quarta-feira, 21 de outubro de 2015
sábado, 17 de outubro de 2015
Toma que o filho é teu
(escultura de Patricia Piccinini)
Na escrita poético-literária há muito em jogo, além de um simples ato de autoria. O autor sai de cena e permite que o leitor se aproprie, à sua maneira, da narrativa. Creio que foi isto que quis dizer Mario Quintana: "A gente pensa uma coisa, escreve uma outra coisa, e o leitor compreende uma terceira coisa totalmente diferente".
domingo, 11 de outubro de 2015
Nudez nas nuvens
ET - Cara, o que você acha dessa moda adolescente de mostrar o corpo nu na internet? Qual será a próxima moda? Se autoflagelar diante da webcam?
TECO - Não esquenta... A galera tem muita imaginação. Acredita que as fotos evaporam como água e viram nuvem...
ET - Entendinãoentendientendinãoentendi...
(TIRADAS do Teco, o poeta sonhador)
sábado, 10 de outubro de 2015
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
O rato que tinha medo - Millôr Fernandes
Um Rato tinha medo de Gato. Nisso não era diferente dos outros ratos. Pavor, tremor, ânsia, vida incerta. Mas igual a todos outros de sua espécie, o nosso Rato teve, no entanto, um fato diferente em sua vida – encontrou-se com um Mágico(1).
Conversa vai, conversa vem, ele explicou ao Mágico a sua sina e o seu pavor. O Mágico, então, transformou-o exatamente naquilo que ele mais temia e achava mais poderoso sobre a terra – um Gato. O Rato dai em diante, passou a perseguir os outros ratos, mas adquiriu imediatamente um medo horrível de cães. E nisso também, não sendo diferente de todos os outros gatos.
A única diferença foi que tornou a se encontrar com o Mágico. Falou-lhe então do seu novo medo e foi transformado outra vez na coisa que mais temia – um Cão, que pôs-se logo a perseguir os gatos. Mas passou a temer animais maiores: como Leão, Tigre, Onça, Boi, Cavalo, tudo. O Mágico surgiu mais uma vez e resolveu transformá-lo então, num Leão, o mais poderoso dos animais(2). Mas o nosso ratinho, guindado assim a letra O da classe animal, passou, porém, a recear quando ouvia passos de Caçador. Então o Mágico chegou, transformou-o de novo num Rato e disse, alto e bom som:
Moral: Meu filho, quem tem coração de rato, não adianta ser leão”.
Conversa vai, conversa vem, ele explicou ao Mágico a sua sina e o seu pavor. O Mágico, então, transformou-o exatamente naquilo que ele mais temia e achava mais poderoso sobre a terra – um Gato. O Rato dai em diante, passou a perseguir os outros ratos, mas adquiriu imediatamente um medo horrível de cães. E nisso também, não sendo diferente de todos os outros gatos.
A única diferença foi que tornou a se encontrar com o Mágico. Falou-lhe então do seu novo medo e foi transformado outra vez na coisa que mais temia – um Cão, que pôs-se logo a perseguir os gatos. Mas passou a temer animais maiores: como Leão, Tigre, Onça, Boi, Cavalo, tudo. O Mágico surgiu mais uma vez e resolveu transformá-lo então, num Leão, o mais poderoso dos animais(2). Mas o nosso ratinho, guindado assim a letra O da classe animal, passou, porém, a recear quando ouvia passos de Caçador. Então o Mágico chegou, transformou-o de novo num Rato e disse, alto e bom som:
Moral: Meu filho, quem tem coração de rato, não adianta ser leão”.
domingo, 4 de outubro de 2015
O destino (à maneira dos... coreanos) - Millôr Fernandes
Encontraram-se os dois chineses.
— Olá, Shen-Tau, por onde andou?
— Ah, passei seis meses no hospital, Shin-Fon.
— Eh, isso é mau!
— Nada. Isso é bom: casei com uma enfermeira bacaninha.
— Ah, isso é bom!
— Que o que — isso é mau. Ela tem um gênio dos diabos.
— É, isso é mau.
— Não, não, isso é bom: o avô dela deixou uma herança e eu não preciso trabalhar porque ele acha que só eu sei cuidar do gênio dela.
— Oh, oh, isso é que é bom!
— Oh, oh, isso é que é mau! Com o gênio dela, às vezes não me dá um níquel. E como eu não trabalho, não tenho o que comer.
— Xi, isso é mau!
— Engano, isso é bom. Eu estava ficando gordo e mole — vê só, agora, o corpinho com que eu estou.
— É mesmo — isso é bom!
— Que bom! Isso é mau. As pequenas não me deixam e acabei gostando de outra.
— Êpa, isso é mau mesmo.
— Mau nada, isso é bom. Essa outra mora num verdadeiro palácio e me trata como um príncipe.
— Então isso é bom!
— Bom? Isso é mau: o palácio pegou fogo e foi tudo embora.
— Acho que isso é realmente mau!
— Mau nada: isso é bom. O palácio pegou fogo porque minha mulher foi lá brigar com a outra, virou um lampião e as duas morreram num incêndio. Eu fiquei rico e só.
— Isso… é bom… ou é mau, Shen-Tau?
— Isso é muito bom. Shin-Fon.
Moral: Nada fracassa mais do que a vitória, e vice-versa.
FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979. p. 61-2.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Notícias de Marte
Quando ouço as notícias de Marte, olho admirado
pro céu e agradeço aos deuses pela sorte de ainda estar vivo e poder receber as novidades de lá. Invento desculpas, lavo minhas mãos e fujo da responsabilidade de melhorar a porra do nosso planetinha. Aristóteles se equivocou quando disse que sou animal político, dada minha condição de homem racional. Fico excitado com as notícias de que pode haver água em Marte, enquanto uso a mangueira pra ejacular metros e metros do precioso líquido pra limpar minha
calçada.
Jogo roleta russa. Apresso meus dias por aqui, e acredito encontrar a
salvação por lá.
(PENSADAS do Teco, o poeta sonhador)
sábado, 19 de setembro de 2015
Quem vem lá boiando no rio? - Ricardo Azevedo
É um barquinho de papel feito por um menino matando aula?
Uma folha de jornal?
Um baú de recordações?
Uma cédula de identidade?
Uma caixa-preta contendo verdades inexplicáveis?
Uma nota de mil?
Um mero ponto de vista?
Um artefato inútil?
Um manual de instruções?
Uma panaceia?
Anotações filosóficas atiradas ao léu?
Um plano de ação?
Um corpo afogado?
Pílulas anestésicas?
Pedaços picados de uma carta de amor?
Formas abstratas sem qualquer significado?
Mercadoria proibida por lei?
Um diário íntimo?
Um estupefaciente?
Um cheque sem fundo?
O resultado de um exame laboratorial?
Um documento falsificado?
Um brinquedo?
Um plágio?
Uma senha?
Uma sina?
Um cálice de veneno?
Uma prova de autoestima?
Um artigo de fé?
Um holerite?
Um canto de sereia?
Propaganda?
Letras de sangue contaminado por vírus?
A confissão de um crime ou de um sonho?
Uma garrafa trazendo a esperança
última de um náufrago?
Chegou a hora.
É urgente, urgentíssimo.
Torna-se imprescindível descobrir,
de uma vez por todas,
quem vem lá
boiando
nas palavras desse rio.
(Do livro Ninguém sabe o que é um poema).
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
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