terça-feira, 21 de março de 2023

Vem tormenta por aí

 


Ridículo ou engraçado, não sei.

O casal de velhinhos me viu na praia

meio curvado 

(movimentos suspeitos?)

anotando algo num papel. 

Espantaram-se, quando comentei:


ESTOU CAPTANDO IDEIAS NO AR.

VEM TORMENTA POR AÍ!


Pobres criaturas, 

logo partirão. 

Não terão o privilégio 

de cuspir 

pra bem longe

minha literatura. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 14 de março de 2023

Não é preciso tacar fogo na casa

 



Eu poderia estar contemplando a paisagem

pela janela de um avião 

a caminho da ilha de Fernando de Noronha, 

mas aqui estou me digladiando com a senhoria do cafofo. 

Tento vários disfarces pra entrar e sair 

com os latões de ceva.

Ela sabe tudo, 

é uma caninana cheia de truques. 

Me distraio mirando sua filha, 

uma baixinha com pernas bem torneadas. 

Ah, que pena, pouco tem ido à praia, poxa, o sol precisa retocar o seu bronzeado!

Tento manter relações amistosas com a senhoria.

Elogio as plantas "milagrosas" que ela cultiva junto ao prédio, 

próximas das janelas do cafofo.

À tardinha ela embriaga as pobrezinhas com uma mangueira,

e aí está um bom motivo pra correr pro boteco. 

Falando em plantas, o que me vem 

é o chá de Boldo,

o garotinho dá uns golpes abaixo da linha de cintura 

quase que diários 

na minha ressaca.

Tentei ser um bom homem,

nada de brigas com a dona,

instrui as minhocas que cavoucam na cabeça 

a focarem nas pernas tentadoras de sua filha.

Hoje o clima está ameno,

a senhoria prometeu me ensinar a apanhar mariscos na praia 

e preparar deliciosos pastéis, 

que ela jura serem tudo de bom.

Rapaziada, se me permitem um conselho,

nunca batam de frente com essas poderosas. 

Negociem, negociem...

Avancem 2 passos e recuem pelo menos 1.

Acredito que não é preciso 

tacar fogo na casa 

pra se livrar do cupim.


(B. B. Palermo)

quinta-feira, 9 de março de 2023

Não me chames em cima da hora



Meu bem, até parece que tu 

não delirou na adolescência, 

nem se dilacerou com algumas 

paixões. 

Até parece que tu não leu 

O Pequeno Príncipe, 

não copiou em letras de forma 

nos cadernos de escola 

as frases ditas pela raposa ao garoto, 

o personagem do Exupéry. 

Se queres me cativar, 

não telefone em cima da hora,

não estarei preparado, 

serei mais um dos tantos 

cadelões 

errando pelo mundo. 

Sem os dias agendados

à espera de tua doce mensagem,

estarei embriagado 

contando histórias engraçadas 

porque absurdas

pra outros bebados 

naquele bar de esquina,

voltado para o sol 

e o mar.

Baby, o amor quer 

ser fisgado 

por rituais,

até acontecer o milagre:

um sentir saudade 

do outro. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 7 de março de 2023

Lar

 


Foram 9 horas num ônibus,

e no caminho remoí o prazer

e o cansaço dos reencontros 

com amigos,

e também  as novidades,

fofocas e perplexidades.


Flanando por uma avenida 

do Texas

em direção ao lar

e ao mar,

respiro fundo 

e agarro a vida,

as alegrias e tristezas 

que terei 

pela frente.


Passei diante do cantinho 

onde se instalava o Arthur,

um amigo morador de rua,

e experimentei estranha dor -

não havia mais um lar.


Perdas são tsunamis,

e duvido que alguém esteja 

preparado.


Certo dia seu Arthur 

prometeu  

contar sua história

e por que ainda insiste 

que seu lar

sejam as ruas.


(B. B. Palermo)

quarta-feira, 1 de março de 2023

O intelectual orgânico

 


- Beiço, como minha literatura 

não rende likes,

pensei compartilhar vídeos 

no Tiktok

botando a mão na massa.

Sei lá, vou passar pra galera 

a imagem de que um intelectual 

de primeiríssima 

também deve sujar 

as mãos

nas batalhas 

do dia a dia. 


- Cadelão,  pelo visto 

tu não tem a mínima ideia 

de que existe uma linha 

que separa 

o ser ridículo 

do ser 

sublime.


(B. B. Palermo)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Prometeu



Concordo, garota, pareço 

com os loucos que brecam 

seus velhos  carros,

enquanto os cães desfilam.

Não fazemos ideia 

de que percorremos as mesmas 

rodovias,

e assim rola minha ligação contigo,

pessoinha,

que PROMETEU devolver o fogo.

Já passei por muitas, Lau,

mulheres perfeitas jogando 

na minha cara:

FRACASSADO!

Ninguém quer ouvir a minha versão. 

Mãos tremendo 

no início da manhã. 

É o álcool, são as drogas?

Uma ansiedade, 

como se embarcasse pra Marte,

numa viagem sem volta...

Lembra quando disse curtir 

Renato Godá?

Meu bem, os sonhos envelhecem,

certezas vão embora,

mas eu faço qualquer coisa,

salto num paraquedas 

e mergulho 

até o centro da terra

pra ficar 

com você!


(B. B. Palermo)

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Cafajeste

 


Garotas maduras 

miram minha face 

e abatem alguém 

que elas imaginam 

ter muitas mulheres.

Elas têm tanto medo 

de entrar numa roubada,

(de novo?)

que visualizam meu corpo 

(fantasma ou assombração?)

como se fosse um Mel Gibson, 

Brad Pitt ou James Bond.

Um sujeito que, 

além de gostosão, 

é um verdadeiro 

Cafajeste. 


(B. B. Palermo)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

7ceva ou 12ceva

 


Novo lar.

Pensei estar livre

dos fantasmas kafkianos.

Aconteceu de madrugada, 

ao acender a luz do banheiro. 

Ela veio em minha direção, atordoada, 

suas perguntas eram as minhas,

uma bobajada, talvez -

Deus, amor, bem, mal, sexo, sexo, sexo.

A barata e eu, repletos de dilemas.

Quem sou?

Por que devo existir?

Devo matar primeiro papai,

Deus,

o patrão

ou a barata?

Sugara na véspera 7ceva ou 12ceva?

Interrogações 

interrogações 

interrogações:

quantas chineladas devo dar na bichinha?

De quantas chinelagens necessito 

para estar à altura

dos meus irmãos?


(B. B. Palermo)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Tracy Chapman

 

Tracy Chapman 


se estiver embriagado 

estarei sensível 

e tremendamente 

apaixonado 

por você. 

Não ligue

eu não sei inglês direito, 

longe disso. 

Bebaço, 

sou verdadeiro, 

e me amarro em seu cabelo

e lábios 

e versos

e voz.

Pena, Tracy,

você nunca saberá. 

Embora dependente do tradutor, 

sou sensível o suficiente 

pra ser tocado

e me amarrar 

em tua alma. 


(B. B. Palermo)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O poeta e seus clichês



Então ele quis me impressionar 

com sua veia poética, o Zé. 

"Hoje eu vi Rosinha 

onde ela anda, será?

Vem, vem, Rosinha, 

logo você fode o meu lar".

Não suportei o troço. 

- Pô, Zé, isso é um baita clichê!

Aí ele ensaiou outro verso, 

aquelas rimas fáceis 

que vocês conhecem.

- Assim não, Zé!

Rapaz, tu desmonta a poesia,

o M. Quintana vai se revirar na tumba

e pedir pra ser expulso da Casa de Cultura. 


Deixei a poesia de lado 

e falei do cultivo das PANCs.

Ora, ora, sou especialista 

em Ora-pro-nobis. 

Zé aproveitou o embalo, e falou:

- Bah, cara, tu mete na cachaça, 

faz como se fosse um licor,

e salva a humanidade 

de seu problemas 

gastrintestinais!


Apostando na potência 

de minha crítica literária, 

o Zé me alcançou 

um manuscrito seu,

de ontem de noite.

Caralho, ao chegar no final do texto 

eu senti Baudelaire. 


BICHO, BAU-DE-LAI-RE, BICHO!


(B. B. Palermo)

Mariscos



A poucos metros do mar

sinto rebeliões

invisíveis. 

Bolas, cadeiras, guarda-sóis, 

crianças e suas ferramentas 

de plástico, 

buracos enormes na areia

que parecem obras de arte,

mães com seus baldes

aguardam a chegada 

e o recuo das ondas 

pra arrancarem da areia

graúdos mariscos, 

é dia de pastéis 

e de ingerir menos refris

e mais água com gás 

e cerveja se houver

queima de estoque. 

O mar,

em sua força

e natureza angelical 

e durável,

vai roncar pela

madrugada 

enquanto o nosso 

sagrado 

ou perturbado 

sono 

acontece. 


(B. B. Palermo)

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...