariam. Elas não estavam acostumadas.
O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento, um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
— Ei, você! – era uma passarinha. – Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinha de pimentas vermelhas. Deliciosas. Apenas é preciso prestar atenção no gato, que anda por lá… Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento, chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:
— Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar…
sábado, 29 de dezembro de 2018
Parece que algumas coisas não acontecem por acaso
Saindo
do mercado, pensava se o melhor seria dar umas moedas pra aquelas crianças que ali
pediam, filhas de índios Kaigang, ou se havia outra alternativa para dirimir a
miséria desse mundo. Eis que me deparo com uma senhora no meio da rua
movimentada, agarrando um filhote de gato. Minha pretensão de ser um homem melhor
em 2019 me tirou do lugar de espectador. Pedi pro atendente da farmácia em
frente, que assistia à cena, se poderia conseguir uma caixa. Dirigi-me à
senhora, que agora tentava acalmar a gatinha assustada, e vi nos seus olhos
aquele brilho, uma mistura de indignação e gratidão, aquele sentimento
humanitário que muitas pessoas têm.
O
rapaz veio com a caixa, juntaram-se mais duas garotas atendentes, opinaram que
o bichinho estava apavorado e com sede e, na hora, baixou aquela chuva
torrencial. Ficamos debaixo do toldo da farmácia e de novo olhei pra senhora
que agarrou a gatinha no meio da rua e vi que ela, em silêncio, me suplicava
por algo.
-
Está bem. Vou levar o bichinho. Meses atrás envenenaram meu gato, companheiro
de longos anos.
Enquanto
esperava a chuva diminuir, brotaram as velhas dúvidas. Posso ou não posso adotar o
bicho. Como fazer quando viajar? E o apego, e o risco de perder sua companhia,
ante os perigos dessa vida?
Dirijo-me
ao primeiro ponto de táxi. Preocupado com o calor e sufoco do bichinho dentro
daquela caixa, o motorista ligou o ar condicionado. E falou e falou de mais
essa problemática, a dos animais abandonados, além das ruas da cidade
esburacadas. Eu apenas ouvia, e ele estava tão concentrado nas suas teses que,
numa das esquinas, cruzou o sinal vermelho.
A
primeira coisa que me veio foi de uma clínica veterinária perto de minha casa.
Chama-se FELINNE. A gatinha devia ter menos de trinta dias, necessitava de
alguns cuidados, antes de ser adotada.
Abri
a porta da clinica com a caixa no colo e uma garota veio ao meu encontro. Não
sei se o ano todo as pessoas têm esse sentimento humanitário, ou se isso surge à
flor da pele quando se aproxima a virada de ano.
Narrei-lhe
o que acontecera e a garota, formanda em Veterinária, falou-me que a filhote
necessitava de vacinas e, logo, iria ser castrada, pra depois ser colocada pra
adoção. Ato contínuo, disse-me que levaria pra sua casa aquela-abandonada-rejeitada-por-algum-humano.
Não viajaria no feriado porque precisava cuidar de um outro gato seu, que teve
uma fratura no fêmur.
Tratei
de juntar uns trocos pra ajudar na ração e vacinas. Deixei meu número de
telefone pra ser avisado, quando o filhote estivesse em condições de ser
adotado. Ao me despedir, fiquei perplexo, aquele anjo ainda me disse
"Obrigado". Eu é que agradeci, imagina, teremos um mundo melhor se
todos tivermos esse cuidado para com os animais.
É,
tenho certeza de que a filhote-de-felino-abandonada não cruzou o meu caminho por
acaso.
domingo, 23 de dezembro de 2018
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
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